quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O MELHOR COLÉGIO DA BAHIA

Quando foi requisitado pela tia e madrinha para trabalhar como ajudante de porteiro no colégio de gente rica, classe alta na Orla de Salvador, Dedé tinha apenas quinze anos. Maria Angélica, a tia madrinha, morava na capital baiana há dez anos e muito amava o sobrinho e afilhado. O viu nascer, melhor, ajudou o agora rapaz a vir ao mundo. Sua irmã, mãe de Dedé, morreu de parto. A criança ficara sozinha e nos primeiros cinco anos Maria Angélica cuidou como se fosse seu filho. No entanto assim que o pequeno ficou mais esperto, a tia contou-lhe toda a verdade. Dedé sabia ler e escrever, não tinha, entretanto base gramatical, separava sujeito de predicado e comia e acrescentava letras às palavras quando não existia, nem uma coisa nem outra. A intenção de Maria Angélica era colocá-lo entre os estudantes daquele grande colégio onde ela era secretária do diretor. Mas a idade avançada de Dedé não permitia que ele se misturasse entre os alunos de quinta série, esses na faixa de onze e se muito doze anos. Disse-lhe o diretor que a presença dele na sala de aula levaria constrangimento aos mais novos e a ele mesmo. Comprometeu-se o próprio diretor a tomar-lhe a lição três vezes por semana, para isso Dedé teria quatro horas de aulas, divididas em duas, às segundas e aos sábados.

A função que cabia ao garoto era simplesmente prestar a atenção nos crachás dos estudantes quando se adentravam no estabelecimento educacional. Não era permitido o acesso as dependências da escola sem o crachá e vez por outra havia esquecimento e troca do documento entre os colegas. Isso não era permitido, Dedé então teria que ficar de olho na foto e em quem carregava a insígnia diferencial no peito. O porteiro titular era o senhor Sílvio, a quem os alunos chamavam de “Aranha”. Já com cinquenta e cinco de idade e com a aposentadoria a coçar seu pensamento, Aranha não enxergava direito. Do lado de fora da escola, ficava Lulinha das coxinhas. Vendia coxinhas de galinha caseira. Lulinha vendia aos estudantes, e só fiava para depois cobrar sua mercadoria aos ricos efetivamente. Do outro lado, Alemão, era um com a cara vermelha. Provavelmente do sol, pois andava de um colégio a outro, havia três nesse pedaço, vendendo picolés. Os outros meninos que estudavam em colégios públicos e eram pobres, rodeavam os colégios de ricos e criavam rixas de todo o tipo. Jogavam entre si, os pobres e os ricos. Havia em algumas modalidades vantagens distribuídas. Por exemplo havia um menino pobre que nunca perdera uma só partida de buraco de gude. Era um negrinho mirrado e vivaz. Saia sempre com o dobro ou triplo das gudes que levava. Por outro lado, numa sala aberta à comunidade, havia jogos eletrônicos e os meninos ricos sempre levavam a melhor, evidentemente pela destreza e comodidade de ter em suas próprias casas aqueles brinquedos plásticos. Todas as segundas a algaravia do futebol tomava conta na entrada e na saída das aulas. Todos, pobres e ricos discutindo futebol. Uma outra turma recolhia-se mais ao canto sob a grande copa de uma árvore. Eram diferentes e conversavam como adultos que não eram.

Aranha comentou com Dedé sobre um professor que todos respeitavam ou tinham medo, não sabia ao certo. Dedé estava ali desde o começo do ano e já durante as provas da terceira unidade tinha e fazia amizade com todos. Professores, estudantes, as moças da cantina, os rapazes da limpeza, e claro, seus colegas porteiros. Além dos meninos pobres que sonhavam estudar naquele colégio, mas não passavam do portão do grande estacionamento que ficava na frente da entrada principal daquele colégio de ricos. Ultimamente Dedé havia feito uma nova amizade. Conhecera um professor de Escrita Criativa do colégio público onde os meninos pobres estudavam. Esse professor pleiteou uma vaga no colégio dos ricos e conheceram-se na ante sala do diretor. O professor não logrou êxito com a vaga, mas com a amizade feita também passou a ajudar Dedé em suas lições semanais. O resultado desse empenho mútuo agradou muito ao diretor do colégio dos ricos que assediava descaradamente Maria Angélica a tia madrinha de Dedé.

Às vezes, Lulinha da coxinha ficava impedido de trabalhar, cuidava de todos em sua casa inclusive a mãe que sofria de labirintite. Quando Dona Elvira sofria crises do labirinto, Lulinha ficava em casa e o irmão mais novo do vendedor de quitute, Fábio, de treze anos, era quem se apresentava à porta do colégio de ricos para vender. Fábio deixava de ir à escola dos pobres para venderas coxinhas de galinha que Dona Elvira ensinara a Carmem, irmã de Lulinha e de Fábio a fazer. Fábio fez uma amizade perene e sincera com Adriano da sexta série e doze anos. Filho de um deputado federal eleito pelo voto dos mais pobres nas últimas eleições em Salvador. O pai de Adriano foi quem prometeu tickets no valor de uma cesta básica aos bairros mais carentes, digamos assim, de Salvador. Entre eles; o subúrbio ferroviário, São Caetano, Fazenda Grande, Pau Miúdo, Caixa D’agua, Cajazeiras, Bairro da Paz, Calabetão, Palestina e Cosme de Farias. O pai de Adriano só perdeu em votos para o bisneto de um ex-grande político que governou a cidade da Bahia por quatro décadas. O pai de Adriano era do partido de oposição ao bisneto. Há quem diga que houve conchavos e tramóia política. Ninguém desmente essas palavras.

O professor que foi reprovado no colégio dos ricos e passou a ser mestre oculto de Dedé, tornou-se militante de uma frente anarco-comunista. Difícil foi explicar como tornar-se ao mesmo tempo anarquista e comunista. Mas o professor de Escrita Criativa foi um dos mentores daquele movimento. Recrutou colegas no colégio público, uma boa parte aderiu, pois moravam em bairros pobres e viam constantemente e in loco a condição que as pessoas viviam e o que lhes eram oferecido. Os professores do colégio do diretor que a cada dia intensificava o assédio a Maria Angélica, recuaram e foram tachados de pelegos. No momento da movimentação política e convocação dos docentes desse colégio, a zoada e balbúrdia que os professores da anarquia comunista faziam na orla de Salvador, onde predomina a classe média e alta, era impetuosa, frenética e violenta, lá em cima na sala do diretor, Maria Angélica sofria o ataque decisivo “Vai dar ou não vai? Se não, arruma suas trouxas, as suas e as de seu sobrinho perebento”. O diretor encaixou até o último pelo da virilha. Curioso é que nos momentos paralelos e que se seguiram à manifestação dos educadores por melhorias e até segurança, ocorria numa sala de aula do colégio dos ricos um sério incidente. O professor que Aranha comentara com Dedé sobre sua sisudez e seriedade ao conduzir seu trabalho foi humilhado e agredido com uma cadeirada por um aluno da oitava série, filho de um desembargador. Dissera o agressor que aquele trabalhador era simplesmente seu empregado e por isso ele teria que sucumbir às vontades e desejos dele, o pequeno patrão. Todo esse aparato lingüístico foi emitido na sala do diretor, depois dele depositar em Maria Angélica seu caldo viscoso. O empregado que não teve apoio do patrão maior foi encaminhado a uma clínica com ferimentos na cabeça e com a promessa do diretor em rever sua posição naquele unidade educativa, provavelmente ele não voltaria a exercer sua profissão, conseguida com sofreguidão e avidez em colaborar na transformação da sociedade. De fato os papéis estão transformados, foi o que lhe dissera o médico enquanto dava-lhe oito pontos na cabeça.

Do lado de fora, no mesmo dia e instantes antes ou depois do ocorrido com o professor empregado, a turminha que conversava como adultos e escondiam-se do sol sob a copa das árvores, passava de mão em mão e de boca em boca o cigarro que cheirava a mato queimado. Havia quatro ou cinco do colégio particular, dois intrusos pobres com a farda rota e um estudante de Publicidade, Propaganda e Marketing de uma faculdade paga. Esse um pouco mais velho, era exaluno da casa e virava mexia estava embaixo daquela árvore curtindo o ventinho e a lerdeza da viagem que lhe tomava depois das baforadas. Em rapidez, os fumantes começaram a discutir entre si. Soube-se então que três dos ricos esbofetearam o rapaz com a farda rota e lhe tomaram o que restava no bolso para pagar os quatro tragos que dera. O que havia no bolso eram uma borracha velha, um toco de lápis e um saquinho de amendoim. O outro que o acompanhava na empreitada ousada de misturar-se aos bons, prometeu que no dia seguinte distribuiria o geladinho que o irmão mais novo vendia para ajudar em casa e também para ele mesmo, o mais novo, comprar um caderno e um lápis. Safou-se, mas levou dentro de si a ameaça de voltar e cumprir o dito. Naquele instante ele pensou que voltaria, mas voltaria com a arma do amigo e vizinho Rubi para dar uma lição àqueles filhos da puta filhinhos de papai. Decidiu fazer como Rubi, em vez de usar, passaria a vender também.

O vento sopra a vida tão naturalmente que os fatos nos furtam e tudo se apresenta corriqueiramente aos nossos olhos. No entanto o ser humano é muito mais do que uma simples visão, é impregnado de significados. Fábio vendia as coxinhas que a mãe fazia e cobrava da mesma forma que o irmão mais velho Lulinha. Sabia quem comprava fiado e a esses o negociante de coxinhas, seja o mais velho ou o mais novo, sempre avivava a memória. Adriano e Fábio conversavam e riam muito. Adriano não entendia, apesar de desconfiar, o motivo pelo qual Fábio deixava de ir à escola para trabalhar. Constantemente perguntava ao pai deputado que respondia “a vida é assim mesmo, meu filho, uns são beneficiados e outros não”. Naquele dia comum e normal como todos os outros, cheio de novidades repetitivas, Fábio descansou a assadeira com as coxinhas em cima do muro que dá entrada para o grande estacionamento da escola particular. Havia dito a Adriano que esperava Eduardo, um dos que se escorava sob a copa da árvore. Eduardo não participou daquela negociação furtiva que os amigos tiveram com os dois gaiatos pobres. No entanto, estava em baixo da marquise da capela da escola namorando a filha de um famoso arquiteto. Prometeu a menina uma coxinha para atenuar a fome enquanto aula não terminasse de fato, estavam no intervalo e uma boa parte da turma era liberada para lanchar do lado de fora, pois a cantina era gerenciada por pretos imundos. Era o que Eduardo e sua turma sempre repetiam nos corredores livres da escola particular. Fábio cobrou a Eduardo as quatro coxinhas que ele devia desde a semana anterior. Eduardo fez bico e renovou o pedido “quero mais duas, neguinho”. Fábio disse que não poderia vender enquanto ele não pagasse, eram ordens da irmã Carmem e do irmão Lulinha. Eduardo transformou-se e respirava ofegante. Falou friamente ao neguinho Fábio: ”quero mais duas neguinho”. Fábio recusou-se a vender. Adriano reforçou a postura do amigo. Eduardo investiu contra Fábio, tinha algo luminoso na mão. Adriano tomou a frente e viu a barriga sangrar. Eduardo tomou à força a assadeira e com as mãos de sangue levou duas coxinhas. Um para ele e a outra para a namorada que não reclamou e comeu rindo dos dois pequenos. Fábio desesperado socorreu Adriano, correu e chamou Dedé. Dedé chamou Maria Angélica que chamou o diretor. Este se apavorou quando viu de quem se tratava e o levou imediatamente ao hospital dando ordens aos policiais da ronda que retirassem todos os ambulantes ao redor da escola “o neguinho das coxinhas agrediu meu aluno, tome providências com ele”.

O estudante de Publicidade da faculdade particular, tratou de fotografar os dois episódios, era, portanto onde havia provas cabais contra os alunos ricos e delinquentes. Propositalmente provocou a ira dos estudantes envolvidos. Extorquiu dinheiro dos camaradas. O deputado fora de si, o que é perfeitamente compreensível, disse em voz alta na porta da melhor escola da Bahia <em>“paga-se caro para uma educação fraudulenta, paga-se caro para viver dignamente, paga-se caro para ter quem pense por mim e paga-se caro para ver meu filho esfaqueado por um moleque de rua, esfomeado que não deveria ter nascido... Tudo aqui na Bahia é um absurdo...”, palavras do deputado.

Dedé olhava uma moça distraidamente, ela fez careta e cara de nojo para o ajudante de porteiro. Era Zélia, aluna bolsista, sobrinha de seu chefe na portaria. “Não se enxerga, não? Sou aluna, viu?”. Aquilo deixou Aranha morto de vergonha. Pediu desculpas a Dedé e repreendeu a menina longe dos olhos das coleguinhas. Zélia todos os dias contava às amiguinhas o privilégio de ser sobrinha do diretor. “Ele é um amor comigo, manda me chamar na sala dele e diz que vai me transformar na mulher mais bela da Bahia”. Ele realmente diz isso e, claro, sabemos que o diretor não é o verdadeiro tio de Zélia. Tem quatorze anos e senta todos os dias no colo do diretor antes de ir para sala de manhã cedinho.

Maria Angélica sentindo-se repugnante e cheia de asco chorava no banheiro. Só se entregara a um homem uma vez em trinta e dois anos de vida. Havia dois meses que namorava um peão de plataforma. Ele estava embarcado e chegaria no fim de semana. Ela não se sentia mais mulher do peão. Não era justo. Não era normal. Maria Angélica esfregava a boca e cuspia com violência, não imaginava que chegasse a tanto. Saíra uma vez com o diretor para almoçar juntos, a partir desse dia os assédios começaram. Depois de quatro anos como secretária. Verdade que como secretária dele só dez meses, antes era o avô quem tomava conta da escola e não era assim, como agora. O avô era disciplinador, honesto e bom. Maria Angélica quis pôr fim a sua vida.
Fábio foi detido e levado para a Delegacia de repressão ao menor infrator. Adriano suspirava. Teve sorte, era um menino saudável e forte, mas provavelmente teria que fazer hemodiálise no futuro, pois perdera um rim. O pai deputado pensou com ele mesmo “ o dinheiro que pagará a hemodiálise do meu filho será o mesmo que eu daria para as cestas básicas prometidas às famílias de monstros como o que deixou meu filho sem um órgão, que morram de fome os miseráveis”.

Dois dias depois a manchete do maior jornal da Bahia foi que um traficante de nome Rubi matara a sangue frio três jovens da alta sociedade baiana. O delinqüente juvenil estava acompanhado de dois outros, um deles gritava em fúria “minha borracha, meu lápis e meu saquinho de amendoim, desgraçados...”. Nesse mesmo instante Maria Angélica servia novamente ao diretor e com uma tesoura repetiu no melhor estilo de Grace Kelly em “Disque M Para Matar” o ato derradeiro. Dedé corria assustado para salvar os estudantes baleados sem êxito, só Aranha viu a fuga de Maria Angélica pela porta lateral da escola. Aranha sabia de tudo e automaticamente em conivência fez vistas grossas para a fugidia. Assim ele sabia que, sua sobrinha estava livre do iminente favor...


Carlos Vilarinho 24/08/09

domingo, 26 de julho de 2009

DESPEDIDA DE MIM

Quando me olhei de relance, no espelho da janela do quarto, vi a vida que passou por mim...
Deixando suas marcas
Cravando suas estacas
Na minha pele
Nos meus olhos
Na curva do meu sorriso
Vi a menina de doze anos me acenando de dentro de mim...
No reflexo do meu rosto no espelho, vi minhas idades passearem em frente a mim...
No espelhar da minha imagem de hoje, revi lances de quem fui...
Tentei fixar a visão, mas tudo flutuou e recolheu-se como uma ostra dentro da concha.
Prendi a respiração por um minuto, mas a imagem guardou-se dentro de uma parte funda em mim...
A saudade agora molha meu rosto, antes de menina e agora de mulher...
Muitos dizem que escondo minha verdadeira idade,
Mas tudo que vivi está misturado dentro de mim
E na gangorra dos anos, passo e repasso a lição de tudo que aprendi, de tudo que vivi, de tudo que jamais esqueci...
Mas as dúvidas persistem:
Sou eu mesma fora de mim, quando não me reconheço dentro de mim?
Sou inteira dentro de mim, quando só vejo por fora, partes de mim?
Sou apenas feita de papéis: de filha, irmã, namorada, amiga, amante, mulher, mãe...
Onde estou eu? Para aonde vou eu? Quem sou eu?
Só sei que quando vejo minha imagem no espelho, já não me reconheço mais no presente, absurdamente me revejo em tudo que já fui e sinto-me despedida de mim.


Alba Bagdeve
19/04/08.

terça-feira, 21 de julho de 2009

TRÊS TIROS NUMA HISTÓRIA DE AMOR

...Nesses dias com Vadinho, na casa dele ou em Arembepe, quando inventei uma viagem relâmpago à casa de parentes para ficar ao lado do homem que me amava e me pegava com firmeza, pensei muito em sumir da vida de Lage...
_Filha de Yansã tem a coragem no sangue, dona Harmonia.
_Oi, Joaninha, nem reparei você aí... Estava aqui tão dentro dos meus pensamentos...
_Deu pra ouvir.
_O que?
_O que a senhora pensava...
_Você ouviu o que eu estava pensando?
_Mais ou menos, é como alguém me soprasse no ouvido suas palavras... O que a gente pensa fica no ar, podendo ou não acontecer, depende de nós mesmos.
_Você quer dizer que o que eu estava pensando pode concretizar, não é isso?
Joaninha balançou a cabeça afirmando.
_Isso eu sei também, Joaninha, acontece que as coisas e os fatos que nos circundam não dependem só de nós...
_Peça a sua mãe, que ela vai atender a senhora.
_Minha mãe?
_Yansã.
_Já me disseram isso, mas... Não sei...
De fato já ouvira aquilo. Havia uma senhora que vendia comida baiana, eu sempre fui até lá às sextas-feiras. Era um restaurante bem humilde, perto do meu trabalho. Sempre fui sozinha, um dia ela me disse que eu tinha nascido filha das águas, mas que a guerreira dos trovões me tomou de roldão. Quando me sentava para fazer o meu pedido, ela mesma vinha me atender.
_Eparrei, Oyá, Yansã dos trovões...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

CRIME OCULTO - mais uma palhinha

Havia pensado anteriormente numa história de corno, mas não havia delegado, o traído era um trabalhador simples, do povo. Cheguei a construir o parágrafo, mas Ana Rosa me fez perder. Prosaicas as duas ideias, no entanto é o que se vê em todo canto: traições conjugais. Ainda mais na Bahia que o povo vive se esfregando, dançando, sambando. A crítica não aplaudirá, mas o senso comum, sim. Ora,se todos vivem com os olhos pregados em reality shows, em novelas sem apuro filosófico ou cultural nenhum, se todos querem mesmo é comentar ou fazer piadas sobre o outro. Rir do outro sem se melhorar. Não criar empatia. Eu também tenho direito de expressar o que sinto e vejo, afinal sou escritor, portanto meu conto é totalmente condizente com o leitor contemporâneo. O diabo é que as editoras só pensam em dinheiro, tenho que escrever algo que apele também para o comercial. O leitor gosta de sexo ou de novelinhas piegas de amor. Nada de Nietzsche ou psicologia analítica Junguiana...

domingo, 12 de julho de 2009

CONVERSA SEM SENTIDO PRA DEDÉU

para Nélio, Elsa e Patrícia (amigos da velha guarda)


Palavra, frase, morfema.
Ideia, pensamento, papel.
Período, parágrafo, fonema.
Fantasia, credo, labéu.
Sufoco, suor, emblema.
Grafia, desenho, céu.
Sapiência, ignorância, problema.
Natureza, off set ao léu.
Texto, significante/significado, teorema.
Conto, crônica, cordel.
Antônimo, sinônimo, clara ou gema?
Conversa sem sentido pra dedéu.
Índio, Alencar, Iracema.
Mais vale o tabaréu,
Que não liga para tema.
Ou melhor, ser pinel,
Leva a vida sem lema.
Impressão, imagem, papel.
Língua reforma sem trema.
Leitura, cor, pincel.
Aaah, mas que dilema!
Ler as revistas Marvel,
Ou parar de escrever o poema...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Olá professor!
Meu nome é Mandrágora, tenho 30 anos, sou dona de casa, por opção própria, tenho dois filhos, um menino de 15 anos e uma menina de 13 anos, adoro ler, cheguei a prestar vestibular para psicologia, mas precisei desistir do curso, pois precisava cuidar da minha família. Pesquisei os blogs de escritores baianos e encontrei o seu, achei interessante a forma como o senhor escreve, parece estar conversando com os leitores, é bem íntimo, isso é bom. Gostaria se fosse possível que o senhor abrisse um espaço para eu prestar uma homenagem ao Michael Jackson, cresci ouvindo suas canções, o meu filho mais velho também o adora. Se achar conveniente segue meu texto para sua apreciação. Grata por sua atenção
.


DESENCONTRO DE SI

Michael Jackson não morrerá jamais, enquanto eternizado como mito pop pelos fãs, o menino sôfrego de carinho, de amor, numa busca frenética por aceitação, esse já estava morto e enterrado por doses maciças de química e cirurgias plásticas... Numa entrevista ele disse: sou uma pessoa solitária.
E talvez por isso, o desenfrear de artifícios para compor a aparência idealizada como modelo perfeito, que despertasse aprovação, do outro mais próximo admirado, da família, da mídia, do mundo.
Pensando nisso, algumas questões afloram pela incoerência de situações que remetem a um processo insidioso.
O que faz uma pessoa falar minuto após minuto ao telefone, emendando um assunto no outro?
Sentar pra teclar no PC com 05 internautas de uma vez só?
Assistir as novelas sem perder um capítulo?
Acompanhar os realities shows?
Teclar com um desconhecido de apelido charmoso e cara sedutora que desemboca delírios e fantasias obscenas?
Enquanto alguém está na sala ou dorme no quarto?
O que tem em comum tudo isso?
Seria ansiedade, fuga da rotina, medo da solidão, incapacidade de viver relações de troca com alguém real, sem estratégias mirabolantes que exijam mentiras de tamanhos variados do PP ao GG ou EXG, dificuldade de auto-aceitação, ou tudo isso junto e muito mais?
É certo que o apaixonar-se tem sua dose de fantasia, pois se não fosse assim ninguém suportaria chegar perto, a idealização do amado é quase isso: SUPORTE para o que vem depois que é o conhecimento de si mesmo através do encontro revelador com o outro...
E às vezes não achamos nada de interessante em nós mesmos... A fruta do pomar vizinho é mais saborosa do que a do nosso pomar... É a curiosidade pelo que está além das nossas fronteiras que nos faz querer pular muros, desafiar armadilhas, transgredir, esgarçar o tecido da relação com aquele que nos fez enxergar o nosso verdadeiro tamanho, a nossa face sem disfarce, sem retoque ou maquiagem.
E assim nos distanciamos do outro que se tornou o atestado vivo de quem fomos, somos e que poderemos ser... E corremos o risco de nos perdemos do nosso eu, da nossa história, dos fios que nos ligam a nossa essência.
E em algum momento percebemos que mesmo tendo dinheiro não compramos compainha, que as válvulas de escape só nos levam a um beco sem saída onde já não nos reconhecemos e não podemos nos encontrar.

Seguem o site e a letra para acompanhar essa bela canção composta pelo astro Michael Jackson que registra bem o seu sentimento e o de pessoas sensíveis como ele.



http://www.youtube.com/watch?v=o8rYl6K2STc

YOU ARE NOT ALONE


Another day has gone, I'm still all alone
How could this be? You're not here with me
You never said good-bye, someone tell me why
Did you have to go, and leave my world so cold?

1-Everyday I sit and ask myself
How did love slip away?
Something whispers in my ear and says

2-That you are not alone
I am here with you
Though you're far away
I am here to stay

3-You are not alone
I am here with you
Though we're far apart
You're always in my heart
You are not alone



All alone, why, oh...



Just the other night, I thought I heard you cry
Asking me to come, and hold you in my arms
I can hear your prayers, your burdens I will bear
But first I need your hand, then forever can begin
(rpt 1, 2, 3)

Just the other night, I thought I heard you cry
Asking me to come, and hold you in my arms
I can hear your prayers, your burdens I will bear
But first I need your hand, then forever can begin
(rpt 1, 2, 3)



Oh...whisper three words and I'll come runnin'
Fly...and girl you know that I'll be there
I'll be there
(rpt 2, 3, 2, 3)



Not alone
You are not alone, you are not alone...

You just reach for me girl
In the morning in the evening
You're not alone, not alone
You and me, not alone, oh, together, together...


Pedido atendido, Mandrágora.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

CRIME OCULTO

ÚLTIMO APERITIVO

Todos queriam que eu me tornasse, ou que tivesse consciência de que era um homem-penintente. Ora, mas que diabos! Eu estava estimando-me a mim próprio. Vivendo as emoções que um homem teria que viver até a sua morte. Será que depois de tudo que fiz, teria que viver sob clausura familiar? É muito cruel para um ser imaginativo e cheios de emoções e sensações que afloravam em mim por instantes e em cada momento. Soube dos comentários, das chacotas e desdéns. O vagabundo do Bartolomeu participou. Tudo isso a velha dos jornais me disse depois. Muitas vezes é assim que nasce um criminoso. Li uma vez no jornal um crime passional que o camarada não suportava mais a mulher. Mas foi uma coisa estranha, pois a mulher dava-lhe provas do seu amor todos os dias, mesmo sabendo das amantes que o indivíduo mantinha na rua. Pois ele não aguentou o amor. Foi sufocado pela onda da benquerença. Envenenou o leite que a mulher bebia todos os dias antes de dormir. Pôs o veneno e saiu, quando voltou ela estava morta. Fez tudo para parecer suicídio, mas a perícia descobriu tudo. Ironia da vida, o indivíduo é amado pela mulher que faz vistas grossas para as suas amantes. Dá-lhe tudo de bom e ele a mata por não admitir o amor sincero, a preocupação, a sinceridade e até cumplicidade nas falhas. Falha dele, do assassino. No entanto esse caso ficou nos anais do Direito pelo argumento que o advogado de defesa usou. Disse o bacharel que seu cliente era simplesmente um homem avesso às emoções. Falou ainda durante sua oratória que antes do casamento, o homem tinha avisado à mulher que ela não desse provas de amor nem shows de ciúmes apaixonados. Disse-lhe o marido que para ele bastava a cordialidade e franqueza que vem do coração, ele não era desses que precisavam de tanta generosidade feminina. E agora o desfecho, o homem foi absolvido e considerado pelo júri como um bom assassino. Ora, se existe um bom assassino, eu seria um assassino santo, ou um santo assassino, se matasse todos os fofoqueiros de plantão num bar...


CRIME OCULTO, alguem tem ideia do que seja?

sábado, 27 de junho de 2009

TRÊS TIROS NUMA HISTÓRIA DE AMOR

_Lá pelo começo do século XIX, houve muitas rebeliões de escravos querendo a abolição, a mais importante delas foi em 1835, uma semana depois da festa do Bonfim (...) sim, Joãozinho, já existia festa do Bonfim, para ser preciso, Joaninha, era festa de Nossa Senhora da Guia, com a vigília sendo feita na igreja do Bonfim mesmo, só que nada deu certo...
_Por que, seu Vadinho?
_O plano, Joaninha, consistia em provocar balbúrdia pela cidade, espalhar incêndios e confundir a polícia, daí iam desarmá-los, havia alguns senhores da cidade que iam se juntar aos escravos e provavelmente a abolição da escravatura dar-se-ia primeiramente aqui na Bahia, mas a natureza puramente humana de dizer não às mudanças, ao novo, fez com que uma ex-escrava fizesse a denúncia... A tal mulher também nagô, mas emancipada, ouvira dois escravos conversando na língua deles sobre o que haveria de ocorrer, que chegaria mais gente de Santo Amaro e seria uma rebelião séria, com chances de dar tudo certo, aí a criatura deu com a língua nos dentes e tudo foi desfeito, mais ou menos isso, Joaninha...
_Nossa, seu Vadinho! Que coisa! Um negro entregar o outro!
_Pois é. Essa é uma prática infeliz e puramente humana, como já havia dito... E isso hoje está até regulamentado, tem mais, imagine, havia judeu que entregava outro judeu a Hitler, imagine... Existe um partido político que se diz de esquerda, ou de direita agora, que a prática retrograda e mesquinha do entreguismo e da vigilância constante no outro, stalinismo tupiniquim disfarçado de cortesia hipócrita, indignidade dissimulada para alcançar o poder, agindo nos bastidores e até que ganhou uma secretaria importante na prefeitura, mas isso é outra coisa... Então, se você for eleita a rainha do Ébano, lá no Malê de Balê já terá algo a falar sobre a revolta dos Malês.
_O senhor sabe é de coisa, seu Vadinho...

Quando fui eleita rainha do carnaval, há uns cinco anos, se não me engano, seu Vadinho ficou orgulhoso de mim. Disse que o que havia falado na entrevista da televisão muito pouca gente sabia. Vi um certo desejo nos olhos dele. Nunca havia reparado no charme oculto que seu Vadinho carregava naturalmente. Achava que o nariz não deixava, agora acho que o nariz é o início do tom charmoso que se distribui em todo ele. Talvez ele tenha pensado em mim, sim. Mas quando soube que eu estava grávida de Joãozinho, desistiu. Eu também era desconfiada e medrosa. Tinha medo de Margarete. Ela propôs que eu vigiasse seu Vadinho. Queria saber se tinha outra mulher. Comecei a vigiá-lo, mas logo em seguida desisti. Muito pela arrogância dela. Seu Vadinho era um homem culto, inteligente e bem-humorado e depois daquela história de entreguismo de negro para negro, fiquei com vergonha de mim mesma. Fui fiel a ele. Mesmo assim Margarete tentava me persuadir, mas não cedi às chantagens soberbas que ela fazia para me intimidar. Amelinha desconfiou e perguntou bem sutilmente, mas com uma ponta de malícia o que significava os dois encontros meu e de Margarete que ela tinha visto. Fiquei sem graça, inventei uma história boba e desconversei. Sei que não saciei, nem a convenci. Ela só ficou mais tranqüila, quando presenciou minha conversa com seu Vadinho a respeito dos assédios de Margarete.

Em mais de uma vez fiquei encantada com seu Vadinho. Mas houve um episódio que o meu enlevo por ele cresceu como lume que invade o breu da noite. E foi por essas palavras que me senti ninada por seu Vadinho. Apesar de a história ser contada por ele para Joãozinho. Contudo ouvi e percebi o real significado de a magia da vida como ele próprio repetia sempre. Foi uma história que contou para meu filho dormir. Uma história da noite. Acabamos todos pegando no sono. Até Amelinha que ouvia distraída o som da voz do tio a revelar a magia que há entre as noites. Ele contou que o mundo é noite, o seu estado próprio e peculiar é a escuridão. Entretanto não é para se ter medo do breu natural, pois o grande herói da terra venceu o seu inimigo com os truques da lua. O inimigo ao pensar que o teria nas mãos, que o derrotaria e humilharia o herói, por causa da noite e seus recônditos escuros, foi surpreendido pela lua cheia e pelo cometa que passara então na madrugada e magicamente clareou o terreno da luta final. O herói que mesmo assim já havia apurado as vistas para o embate com o inimigo da terra, foi beneficiado pela luz e claridade das estrelas, da lua cheia e do cometa. E montado em seu cavalo alado enfiou a lança no coração do dragão da escuridão. A lua cheia tão orgulhosa e feliz por ter ajudado o herói terreno brilhou mais intensamente, chamou o sol e com ele veio Aurora e seus dedos cor de rosa, onde a claridade do astro rei mostra aos homens todos os dias os detalhes da vida. Seu Vadinho saiu de mansinho e deixou todos dormindo. Acho que despertei levemente e o vi carregando Amelinha para a cama.


Trecho de TRÊS TIROS NUMA HISTÓRIA DE AMOR novela de minha autoria prontinha para ser publicada

quinta-feira, 25 de junho de 2009

SETE PORTAS

Trecho 1

A atmosfera de safadeza insinuante própria da cidade da Bahia, a sabotagem, o desdém diante da desgraça operante em si mesmo e em cada um deles, somados a vontade incorruptível de baianos sérios e metidos a sério sem ser pôrra nenhuma. Sindicalistas que discutiam política ordinária, a política baiana medíocre que eles mesmos proporcionavam e a indolência disfarçada de crime insipiente contornavam Salvador. E no meio do olho desse vulcão em ebulição estava a Sete Portas. Coleirinha, canário da terra, canário belga e curió de até cem mil, também faziam parte da feira.

Trecho 2

O delegado Carlos Antonio era um homem sério e infeliz. Casado com uma mulher que não amava mais, que não lhe dera filhos e que lhe atazanava a mente com problemas fúteis. Gostava da prostituta Roberta que o jornalista Marco lhe apresentou, no entanto não se atrevia a tocar-lhe nem um fio de cabelo. Sempre ia ao puteiro, quando a puta o via, largava com quem estivesse para lhe dar atenção e conversar. Só conversar. O delegado tentava persuadir-lhe a mente impura a largar o sexo profissional. Ela ouvia, consentia, lamentava, condoia-se e às vezes até chorava. Mas não deixava de ser santa puta.

Trecho 3

Deu-se então uma perseguição frenética a partir de dentro da feira da Sete Portas. O indivíduo era branco e forte, feições físicas muito parecidas com o agente Augusto. O delegado, mesmo gordinho, era ágil e Marco Deville lépido como um ponta-direita, mas o facínora, devia ser ele realmente, corria como um guepardo. Guepardo entre elefantes. Derrubando bancas de frutas, atropelando os fregueses e correndo por entre os carros, os três seguiram em direção à Djalma Dutra, como que vai para o Dique do Tororó. O perverso com quase meio quilômetro de frente. O agente Augusto ao ouvir os rumores que instantaneamente tomara feira disparou saindo pela entrada principal por cima dos caranguejos e, sem saber, correu em outra direção. Foi para o lado do Aquidabã. Os gritos e algaravia dos feirantes e das pessoas no local o colocaram na direção certa, mas era tarde. O desgraçado apunhalador de bundas e cus subiu a escadaria que sai na Bela Vista do Cabral, travessa Barão de Sturdart, em Nazaré de quatro em quatro degraus. Nenhum dos três o alcançaria.
O delegado já com os bofes a sair pelos pulmões, o jornalista de caruara nas pernas de tanto whyski e prostituta que fazia uso e o agente Augusto, o único que daria testa, estava atrasado.


OS TRECHOS NÃO ESTÃO NA ORDEM.


O TEXTO TÁ SAINDO... AGUARDEM!

sábado, 20 de junho de 2009

SETE PORTAS (?)

Não se sabe de onde, nem quando aquelas atrocidades começaram a aparecer. Muito menos quem as fazia. Sabe-se, no entanto que em alguns bairros a crueldade era mais intensa. Ali em Brotas, por exemplo, da altura do Acupe, na sinaleira, até a Sete Portas, passando por Luiz Anselmo e Vila Laura, muitas vítimas compareceram à delegacia para prestar queixa. Ficando, contudo constrangidas em mostrar o ferimento. Diz-se também que houvera queixas na Calçada, nos Mares, assim como na Avenida Centenário e na Federação. Mas nada de concreto, muito boato do povo. Talvez houvesse casos dessa natureza, nesses lugares realmente. De fato, ouviam-se firmezas a respeito do caso, havendo até quem garantisse estar in loco na hora do ato. Outros, porém esquivavam e desconversavam descrentes. Apareceu até quem tivesse visto o facínora, mas, com medo, retraíra-se e reservou-se a socorrer a vítima. Muitos boatos davam conta que o perverso morava ou andava na Sete Portas.

Um dia de sábado pela manhã bem cedo, lá na Baixa dos Sapateiros, vinha um cidadão gordo todo de branco, correndo esfolegado e terrivelmente assustado. Passou pelo Aquidabã, já correndo com dificuldade, onde inclusive derrubou um ambulante e sua mercadoria. E rumava desesperado em direção à Sete Portas. Mas o esforço veloz a que se submeteu limou o resto de condicionamento que ainda havia nos pulmões e nas pernas e ao pé da ladeira do Funil o gordo caiu estatelado na rua, soltando seu suspiro derradeiro. Muitos, a maioria farristas da noite de sexta-feira, assistiram a cena sorvendo cerveja e comendo mocotó com pirão. Contudo poucos ou quase nenhum percebeu em um zoom de ótica que logo atrás vinha um outro homem também correndo e que parou assim que viu o gordo deitar por terra todo o seu farto tecido adiposo. Era um homem branco-avermelhado, com poucos cabelos sem ser necessariamente careca e com uma cara carrancuda de bad boy. Atravessou a rua e ficou observando na esquina de uma ladeira contrária a do Funil, rua Prado Valadares. Espreitou minuciosamente todo o desenrolar da cena durante uns quinze minutos, provavelmente para certificar-se do óbito grassento. Ecoou então às seis da manhã na Sete Portas uma gargalhada diabólica. O gordo defunto estava com um punhal enterrado no ânus. Segundo o laudo médico, que depois todos tomaram ciência, o punhal rasgara o reto e boa parte do intestino, inclusive a aorta abdominal.Uma hemorragia interna foi a causa mortis. Dize-se que após a retirada do punhal o sangue jorrou junto com as tripas e o sarapatel que havia comido minutos antes de levar a punhalada no cu.


POIS É... Esse texto aí deverá se chamar "SETE PORTAS", nem eu sei o que vai acontecer, ainda estou escrevendo... Espere também.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

TRECHOS DE CRIME OCULTO NOVELA QUE ACABEI DE ESCREVER...

Comecei a ter ligeira consciência das coisas alguns dias antes do crime realizar-se de fato. E definitivamente, logo em seguida ao coma de três dias, depois da morte súbita do indivíduo. Diga-se que a criatura morria aos poucos, cada dia levavam um pedaço que lhe pertencia. Acordei disposto a fazer algo novo, diferente de que fazia todo domingo no bairro sombrio e enfadonho que moro. Costumava ficar no posto de gasolina escorado numa bomba de aditivos para automóveis desativada e beber latinhas de cerveja. Achava ridículo o que falavam nos noticiários a respeito de vender, ou não vender bebida alcoólicas naqueles lugares. Falsa moral, ninguém estava se importando com nada, nem com outro alguém mesmo. Querem é copiar tudo dos Estados Unidos, então que se venda bebidas à vontade para quem quiser beber, venda-se armas em cada esquina, ora essa! Vi a moça subir os degraus onde mora sua irmã. Essa moça assim que chegou, lançou para mim um olhar fatal de cio insaciável, aquilo estremeceu dentro de mim, havia algo no ar, em suspense. Mesmo assim lembrei minha mãe, sempre que alguma mulher me olhava faminta de mim, ela dizia “não perca tempo com elas, trace-as, coloquei um homem no mundo para dar conta de mulheres”.

OUTRO TRECHO EM OUTRO CAPÍTULO

E não foi só isso, entre os quatorze, quinze anos currávamos bananeiras no fundo do quintal de minha casa. Tinha sempre na lembrança, durante esses momentos, a filha da faxineira. Juntava com outro amigo, o Valdomiro, e fazíamos um buraco na altura da nossa genitália e nos introduzíamos lá, como é visguento ficava parecendo uma vagina de verdade reagindo ao meu teor amoroso-sexual. Até que Serva Maria, a negra que tomava conta da casa, viu. Delatou-nos e depois se arrependeu quando viu as lapadas de cinturão que meu pai deixou em mim.

OUTRO TRECHO EM OUTRO CAPÍTULO

Naquele dia eu estava aborrecido. A mulher tinha cobrado mais atenção de minha parte, como se eu tivesse que procurá-la para amar novamente. Ora, foram trinta e cinco anos juntos, tivemos duas filhas já criadas e casadas. Cada uma com seu macho, eles que cuidassem delas de agora em diante. A mulher rezava ao deitar, rezava para pegar no sono, rezava para acordar, rezava para levantar... Diabo de tanta reza! Já não agüentava mais, então lhe perguntei o que ela fazia de fato na igreja se gastava toda a reza dentro de casa. Ela pensou que eu estivesse ciumando, ora, veja! Sorriu e dissimulou sensualidade pífia.
¬“Ridícula!”
Aquilo me aporrinhou tanto que saí de casa tremendo de desgosto e nauseabundo. Além de ter tomado duas cápsulas de Rivotril. Louco de dispepsia, ouvi o grito da mulher ao sair.
“Estás sob a influência de Satanás, velho.”
E mais, em tom bíblico:
“Antes da ruína, vem o orgulho... Antes da queda vem a presunção”
Assim cheguei à rua principal de Brotas, ofegante e enojado pelo aborrecimento causado por Regina Astrid que um dia foi uma bela mulher e levou-me para o altar. A moça com olhar de cio passou por mim e não pôs as vistas em mim como de costume...


...espere, em breve CRIME OCULTO, minha novelinha impressa para você...

FILME

Olha só o que achei. Um filme baseado em meu conto "AS SETE FACES DE SEVERINA CAOLHA". Um trabalho de Adson e Álvaro, não os conheço mas são de Feira de Santana-Ba. Gostei ficou legal. Deem uma olhada.

http://www.youtube.com/watch?v=JV7L2YCzh4k

sexta-feira, 5 de junho de 2009

PROLEGÔMENOS ACERCA DO AMOR- de Adriano Portela

Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drumond de Andrade



Aproxima-se o famoso Dia dos Namorados. Aproveito para falar aos casais de namorados, mas não aqueles perdidamente apaixonados, dirijo-me, antes, àqueles outros que não são tão apaixonados assim. Aqueles que se gostam muito, e que se tratam super-bem, mas que têm a consciência de que um não é para o outro a maior referência afetiva, o chamado grande amor da vida. É, são muitos os casais assim! E é também para estes que é feito o Dia dos Namorados!
Mora na cabeça de cada pessoa o antigo ideal de casar com a pessoa por quem ficar perdidamente apaixonado. O Romantismo passou, mas legou-nos esse ideal. Contudo, a realidade não é composta preponderantemente por casais amantíssimos – muitos não casaram com aqueles que desejavam, casaram sim com aqueles que a vida os providenciou, sem que eles esperassem. Muitos homens pensaram de se casar com aquela mulher capaz de cuidá-los e pela qual fariam tudo na vida. Muitas mulheres desejaram se casar com aquele homem ao qual elas escolheram para se entregarem intimamente, e o qual elas queriam que fosse o único em de suas vidas. Entretanto, outra foi a realidade! Quantos não vivenciaram a fantasia do amor imaginado? Quantos não se frustraram com a realidade que encontraram no meio da vida?
Sói acontecer de vermo-nos um dia, não com a pessoa que mais amamos na vida, mas sim com outra inesperada, porém tão bem vinda, porque impressionantemente capaz de nos fazer felizes... e como encontramos pessoas assim! Quadrilha, de Drumond, faz-me pensar nos casais de namorados assim, feito dos desencontros amorosos, nesse balaio de gato que é a nossa vida. Isto porque as coisas não são todas arrumadinhas: João ama Teresa, que ama Raimundo, que ama Maria, que ama Joaquim, que ama Lili, que a ninguém ama. Desejos cruzados, vidas desencontradas: João vai embora, Teresa entra pro convento – Raimundo morreu de desastre. Maria ficou pra titia, e Joaquim suicidou. Lili, essa que não amava ninguém, casou com o J. Pinto Fernandes, um inusitado!
No poema-história de Drumond, os amores não correspondidos provocam a falta de acerto na vida. Está tudo fora do lugar: Raimundo morre, Teresa entra pro convento, e João vai embora; Maria fica pra titia, suicida-se Joaquim. E cada um amou quem a outrem amou! Encontramos pessoas assim que, desencontradas, vivem perdidas por toda a vida. Mas não é delas que estamos falando aqui, iniciei dizendo que falaria aos casais que não se entendem perdidamente apaixonados, porque um ou outro não está com quem mais ama, ou não é aquele a quem o outro mais ama na vida.
A vida é assim, um desencontro sem fim! Seja por uma falha na missão do cupido, seja por uma peça pregada pelo destino, vemo-nos nos braços de outrem que não a pessoa imaginada. Algumas vezes é porque literalmente não dava certo ficarmos com quem pensávamos ser a pessoa da nossa vida, não obstante deveras muito a amássemos. Tantas brigas, tantos desencontros, tanta humilhação nossa, que ficamos sentidos, mas preferimos mudar de vida. Isso acontece quando se dá aquilo que fala um poema supostamente atribuído a Mário Quintana: [Com o tempo, você] “Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você”.
Talvez tenha sido isso que aconteceu com J. Pinto Fernandes. Não sabemos a sua história – ele não estava na lista da Quadrilha – no entanto, podemos supor que ele tenha se cansado de quem ele amava, e que tenha desistido de tentar insistir numa relação, só por consideração ao amor profundamente sentido. J. Pinto Fernandes, e seu casamento com Lili, é a metáfora destes casais a quem quero homenagear neste próximo Dia dos Namorados. No mesmo suposto texto de Quintana, lemos: “No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!” É, Lili por certo procurava alguém, já que não amava ninguém, e foi justamente por ela que J. Pinto foi encontrado.
Pode ser que, mesmo depois de casado, recordando-se de quem deixara para trás, ele cantasse à guisa de Roberto Carlos: Você foi!/O maior dos meus casos/De todos os abraços/O que eu nunca esqueci. E não terá existido contradição nisto, caso tenha ocorrido: simplesmente não podemos extirpar de nós as lembranças de quem mais nos marcou. Não obstante isso, ele estava então com Lili, e não por falta de opção, mas por decisão. Loucamente J. Pinto teria prescindido do seu afeto, em nome de viver uma verdadeira felicidade. Realmente viver sem amor pode ser uma vida ignóbil, mas um dia talvez cheguemos à conclusão de que também viver sob a égide do seu ideal pode ser uma bobagem, uma vez que somos capazes de encontrar felicidade para além de quem nos referenciou o amor. E era isso, pobrezinho, pobrezinho, que eu queria dizer aos casais: não se espantem se vocês um dia se derem conta de que vocês amaram (ou ainda amam) mais uma outra pessoa que não esta de agora, presente em suas vidas. Bem-aventurados os que se encontram em situação diferente, mas parabéns para vocês outros porque neste dia vocês terão alcançado a fileira daqueles que tiveram a coragem de prescindir do amor idealizado, para serem concretamente felizes, decidindo-se por um outro amor.
A todos vocês, um feliz Dia dos Namorados!

Adriano Portela é escritor e padre, grande amigo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

CRONISTA POLÍITICO DESSE BLOG-Jackson Vasconcelos com mais um texto pra refletir...

Com vivo interesse, acompanho a política brasileira desde o início da minha mocidade.

Ainda garoto, estive presente nos corredores do Congresso Nacional, quando o governo militar determinou a sua desocupação e das galerias dos plenários das duas Casas, vibrei com os debates e pronunciamentos que encaminharam a votação frustrada da Emenda Dante de Oliveira; que construíram e homenagearam a “Constituição Cidadã”; que festejaram a eleição de Tancredo e choraram a sua morte, enfim, eu tive a honra de, bem de perto, presenciar os momentos mais importantes da reorganização política, depois da quartelada de 1964.

De uns tempos pra cá, me pergunto sempre: afinal, o que houve com a política no Brasil? Por que diabos, ela perdeu o rumo e deixou de ser ciência ou prática sadia, para ser seriado policial? No último final de semana, encontrei a resposta num pequeno livro publicado pela Editora Campus: “Cartas a um Jovem Médico” do doutor Adib Jatene.

Com certeza, sem imaginar que estaria a responder a minha dúvida, que deve ser a de muita gente, doutor Adib, depois de contar as suas experiências com a medicina e com os governos, afirmou: “Por isso penso que o que falta no mundo moderno é formação filosófica. No passado quem determinava o comportamento da sociedade eram os filósofos. Dirija o seu pensamento à Grécia antiga, por exemplo, e veja que quem lhes tomou o lugar foram os negociantes. O cenário é idêntico ao de hoje, quando são os comerciantes que controlam e se beneficiam de todas as atividades..."

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ILUSÕES DO AMANHÃ- do Príncipe poeta Alexandre Lemos

Recebi um email com a solicitação abaixo. Li e gostei o poema do rapaz. Confiram.


Boa noite Carlos

Este poema foi escrito por um aluno da APAE, chamado, pela sociedade, de excepcional.
Excepcional é a sua sensibilidade!
Ele tem 28 anos, com idade mental de 15 e peço que divulguem para prestigiá-lo. Se uma pessoa assim acredita tanto, porque as que se dizem normais não acreditam?

Cida.

Poema de um aluno da APAE


ILUSÕES DO AMANHÃ

"Por que eu vivo procurando
Um motivo de viver,
Se a vida às vezes parece de mim Esquecer?
Procuro em todas, mas todas não são você.
Eu quero apenas viver,
Se não for para mim que seja pra você.
Mas às vezes você parece me ignorar,
Sem nem ao menos me olhar,
Me machucando pra valer.
Atrás dos meus sonhos eu vou correr.
Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.
Se a vida dá presente pra cada um, o meu, cadê?
Será que esse mundo tem jeito?
Esse mundo cheio de preconceito.
Quando estou só, preso na minha solidão,
Juntando pedaços de mim que caíam ao chão,
Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.
Talvez eu seja um tolo,
Que acredita num sonho.
Na procura de te esquecer,
Eu fiz brotar a flor.
Para carregar junto ao peito,
E crer que esse mundo ainda tem jeito.
E como príncipe sonhador...
Sou um tolo que acredita, ainda, no amor".

PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE)

domingo, 3 de maio de 2009

IMPRENSA MADRASTA- de Jackson Vasconcelos

O Presidente do Brasil governa uma Nação, que ocupa um território que tem mais de oito milhões de quilômetros quadrados, é relevante no contexto internacional e abriga:



1. 190 milhões de habitantes, dos quais mais de 120 milhões, eleitores compulsórios.

2. 25 milhões de trabalhadores, com rendimentos que não ultrapassam um salário mínimo e 10 milhões que não apresentam renda alguma.

3. 10 milhões de crianças na faixa de zero a quatro anos de idade.

4. 11 milhões de famílias sustentadas por programas sociais.





Um País que tem:





· Mais de um trilhão de dólares em Produto Interno Bruto , 34 ou 35% dele consumidos pelo Estado com o título de tributo.

· Mais de cinco mil municípios, boa parte deles altamente dependente da repartição das receitas federais.

· Mais de um milhão de servidores públicos federais.

· Elevado grau de corrupção, violência e criminalidade.

· 200 bilhões de dólares em reservas.





Dilma Rousseff é Ministra principal do Presidente do Brasil e por ele escolhida entre muitos para ser a sua sucessora. Está filiada ao segundo maior partido político e com ele controla os melhores instrumentos de campanha eleitoral do Estado Brasileiro: a máquina pública, o programa Bolsa Família e o PAC. Tem, portanto, potencial competitivo para vencer a eleição. Mas, como saber se ela será, de fato, a melhor escolha?

A imprensa não dirá, nem oferecerá pistas, porque prefere comentar os resultados que a ministra obteve com a operação plástica; informar o que ela andou a fazer no tempo da clandestinidade obrigatória e agora, entender como ela administrará no conjunto, a agenda de trabalho e campanha com a necessidade de tratar um câncer linfático.

Muito menos resposta se terá dos programas eleitorais de rádio e TV e dos debates que ocorrerão durante a campanha, porque são peças teatrais em razão dos limites impostos pela legislação e das exigências feitas pelos juízes eleitorais.

Então, que se corra o risco da escolha e se o resultado não for o melhor, fiquemos com a pecha de não saber votar. É o preço de viver por aqui!


Jackson Vasconcelos é cronista político desse blog

segunda-feira, 27 de abril de 2009

BIENAL DO LIVRO - de Miriam Sales

Realmente, é uma festa literária!

Quem ama os livros, vê-se rodeado por todos os lados de edições de autores clássicos e modernos, autores consagrados e jovens autores esperando consagração,ou ao menos,um lugar ao sol brilhante da literatura.Como diz o escritor baiano Antonio Torres:”a fila está andando”;com paciência e talento chegará a nossa vez.
A Literatura é uma amante possessiva e sôfrega que requisita para si quase todo o nosso tempo; exigente e cara,até se colher os louros,muita água passará por debaixo da ponte.

Concorri com vários jovens autores baianos e me surpreendi com a quantidade de talentos que estão emergindo da obscuridade e um dia serão grandes; mesmo as propaladas “panelinhas” literárias não deterão a marcha dos talentosos;os leitores sabem e,embora direcionados pela mídia ,logo,logo,se voltam para aqueles que realmente têm uma bela mensagem para passar.Escritores “midiáticos” fazem um sucesso relativo enquanto estão no “ar”,porém,como caudas de cometa,desaparecem e,ninguém fala mais deles;é o caso de certos “globais” e até-pasmem!-do próprio Paulo Coelho, de quem não vi um único livro nas prateleiras das editoras.Parece que o tempo dele passou e hoje existem centenas de paulos coelhos por aí ,dando sopa.

O lançamento do CD”Maktub”, uma experiência maluca que quis fazer com um livro eletrônico deu certo; vendi todas as unidades durante os dez dias da Bienal.No dia do lançamento,23,uma quinta-feira,fui entrevistada pela TV Educativa e pelo canal da LBV;pois bem,pude avaliar a força da mídia:no fim de semana após a entrevista,quando eu entrava no Centro de Convenções,todos me cumprimentavam e apontavam:”aquela é a escritora da televisão”;resultado,os cd’s foram todos vendidos;eu sei que é um bom trabalho,bem feito com cuidado e carinho;mas,sem a ajuda da mídia,talvez não vendesse tudo.

Outra grande vantagem de uma bienal, além da exposição ao público;ficamos conhecendo escritores,livreiros,distribuidores e sendo conhecidos por eles;no “Café Literário”,podemos debater com escritores do porte de Frei Betto,Ruy Castro,Nelson Motta,Antonio Torres;graças a uma interferência minha sobre Monteiro Lobato,recebi um convite de uma nova TV cultural que será inaugurada brevemente em Salvador,para fazer uma palestra sobre esse grande autor,assim que esse canal seja inaugurado;pessoas,na platéia,pediram meu e-mail,queriam saber onde era o meu stand,trocavam idéias comigo sobre literatura e arte.

Sim, a Bienal é interessante para o novo escritor; sim,ele deve participar.O Céu e os manes da Literatura não ajudam aquele que não age!


Miriam Sales escritora baiana.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

FOTOS BIENAL 2


Amigo, excelente escritor Mayrant Gallo. Poucos conhecem literatura como Mayrant.


Amigo, famoso quadrinista criador da TURMA DO XAXADO, vice-presidente da Câmara Cedraz


Escritora Miriam Sales lançando livro no stand da Câmara Bahiana do Livro


O poeta e amigo Geraldo Maia ligado no debate da Arena Jovem


Gentileza de Frei Betto


O amigo das antigas e escritor Heitor Brasileiro Filho

quinta-feira, 23 de abril de 2009

FOTOS DA BIENAL 1



O escritor mineiro Bruno Resende e Hugo Homem empolgados no discurso literário


OS escritores Carlos Vilarinho e Hugo Homem descontraindo na Bienal.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

E A VIDA SEGUE- de Jackson Vasconcelos

Ontem, domingo 19 de abril, o jornal O Globo publicou no precioso espaço da primeira página, com chamada e foto, a entrevista que o repórter Chico Otávio fez com o ex-funcionário do Senador Gerson Camata (PMDB-ES), economista Marcos Vinícius Moreira de Andrade. Claramente, mais um caso de delação não premiada.

O sujeito trabalhou 19 anos com o Senador numa relação demonstrada pelo jornal como sendo de estrita confiança e confidência, que o beneficiou com nomeações e empregos bem remunerados. Mas, mesmo assim, ele resolveu, depois de demitido, denunciar o ex-patrão por desvio de dinheiro público e por outras coisas e crimes.

Chamado pelo entrevistador de “discreto economista mineiro com 56 anos”, Marcos Vinícius pintou a fisionomia de um experiente ladravaz na imagem impoluta do seu ex-chefe.

Sem maiores considerações, fico com o seguinte:

Se confirmadas as denúncias, Marcos Vinícius foi espontaneamente cúmplice e, portanto, criminoso em todos os crimes que atribui ao ex-patrão. Se não confirmadas, o sujeito é um leviano, mas também criminoso, mas do crime de calúnia e difamação. E, confirmadas ou não, ele é comprovadamente um mau-caráter e neste quesito dispensa comentários.

Seja como for, Marcos Vinicius, ex-Marcos Camata, é um pobre diabo, representante do clã dos otários, porque deveria saber, pelo historio político do povo brasileiro e pelo caminhar dos assuntos semelhantes, que o seu depoimento ou desabafo só serviu ao repórter, que sem muito trabalho, construiu uma matéria que mereceu cobiçado espaço de divulgação e garantias do bom salário que ele deve receber.

No mais, culpado ou não - no Brasil o fato já não é relevante há bastante tempo - o senador, mais tempo ou menos tempo, voltará à vida normal e se perder a eleição, com certeza, não será por isso.

Marcos Camata ou Marcos Vinícius, depois do serviço que prestou ao repórter, cairá em desgraça. E , o sujeito está apenas com 56 anos, numa sociedade que cobra vida ativa até após os setenta.

A população? Torceu o nariz quando leu a notícia, com a certeza de que não será a última, na série que a imprensa oferece quase todos os dias de exemplos de corrupção, de mau-caratismo ou de injustiças.

E, a vida segue.


Jackson Vasconcelos é cronista político desse blog.

sexta-feira, 13 de março de 2009

FORMA - de Camila Vilarinho

Reflexão que considero sem fundo e fim.
Percepção em digestão, ponto de partida: uma visão.
A fôrma-boa buscada no todo à parte.
Será essa boa forma?
(Por) Enquanto ( , ) meu campo vibra em força (?)
Encontros desbotados eu deixo vívido, sou figura e vou ao fundo no meu objeto.
Mergulho e outro desata (o).
Percebo, reflito penso e sinto. (movimento)
Uma gota cai no lago, ele treme inteiro...
Busco.
Outro.
Chave.
Abre.
Fecha.
Feixos.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O QUE É POESIA? (pequeno estudo pré-iberogrecoromano) de Geraldo Maia

Geraldo Maia - poetanada

Uma vez o Rei Hunac Ceel chamou ao seu palácio em Mayapán alguns poetas para conversarem acerca do que seria a poesia já que o povo a consumia com apetite e a mesma andava na boca de todos com sabores diversos em falas distintas e linguagens as mais estranhas e talvez até inadequadas para veicular a arte de falar e escrever em versos.

O nualtl Tantak Yllimá foi chamado a dar a primeira impressão sobre o assunto, o que ele pensava e sentia sobre a arte de inventar poemas. Sábio, o nualtl (assim eram chamados os poetas entre os Maias) começou a falar de modo contido e suave, sua principal característica. "O poço da alma é feito de pedra memória com um sol ainda sem fermento ou punho, tudo o que nele derrapa tem olhos de lago porque há uma montanha sem lastro em seu silêncio, um vendaval sem cintura em sua reza, e a conversa da lava chega forte e rápida e o seu rastro tem o veneno curvo do alabastro". Essa tradução fiz ao pé da letra, mas podem lê-la no original no livro, "O Livro Puma de Chinzé Amilatl", um dos poucos que conseguiu escapar da fúria civilizatória iberogreco-romana que se abateu de modo macabro sobre as avançadas civilizações de Abya Yala (Terra Fecunda, conhecida também como América).

Esse livro tem o miolo todo confeccionado em papel de seda da Índia, de altíssima resistência, e tem a capa em pele de Alpaca tratada pelo tradicional método asteca de preparar capas para brochuras. Os Maias escreviam muito bem, mas os Astecas eram o verdadeiros "reis" da produção gráfica. Era comum a presença de artistas gráficos oriundos da China nas oficinas astecas. Assim como era possível encontrar professores de escrita chineses nas bibliotecas maias.

Aviso que ainda não domino por completo o idioma Maia, um dos mais complexos do mundo, bem similar ao chinês de onde origina trazido pelos sumérios através do estreito de Bhering antes do descongelamento e afastamento das placas teutônicas entre os continentes de MU e Atlântida, mas com certeza trata-se de uma versão bem próxima à original.

Bom, voltando ao encontro dos poetas maias. Hunac Ceel manteve-se impassível. Então Chaap Mutl, considerado o mais importante dos nualtls (poeta) do império maia chamou para si o jogo e disparou: "Oh, ventre do horizonte vencido, carne de mar penetrado com a lança da saudade, tu, que a noite devora enciumada, deixai que essa semente do sem fim encontre abrigo em tua barra de olvido, e que mesmo despedaçada a manhã de olhos de coiote consiga saciar esse teu pranto", e como o silêncio insistia após as falas só o Rei mesmo para usar da palavra.

"Tivemos até algumas novas pedras preciosas de poesia Maia em Texcoco, nesses últimos tempos, novas vozes alvissareiras e a transformação evolutiva de muitas das então conhecidas, mas na verdade ainda pouco sabemos do que seja poesia. Podeis declamar ou falar belos poemas, sem dúvida, mas quem define esse "belo"? O povo nas ruas ou os belos nualtls aqui presentes? Eu posso até decretar, mas não creio que resolvesse de pronto, que a poesia está em toda parte.

A pirâmide que abriga esse palácio por certo é poesia pura, do tipo pedra e argila, dos jardins emerge a poesia das pétalas e plumas, do ourives a poesia da paciência como arte, dos meus valentes guerreiros a poesia dos campos de vitória ou esquecimento, a mesa farta os aguarda, meu poderosos nualtls, onde encontrarão do dourado e saboroso askinin (porco) ao chinchiutl (vinho) de uvas especiais, verdadeiro sumo de Chaac Mul, a deusa da água, mas tudo isso é fruto da poesia culinária, a arte de inventar dos canteiros e campos de caça os pratos mais saborosos e belos e as bebidas cheias de malícia e poder. Até meu gato, esse siamês sutil e feiticeiro é mestre em inventar canções com a lua.

Por falar nisso, venham comigo até a varanda, lá está nossa mama, linda e toda prenhe do sol, e sua gravidez solar é capaz de riscar os mais belos poemas nos olhos da noite. Nada a assusta, nem a ameaça do amanhecer com a presença dominante do nosso amado taita, ela se mantém altaneira, seu amor a faz resistir aos caprichos do tempo.

Mas o mistério da poesia paira sobre nossas palavras que por si só se retraduzem e se ressignificam a cada instante num processo de morte e ressurreição da linguagem. Para existir, a poesia destrói os códigos da linguagem, as leis da gramática, os rituais da norma, só assim pode criar a sua própria, a linguagem poética.

Tudo isso, para mim, caros nualtls, é apenas parte do meu aprendizado, ainda bem superficial. Cabe a vocês a palavra. A mesa é farta e nos espera. Estou com muita fome. O que vocês preferem? Comer ou recitar?"



Geraldo Maia é poeta da Praça das antigas...

sexta-feira, 6 de março de 2009

OS SENTIDOS DA MULHER- de Fátima Vennuti

Entre o silêncio e a verdade,

A inquietude.

Entre o olhar e a devoção,

A complacência.

Entre o toque e a súplica,

A feminilidade.

Entre a fala e a lágrima,

A cumplicidade.

Entre o perfume e a paixão,

A plenitude.

Entre o verbo e o adjetivo,

Único substantivo feminino:

Mulher.


Fátima Vennuti é escritora paulista membro da Academia Paulista de Letras e associada da Câmara Bahiana do Livro.

domingo, 1 de março de 2009

TERRA AGRESTE - de Manuel Jorge

Se queres o céu, eu te dou o inferno;

Se queres descanso, eu te dou a purgação;

Se sonhas com o azul, eu te jogo nas trevas

E te faço escravo do meu coração



Se vislumbras o verde, eu já sou a terra;

Se queres a luva, eu te dou o facão;

Se queres a física, eu te dou a enxada

E trabalha escravo no meu coração



E onde roças carícia me deixa maluca

Que de tantas delícias já sinto paixão

Se pensas em outra, eu já fico louca

E prometo ser fértil até no verão



Se perco o ritmo, já trocas de roupa

E o que era escravo, já é Lampião

Monta cavalo, ganha o asfalto

E deixa as marcas no meu coração.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

FESTA PAPA-LARES- de Luiz Britto

As festas populares, na Bahia, pelo seu gigantismo e absurdo, acabaram passando de festas populares para festas papa-lares. Importunam moradores, desrespeitam direitos constituídos, invadem propriedades, criam transtornos variados, tornam privadas as áreas públicas, tornam-se exemplos insuportáveis de poluição sonora e ambiental — e isso para gáudio de alguns, lucros astronômicos de uns poucos, e a ganância da Prefeitura, sempre falida e sempre pronta pra novos saques. Ao invés de se portar como o fiel da balança, um elemento confiável e regulador, justo, soberano, guardião da lei e da ordem, dos direitos dos seus súditos, mostra-se na sua face mais adversa e cruel. A de criadora e fomentadora de males, a permitir um verdadeiro exército de invasão, a ocupação maciça e atrabiliária de boa parte da cidade, com prejuízos e aborrecimentos para os mais fracos e indefesos.
De pequenas e limitadas festas de pescadores, ingênuas devoções populares, manifestações razoáveis de regozijo carnavalesco, chegamos aos mastodontes dos tempos atuais. Ainda há pouco tempo nada menos que 70 trios elétricos faziam fila para participar da Festa do Bonfim — ou seja, infernizar uma imensa área populacional em volta da igreja, doa a quem doer. E isso foi se repetindo na Pituba, Rio Vermelho, Itapoan. Todas as antigas e ingênuas devoções populares, católicas ou do candomblé, ganharam um vulto grotesco de festa profana, exploradas pela mídia, pelas agências de turismo, hotéis, distribuidoras de cerveja, donos de trios elétricos, bandas, chancelas oficiais, demagogia dos políticos & quejandos.
Nenhuma festa popular, porém, ganhou o gigantismo do Carnaval. Nunca os lucros foram maiores, e também nunca foi maior o incômodo a terceiros. Nem todo mundo é rico, tem casa de campo, parentes no interior, residências de veraneio. Nem todo mundo quer sair ou pode sair do seu canto. E, no entanto, tem que aturar — se mora na Barra — nada menos que 7 dias de folia, zoada, transtorno. Se há alguém doente, não há como sair de casa. Não há como uma ambulância chegar a certas ruas. A zoada ensurdecedora, de imensos Boeings levantando vôo, desses trios elétricos, está aí, a dois passos de sua casa, a dois passos do Hospital Espanhol.
Antes, já houve uns exames mentirosos, umas multinhas ridículas para os infratores, uma tentativa canhestra de se regular a altura do som dos trios elétricos. Depois, isso caiu por terra. O dinheiro, a ganância, sempre falam mais alto. Nossa Prefeitura nanica acabou desistindo do seu papel ridículo, deixou a água rolar. Seja o que Deus quiser. A velha lei da Bahia: os incomodados que se mudem. Quem não agüentar, fuja, vá pra longe.
Os passeios estão tomados, as ruas, avenidas, hotéis cheios, vem gente do interior, de todas as periferias, navios e aviões estão chegando, despejando mais e mais carnavalescos. A excitação vai ser grande. Segundo os cânones da Bahia, festa é sinônimo de zoada. Se não há zoada, bastante zoada, a maior zoada possível e imaginável, não há alegria e nem felicidade. E, então, tome zoada e tome bagunça — o nosso lema eterno, a “ordem e progresso” de nossa bandeira particular, a bandeira que rege esse pequeno burgo. Salvador ou, melhor, a Barra.
Mas, quem quer sambar, sambe — mas quem não quer? Não teria direito a uma indenização, por ser forçado a abandonar seu lar, contratar seguranças e caseiros? Isso não se pensa. E aí está o outro lado, e perverso, da moeda.
A irresponsabilidade civil da Prefeitura, dos que se locupletam com o esbulho dos direitos alheios, direitos sagrados de bem-estar, conforto e segurança, vilipendiados nesses 7 dias de guerra civil não-declarada, que é o Carnaval da Bahia.
Quem duvidar, venha assistir.




Demais crônicas de Luiz Britto no arquivo Crônicas do site http://www.bahiapress.com.br/

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CARNAVAL-2009 de Carlos Vilarinho

Podexá que eu vou,
Subir a ladeira aos empurrão, dotô.
Podexá.
Dêxa que sirvo
Corda, cuspe, indiferença e aluá.
Ah, eu vou sim,
Rasgar abadá de cetim
Murro embaixo, murro em cima,
Zanzando, pulando, exu querubim.
De antemão lhe digo
Venha cassetete, cuzão, fardado chinfrim.
Ah, eu vou fudê sem fim.
Loura, trançado enganado,
Cabocla de beijo molhado,
Enfezado.
Neguinha quente, beiço, cabelo
Volta em branco tostado.
Tomaram minha avenida,
Tem nada não,
Choque de nariz na mão.
Festa de povo, não.
Festa de homem quebrão.
O jegue, o povo, o cartaz...
Foda-se, foda-se, foda-se”
Nu em cima do caminhão,
Se fosse Zé. O camburão.
Venha e medite no Farol,
A orixá turvará seu sol.
Ou o asfalto negro
E as águas revoltas
Salgadas em brumas
Vão corroer seu sorriso, sua alma,
Seu bolso corrupto...

sábado de carnaval 21/02/09
Carlos Vilarinho

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS- Jackson Vasconcelos

“Agora vou mudar minha conduta. Eu vou pra luta, pois eu quero me aprumar (...). Pois esta vida não está sopa. E eu pergunto, com que roupa, eu vou. Com que roupa, eu vou. Pro samba que você me convidou? Agora eu não ando mais fagueiro, pois o dinheiro não é fácil de ganhar. Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro, não consigo ter nem pra gastar (...). Já estou coberto de farrapo. Eu vou acabar ficando nu. Meu paletó virou estopa e eu nem sei mais com que roupa...” Quando vi as cenas do encontro que houve entre o Presidente da República e os prefeitos no início da semana, pensei se o samba de Noel não teria feito boa presença. Pelo menos teria quebrado um pouco o clima deprimente. Gente eleita para dirigir com dignidade os seus municípios foi colocada como gado em estábulos apertados, para ouvir e, obrigatoriamente aplaudir, a produção sempre trôpega do presidente da república, com a única intenção de obter dele um pequeno quinhão do botim presidencial. O Presidente, como sempre, não fez por menos. Desancou a imprensa, o Ministério Público, o Poder Judiciário, enfim, todas as instituições e pessoas que não gostam que ele faça do dinheiro público o uso que faz do papel que tem em seus banheiros. Lula , quase sempre me lembra o porco Major e, por isso, senti falta em suas palavras aos prefeitos de pelo menos dois dos sete mandamentos proferidos pelo líder da Revolução dos Bichos: “Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo... “Todos os animais são iguais”.



*Jackson Vasconcelos é editor do site www.estrategiaeconsultoria.com.br e cronista político desse blog

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ANGÚSTIA de Manuel Jorge

Ensinamentos.

De que me servem?

Nada me dizem.

Apenas aprendizados de alguém.

Não me dizem respeito.

Nem me serve

a erudição:

enciclopédia de letras douradas,

que não conhece o chão duro que piso.

Não. Não preciso da ostentação beletrista.

Nem do texto enxuto,

nem da consciência da forma.

Não, não preciso.

Nem preciso escrever.

Nem preciso viver.

Não. Deixem-me em paz.

Eu não preciso de nada.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

FODA-SE A UNIVERSIDADE- de Geraldo Maia

Odeio a universidade pós pó
Com maçanetas quânticas e quasars caretas
Parece um museu de títulos abastecido de abismos
Odeio a universidade corta mente
Com suas salas de tortura mergulhadas
Em formol indigente
Parecem pocilgas numa escuridão
Privada
Ou latas de pântano aos gritos
Morte à universidade e seu cabelo de pátina
Sua fieira de miolos castrados
Asas em conta-gotas
e professores de moscas
Confessos réus de uma fornada de inválidos
Banidos dos processos de universo
professam uma moto-serra de cátedra
A universidade é um tiro no anacoluto
com seus escravinhos orientandos
empalhados por um sodomita
graduado em GEDs
que curte fraque de anis e
toga de alcaçuz
Foda-se a universidade com seus
carcereiros titulados
Suas orgias de parvos
Sua sede de pascácios
Foda-se o doutor de ausências
O phd ilha
O mestre de repetição e obediência
Odeio vocês incapazes de beijos desnudos
Com seus inúteis diplomas de plasma
Suas placas de náusea
com genomas mecatrônicos
Odeio a universidade e sua aridez atômica
Sua preguiça atávica
de pensar em cima do muro
Odeio sua crônica descerebrada
de copiar o fracasso obsoleto
e defasado dos doutos
desimportados
Odeio sua estúpida mania de odiar
tudo que não lhe é rastro exato
É preciso odiar essa fábrica de
universiotários de plástico
Sob as tentações cristantans
do barato saco
E que depois de muita
muita aposta
no co-sexo curto
Prepara mais um surto
De ignorância chapada


grato,
abraço,
Geraldo Maia, poeta da praça das antigas...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

DESVIVÊNCIA- de Adanilde Duarte

Eu preciso aprender que as grandes coisas nascem do silêncio.

Eu preciso ganhar batalhas porém meu exército tem sido fraco.

Eu preciso acreditar que a primavera existe e que o sol resplandece após dias de chuva.

Eu ainda não sei viver, preciso aprender como se vive.

Preciso aprender a respirar e creio que respirar seja mais do que um ato inconsciente.

Eu que fui forte, desaprendi como se vive.

Ainda procuro entender mesmo sabendo que não é preciso entender para viver.

Acontece que desvivi. Se respirar é viver então desvivi.

Desvivi e prossigo desvivendo até eu lembrar como se vive novamente.

Parece loucura mas ainda escrevo algumas palavras. Elas juntam-se num fim de tarde ou numa noite mal dormida. Ainda escrevo. Se escrevo tenho esperança.

Os dias voam e sinto uma doce alegria ao fim de cada um deles porém a desvivência permanece.

Talvez seja necessário desviver para viver. É como as grandes coisas que nascem do silêncio.

É como passar um dia cinza ao lado de quem se ama.

A desvivência é necessária. Viver a desvivência é procurar todo o tempo. Procurando tento viver. Pena que ainda não achei. Mas como vou achar sendo que nem sei o que procuro? Procuro viver. Mas desviver não é deixar de viver, afinal eu não morri. Não compreendo, somente sigo.



Adanilde Duarte de Lima escritora mineira– 16-11-2008

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

LOUCURA- de Bruno Resende Ramos

Loucura é esperar a procura
Acreditar governos
Beber água de chuva
Gritar por silêncio
Chorar durante uma novelas ou filme
Crer a morte do ator,
Não ver a morte nas ruas.
É o duplo sentido das urnas
Pedir que te peçam desculpas
Pesar o feijão e não medir a fome
Ser patriota por um discurso
Gritar direitos
Esperar esperanças
Crer no amanhã de sempre
Ou no estatuto da criança e do adolescente.
Loucura é o futuro que vira presente
Quem o explica achar que o entende.
Loucura é não se achar louco

Fonte: Momentos Diversos. Editora UFV 2006


Bruno Resende Ramos é escritor de Viçosa-Minas Gerais

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O SEGREDO DA FÉ- de Carlos Soares

Quando criança, havia lá no bairro um senhor chamado Bemvindo. Mentirooooso! Dizia que já tinha lutado com onça e ainda mostrava os arranhões. Que já havia segurado uma sucuri na mão. Eu nem sabia o que era sucuri direito, sabia que era uma cobra perigosa, nada mais. Que rolou num barranco com uma criatura que nem sabia o que era. Ele tinha certeza que acertou o tiro quando a fera corria, pois jamais errara um tiro, mas a bala não lhe fez nada. Um dia contou que tinha visto um objeto estranho brilhando no céu quando se barbeava no quintal. Eu falei: “Será que não era sua careca refletindo no espelho?”. A molecada riu. Ele, brincando, me deu um cascudo de leve: “Me respeita, menino”. Hoje penso que ele só gostava mesmo de ficar fantasiando essas coisas para as crianças e se divertia, e nós também. Mesmo sabendo que eram mentiras, dávamos o tema indiretamente só pra ele começar. Ele pegava no ar. Era normal alguém dizer: “Vamos lá no Bemvindo ouvir umas mentirinhas?”. Quando ele morreu um menino disse: “Você sabia que o Bemvindo morreu?”. Alguém respondeu: “Mentira!”. Mas gostava de contar casos também, bem à mineira. Um dia ele contou esse... sobre a fé.
Um viajante, exausto por cavalgar por vários dias, avistou uma belíssima fazenda e resolveu pedir pousada. Chegou à porteira, bateu palmas várias vezes, até que um senhor que parecia ser o dono, não só pelos trajes, mas também pelo mau humor, foi atender. Sim, pelo mau humor, porque só os chefes têm direito de ter mau humor. “Pois não”, disse com cara de poucos amigos. Ele tirou o chapéu. “Boa tarde. Senhor, estou cansado, cavalgando por mais de uma semana, tenho fome e sede. Preciso de um banho, um prato de comida e umas horas de sono. Não agüento mais um minuto em cima desse cavalo. Prometo que amanhã parto cedo”. O fazendeiro respondeu: “Sinto muito. Acho que não posso ajudar. O senhor não veio num bom momento. Minha melhor vaca está para parir... e vai morrer. Já recusei proposta alta por ela e hoje pagaria o que recusei, para salvá-la. O estranho perguntou: “O senhor tem fé?”. “Como assim? Claro que tenho fé. E o que tem a ver uma coisa com a outra?”. Ele respondeu: “É que sou um rezador, conheço orações poderosas e estou certo de que posso salvar sua vaca”. O fazendeiro se enfureceu: “Olha aqui, forasteiro. Se pensa que tem bobo aqui e quer me enrolar em troca de pernoite, o senhor pode dar meia volta”. Meio assustado, segurou as rédeas, mas insistiu: “Calma, vou embora. Mas pense bem... o senhor tem escolha? O que custa me deixar tentar? Se a vaca morrer, além dela, só vai perder um prato de comida, o que não é nada para quem tem uma fazenda tão grande”. O fazendeiro coçou o queixo, a cabeça e disse: “O senhor espere um pouco aí”. Foi lá dentro, falou com a mulher e filhos e voltou cinco minutos depois. “O senhor tem razão. Não tenho muita escolha e resolvi lhe dar um crédito de confiança. O senhor pode apear e entrar”. Descendo do cavalo, foi logo falando: “Mas é preciso ter fé”. Passando a porteira, pediu: “Se não se incomoda poderia arrumar um pouco de feno e água pro cavalo?”. O empregado que ouvia, providenciou logo. Chegando na sala, cumprimentou a todos, discretamente é claro, pelo clima de velório. Depois de tomar água perguntou: “Onde está a vaca?”. “Me acompanhe”, disse o dono. Toda a família foi junto. Chegando no celeiro, lá estava a pobre vaca agonizando. Não tinha mesmo muitas horas de vida. Ele pediu: “Preciso de um pedaço de pano, tesoura, agulha e linha. E também um pedaço de papel e uma caneta”. De imediato o homem falou: “Vamos logo, mulher. O que está esperando?”. Rapidinho ela foi e voltou com o material. O estranho sentou, escreveu algumas linhas, dobrou o papel, colocou num saquinho que fez com o pano, e costurou a boca do mesmo. Depois de pendurar o tal saquinho no pescoço da vaca, pediu licença: “Agora gostaria que saíssem, pois tenho uns rituais e preciso ficar sozinho”. Prontamente atendido. Ficou lá dentro uns dez minutos e saiu: “Bem, agora é esperar. Mas é preciso ter fé. Se não se importa gostaria de tomar um banho, comer um pouco e dormir, pois parto antes que o galo cante. Atendido. Tomou um longo banho, comeu como um rei e dormiu. Partiu tão cedo que ninguém o viu.
No raiar do dia, ouviu-se um grito: “Pai, pai. A Estrela pariu e está salva. Ela está boa. Corre pai”. Todos se levantaram às pressas, mal vestiram as roupas, se acotovelaram para entrar no celeiro. Lá estava Estrela. Bela e imponente como sempre, branquinha, cheia de manchas pretas, sendo uma no meio da testa, lambendo, dando os primeiros tratos de carinho ao seu bebê. “Que maravilha”, um falou. “É um milagre”, exclamou outro. O fazendeiro abraçou a vaca: “Como eu gostaria de pagar àquele moço pelo que fez, mas como não posso, que Deus o acompanhe sempre”.
A partir dali, todas as mulheres grávidas da região, principalmente as que tinham complicações, pendurava o saquinho no pescoço e os partos corriam normais. Até mesmo quem não tinha complicações, usava, só de precaução. O saquinho milagroso ganhou fama mais e mais. “Engravidou? Manda buscar o saquinho”. Andavam léguas e léguas com ele. Porém saquinho pra lá, saquinho pra cá, saquinho viaja, saquinho volta, saquinho ganha beijo... com o tempo foi estragando, abrindo, rasgando, até começar a aparecer a ponta do papel. Pois um curioso, sempre tem que ter um curioso, quis ler a poderosa oração.
E leu. Eis a milagrosa oração: “Tendo água e capim pro meu cavalo. Cama e comida para mim, quem pariu, pariu. Quem não pariu, vá pra puta que pariu”. Ou seja. Era a fé daquelas pessoas que salvavam suas vacas, suas cabritas... e suas mulheres. Não um pedaço de papel contendo uma baboseira. Independente se o forasteiro queria apenas dormir e comer e não estava nem aí para a vaca, ele acabou dando a eles um bom conselho: “É preciso ter fé!”.
Esse texto cabe muitas interpretações, religiosas, filosóficas e até de humor, as idéias são livres e respeito, mas eu me centralizo em uma: A fé é uma coisa muito pessoal.
Desculpem pelo palavrão, mas não tinha outro jeito de contar sem perder o sentido.

Carlos Soares de Oliveira escritor de Governador Valadares-MG

domingo, 1 de fevereiro de 2009

CORES- de Nelson Maca

- Poema dedicado totalmente à Negra Íris*,
Parceirinha 100% e talento nato.
Vocês irão ouvir falar muito dela!!



Entre escárnios
Já fui chamado negro sujo
Entre afagos
Já disseram que não sou tão preto

Que sou mestiço, escuro, cor de azeitona, acobreado
As dezenas de palavras que me apagam

Eu sou breu da cor da noite
Eu sou piche da cor do asfalto

Entre escárnios
Já fui chamado branca de neve
Entre afagos
Já disseram que sou um deus negro

Que sou marrom, cor de café, achocolatado
Todas as cores que contornam os limites

Eu sou noite ébano azeviche
Eu sou lápis risco preto sou grafite

Entre escárnios
Já fui chamado de negão
Entre afagos
Já disseram que a minha alma é branca

Cores do racismo do escravismo e do degredo
Da inegável negação que me revestem

Eu sou carvão, pano de guarda-chuva
Ausência das cores que não me fazem sentido

Entre escárnios
Já fui chamado africano
Entre afagos
Já disseram que sou um belo cabo verde



:: Poema do livro Gramática da Ira,
orgulhosamente na gaveta!
-

Nelson Maca / Blackitude B.a

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

DIÁRIO DE VIAGEM- PELOS CAMINHOS DA ÍNDIA- de Gustavo Amarante

1_ DIA 17. SAI DE SALVADOR ÀS 06h00min AM, PARA SÃO PAULO, O VOO DUROU 2 HORAS E TRINTA MINUTOS. VIAGEM TRANQUILA. EM SÃO PAULO DESCANSEI E PEGUEI O AVIÃO PARA LONDRES. O AVIÃO ESTAVA LOTADO. SURPRESA, FUI DE CLASSE EXECUTIVA MAS EM COMPENSAÇÃO TINHA UM NEGÃO AO MEU LADO PEIDANDO A VIAGEM TODA... E FORAM 12 HORAS DE VIAGEM.

2_ DIA 18 EM LONDRES 5: OOAM. O AEROPORTO É ALGO ESPETACULAR. NÃO TIVE NENHUM PROBLEMA DE INDENTIFICAÇÃO. NO AEROPORTO TÊM MILHARES DE LOJAS DE INFORMÁTICA E ARTIGOS FEMININOS.
MAIS 5 HORAS DE ESPERA. ÀS 12 HORAS PM, VIAGEI PARA NOVA DELHI. NUM AVIÃO SUPER LOTADO. COMEÇEI A ENTRAR NO CLIMA DA ÍNDIA. OS INDIANOS VESTIDO COM SUAS ROUPAS ESTRANHAS E TAMBEM AS MULHERES. SÃO ALTAMENTE MAL EDUCADOS. ERAM MAIS 12 HORAS DE VIAGEM. DESTA VEZ FUI DE CLASSE ECONÔMICA, FIQUEI PREOCUPADO COM QUEM ÍA ASSENTAR AO MEU LADO, MAS SENTOU UMA SENHORA E UMA CRIANÇA NORUEGUESA.
NO AVIÃO A COMIDA ERA HORRÍVEL UM FEIJÃO COM ARROZ APIMENTADO E VÁRIOS MOLHOS ESTRANHOS E FEDORENTOS. A ÚNICA COISA QUE DAVA PARA COMER ERA O PÃO. TOMEI TRÊS GARRAFAS DE VINHO DAS PEQUENAS E DORMI.
A CHEGADA EM NOVA DELHI FOI ESTRANHA PORQUE O AVIÃO NÃO DESCIA. FIQUEI OBSERVANDO PELO VÍDEO QUE O AVIÃO ESTAVA DANDO VOLTAS. A AEROMOÇA FALAVA EM INDIANO E INGLÊS MUITO CONFUSO E ÓBVIO QUE O MEU INGLÉS É DEVAGAR, QUASE PARANDO..., E EU NÃO ENTENDIA. AO MEU LADO AS PESSOAS APREENSIVAS. DEPOIS ENTENDI QUE ERA DEVIDO A NEBLINA. FICAMOS MAIS 3 HORAS RODANDO EMCIMA DE NOVA DELHI.
3_ DIA 19. _CHEGUEI EM DELHI, NO AEROPORTO INTERNACIONAl, MAIS OU MENOS, DEPOIS DE 16 HORAS DE VIAGEM. A IMPRESSÃO FOI A PIOR POSSÍVEL.
SURPRESA. TIVE QUE TROCAR DO AEROPORTO INTERNACIONAL. POIS PARA JAIPUR O VOO ERA DOMÉSTICO, EM OUTRO LOCAL. PEGUEI UM TAXI ERA HORRÍVEL E VELHO. NÃO TINHA OUTRO.
NO CAMINHO PARA O AEROPROTO DOMÉSTICO, PROXIMO A DELHI, A IMPRESSÃO É DE MUITA SUJEIRA, PARECENDO QUE ESTÁVA NUMA CIDADE EM PLENA GUERRA.
05h00min AM. NESSE AEROPORTO QUEM RECEBE E FAZ A LIBERAÇÃO NA ENTRADA É A POLÍCIA ARMADA DE FUSÍL E ARMAS DE GRANDE CALÍBRE. COMPREI A PASSAGEM PARA JAIPUR. O AVIÃO DECOLARIA ÁS 10h00min.
JUNTEI TRÊS CADEIRAS, NO SAGUÃO DO AEREOPORTO, PARA NENHUM NEGÃO ASSENTAR PERTO. SEGUREI AS MALAS E TIREI UM COCHILO. ESTAVA COM FOME, MAS NÃO TINHA CORAGEM DE COMER NADA. TUDO MUITO ESTRANHO.
APÓS O COCHILO, LEVANTEI-ME DA CADEIRA E PROCUREI O LOCAL DE EMBARQUE, OUTRA SURPRESA: O EMBARQUE ERA EM OUTRO TERMINAL. OBSERVE, PARA VOCÊS NÃO PENSAREM QUE EU ESTAVA BURRANDO, NAS TELAS, DE IDENTIFICAÇÃO DOS VOOS, SÓ APARECE O VÔO MEIA HORA, ANTES DO EMBARQUE. NÃO HAVIA TAXI. TIVE QUE SAIR E PEGAR UM ÔNIBUS HORRÍVEL, SUPER LOTADO. OS PASSAGEIROS PARECIAM QUE ERAM BIN LADEM COM AQUELAS BARBAS E TURBANTES.
VAMOS LÁ! NÃO SE ESQUEÇAM, ESTAVA COM MUITA FOME. NA HORA DE EMBARQUE, PARA JAIPUR, O AVIÃO ERA PEQUENO, VELHO E DE HÉLICE. MAIS UMA VEZ, A COMIDA, ABORDO, ERA IMPOSSÍVEL ENGOLIR.
DEPOIS DE UMA HORA DE VOO: VIVA JAIPUR! ESTAVA ESPERANDO HÁ MUITO TEMPO A CIDADE ROSADA.
NO TOTAL DOIS DIAS E MEIO DENTRO DE AEROPORTOS E EM AVIÕES.
DE TAXI FUI PARA O HOTEL MUITO CANSADO E COM FOME.
VAMOS FALAR DO TRANSLADO DO AEROPORTO PARA O HOTEL: O AEROPORTO É MUITO PEQUENO PARECE COM O DA CIDADE DE GUANAMBI, AÍ NA BAHIA. A CIDADE ROSADA, JAIPUR, É MUITO SUJA. NUNCA TINHA VISTO TANTA SUJEIRA. MENDIGOS INDIANOS ACOCORADOS, DEFECANDO NO MEIO DA RUA, VENDENDO VERDURAS E OFERTANDO COMIDA DE ODOR FÉTIDO.
JAIPUR É UMA CIDADE ROSA, REALMENTE, MAS ACABABADA E VELHA. TODAVIA, COMECEI A FICAR PREOCUPADO, DEPOIS DE PASSAR POR LONDRES E CHEGAR NESTE FIM DE MUNDO, FIQUEI COM VONTADE DE VOLTAR. IR EMBORA.
ESPERO QUE A IMPRESSÃO DA CIDADE MELHORE.
NO HOTEL FUI MUITO BEM RECEBIDO.
SABIA QUE O HOTEL ERA BOM - SHERATON RAJPUTANA -, MAS REALMENTE FOI UMA SURPRESA. É ALGO MARAVILHOSO. NUNCA FIQUEI NUM HOTEL TÃO LUXUOSO. IGUAL AO COPACABANA PALACE NO RIO DE JANEIRO.
FUI PARA MINHA SUÍTE, IMENSA, COM TUDO QUE TINHA DIREITO, DOIDO PARA COMER E DORMIR.
PEDI UM SANDUDA DE FRANGO E DESCANSEI.
ATÉ MAIS TARDE E BEIJOS.






________________________________________
O

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

CURRICULO AO LEU- de Rozelia Scheifler Rasia

Rozelia Scheifler Rasia* – Cruz Alta - RS



Meus dados de identificação não constam nas academias

Eduquei-me no lar, na roça, na rua, na cama

Desaprendi a aprender na escola

Desacreditei da fé na igreja

Inventei a alma do instinto

Extirpei a cultura das inteligências

Reavivei o hoje na antiguidade



No espectro das características

Estão vivas Helenas e Antígonas

Ressuscitadas Madalenas

Oprimidas Marias

Braços em riste, pés descalços

Piso nas pedras do caminho de todos os Pedros

Esquivo-me do meu nome.



Minhas experiências são não-profissionais

Pela manhã, decifro a esfinge

Á tarde, teatralizo Cleópatra

À noite, distribuo os tesouros dos piratas

Na madrugada, desnudo-me das verdades

Ao amanhecer visto fantasias



Expectativas salariais? Nada.

Consumo flores esquecidas nos canteiros

Leio livros nos sebos

Cubro-me com os lençóis dos fantasmas

Sorvo o orvalho da relva

Janto a luz que descortina o horizonte

Saboreio a brisa soprada pelos deuses

Espanto os demônios das angústias

Procuro o anjo que levou minhas asas.





14 de janeiro de 2009.







* Especialista em Fundamentos Teórico-metodológicos de Ensino e Pesquisa; Mestre em Estudos Literários- UPF

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Um Domingos em apologia de si, dos seus e dos nossos - Por Gustavo Dumas

Um Domingos em apologia de si, dos seus e dos nossos Por Gustavo Dumas

Diretor trabalha com realidade e ficção para compor um retrato sensível de uma geração que transcende épocas.

O milionário Davi (Paulo José), o diretor de teatro e cinema Antônio (Domingos de Oliveira) e o médico Ulisses (Aderbal Freire Filho, ótimo em seu primeiro papel no cinema) reúnem-se para beber, conversar, brincar e, sim, tomar algumas decisões – todas no campo afetivo – depois de mais de cinquenta anos de amizade. O único critério de seleção do encontro, o não comparecimento das respectivas mulheres de cada um dos amigos, acaba servindo para trazê-las, como elemento gerador/motivador dos temas discutidos na récita fraterna. Trata-se "Juventude" (Brasil, 2008), pois, de um filme intimista pero no mucho. O mundo está lá, o tempo todo; o íntimo é mundano e exacerbado como o tanto de diálogos que dão liga ao roteiro. O verbo escancarado demonstra que o tempo da ação apenas fez um breque para a reflexão, tecida com muito humor e picardia por velhos parceiros de cena.


O filme já abre com a fala de Antônio definindo a "sua" geração como a do sonho e suas constantes frustrações. Muito deste sonho era sonho coletivo, ou melhor, sonho pensado por alguns, para um coletivo; produto, portanto, de validade considerada vencida pela história contada pelos vencedores – que a venderam ou vendem. O roteirista e diretor do filme, Domingos de Oliveira, tragou bem cada golpe e continua na lida: seu "Juventude" oferece uma amostra de que essa geração continua viva e produzindo.

Mas, afinal, o que representa uma geração? E as idades, para cada vida e para a vida em sociedade? Juventude é uma criança fazendo arte – e isso fazem Domingos, Aderbal e Paulo José, desde que desde, até não respirarem mais. O caráter espontâneo das falas, a sinceridade do afago e mesmo da bronca entre os amigos da "idade do você está ótimo!" – só uma dentre tantas belas e simples tiradas do longa – torna "Juventude" um filme extremamente cativante e comovente. Antônio, infartado, faz graça com a caseira "flor do campo" que cuida da casa de Davi; ele quer falar e ver o amanhecer. Trata-se de postura respondona diante do breu-silêncio que o espreita: a morte. A geração que transcende épocas e que está representada, enaltecida e revigorada no filme de Domingos é aquela que se dispõe a enfrentar todas as formas de morte que nos assolam, das injustiças sociais aos infortúnios das relações amorosas, do capitalismo cujo fogo tudo consome à morte prática dos projetos de dar cabo de sistema tão espúrio.


A geração incontinenti de Domingos e seus pares parece antenada para o fato de que os simulacros nunca estiveram tão afiados, em seu propósito de desfiliar a vida de sua variedade de sentidos. "O show do eu" – para citar o título do novo livro da argentina Paula Sibilia (Nova Fronteira, 2008) – trata-se na verdade do show de um eunuco, alguéns incontáveis, em profusão pelas cidades, mas que já perderam a potência e se virtualizam para sobreviver. A este "eu" vazio é que se opõe a subjetividade de um "velho" da geração de Aderbal, Paulo e Domingos. Que não precisa ter nascido naquela época, não precisa sequer ter nascido ainda. Não há capa nem máscara a esconder a cara desta turma – seu choro e seu riso, suas dignidades e vicissitudes, generosidades e incoerências estão dispostas. Pudor seria não viver. E este viver disposto encontra-se em oposição ao viver exposto, inócuo diante das janelas-tevê, em forma de produto-em-si. Domingos imbrica a realidade na ficção de maneira a mostrar que ambas podem (e devem) interpretar e interpelar o show diário. Esta provocação de entrelinha habita todo o plano narrativo de "Juventude", que utiliza elementos desprezados pela linguagem dos realitys, como o lúdico, a piada de botequim, o sarcasmo, o livre contar dos causos.


Ao extrair da exposição de teses que poderiam passar por pessoais um mundo de questionamentos universais, Domingos de Oliveira constrói uma obra que, despretensiosamente, faz divertir, emocionar e pensar, contrariando os que acreditam que esses três verbos não podem conviver em uma película.


Gustavo Dumas é escritor e revisor. Publicou, assinando com o heterônimo de Zeh Gustavo, os livros de poesias "A Perspectiva do Quase" (Arte Paubrasil, 2008) e "Idade do Zero" (Escrituras, 2005).
Contato: zehgustavo@yahoo.com.br

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PÉROLAS DE MINHA INFÂNCIA IV-MEU PAI- de Carlos Soares Oliveira

Nunca falei muito de meu pai em meus escritos. Deve ser porque convivemos pouco. Quando faleceu, eu era muito novo, tenros nove anos. Ele com sessenta e três. Mas o pouco que vivi vale ser lembrado. Sim, desde criança vivi tudo intensamente.Tenho uma memória afetiva incrível, sempre guardei tudo que vivi e ouvi. São tijolos na construção do meu ser.

Acho que herdei algumas influências dele. A poesia, por exemplo. Gostava de fazer umas trovinhas e comprava muita literatura de cordel. Aquelas estórias e lendas nordestinas tipo “a peleja de Lampião contra o Diabo”, ou “Deus e o Diabo na terra do sol”, “o dia em que Maria Bunita quis deixar Lampião”. Literaturas sempre bem humoradas apesar de algumas com nomes feios. Depois disso me interessei muito pela cultura nordestina que acho muito rica. Gostava muito também de nos dar conselhos citando ditados populares, gostava de frases de efeito, outra influência. Não tinha muita leitura, mas estava sempre com um dicionário na mão e contrariava quem dizia que o dicionário é o pai dos burros. “Pai dos inteligentes. Quem pesquisa, é inteligente. Burro é quem e não sabe e fica parado”. Outra boa herança. Às vezes exagero um pouco e digo que metade do que sei, foi buscando, pesquisando, que a escola me ensinou apenas a ler e escrever, exageros à parte, tenho uma certa dose de razão. Quando não sei algo ou alguma palavra vou procurar. Uma controvérsia é que ele quando via um avião passar dizia. "Não entro num troço desse nunca". Mal sabia ele que seria meu ramo de trabalho. Nem eu, mas já ficava maravilhado.

Meu pai era alto, moreno bem avermelhado, quase índio. Seus bisavós eram escravos ou índios, não me lembro bem.

Era bravo com os filhos, pai à moda antiga, mas não posso me queixar, comigo não era. Pelo contrário, orgulhava-se de mim perante os amigos que reunia para beber e comer pé de porco e tocar sanfona e violão. “O Carlos, mal chega da aula e já vai fazer os deveres”.Ou. “Ele sabe rezar Pai Nosso e Ave Maria sozinho”. “Ihhh esse menino já lê qualquer coisa.”

Mas isso não era o mais engraçado. Ele simplesmente detestava Roberto Carlos. Claro porque gostava da música caipira de raiz. Outra influência sobre mim, pois com o tempo fui lendo e vendo que a maioria dessas canções são verdadeiras poesias, obras primas mesmo.

Em meio aos amigos na sala, o fiel cachorro Famoso, debaixo do sofá, ele me colocava em sua perna esquerda, a sanfona na direita, e dizia. “Canta aquela do Roberto Carlos”. E eu cantava. “Eu te amo... eu te amo... eu te amo. uou uou uou uou”. E eu ainda punha os dedos apertando o nariz pra ficar fanhoso tentando fazer a voz do Roberto que tem o som bem nasal. Os amigos, e ele ainda mais, riam. Só sei que no final de tudo acabei ficando bem eclético em termos de cultura musical, pois simultaneamente ouvia, Led Zepellin, Bob Dylan, Raul Seixas, Luiz Gonzaga. Tonico e Tinoco, Elton John, Queen, John Lennon, Fagner, enfim, menu bem variado. Acho que os anos 60 e 70 foram os melhores na música.


Quando morreu, eu não tive de imediato a idéia exata do que era aquela perda. Uma semana após o sepultamento, andei a casa toda procurando por ele instintivamente. Não ouvi mais o estalar de chinelos pelo corredor. Vi a sanfona vermelha esquecida no canto do quarto. Só um travesseiro na cama de minha mãe. Assim entendi porque Famoso, na noite do sepultamento uivou a noite toda. Ele estava chorando. A radiola, minha mãe só andou ligando para ouvir a missa aos domingos. Ninguém mais ligou a VOZ DO BRASIL, que meus irmãos e irmãs diziam que era chato demais. Eu não me importava, ora se era o gosto dele. Além do mais, era a certeza que ele estava ali, em casa. Era muito seguro sentir a presença de um pai. Com o correr dos dias, das semanas, é que fui sentindo sua falta, fui percebendo o vazio, pois aquele momento de sentar na perna e poder agradá-lo me fazia bem também. Eu ia à sala, olhava o sofá e procurava aqueles tantos chapéus que os amigos penduravam numa espécie de cabide no canto. Não ouvia mais as gargalhadas de quando eu cantava. Eu gostava do Roberto Carlos, mas não daquela música, achava chata, repetitiva, era mais pela festa mesmo. Famoso nunca mais foi o mesmo. Ficava deitado na porta como se estivesse esperando a volta de alguém. Também já era velho e morreu não muito depois. Os anos passam e é da natureza humana, aceitar, se acostumar, inclusive com a morte, o mistério mais claro dessa vida. Entre tropeços e vitórias cheguei até aqui, mas gostaria muito de ter crescido ao lado dele. É muito difícil crescer sem um pai. Quem já cresceu e ainda tem o seu, cuide dele. Seja tolerante. Respeite seus cabelos brancos. Não ria de seus erros de português, foi graças a ele que você aprendeu a ler. Tenha paciência com suas pernas lentas. Elas já correram muito por você.
Obrigado meu pai. As coisas boas que sei, herdei de você. Uma delas é respeitar os mais velhos. As ruins foram do mundo mesmo.
Continuo gostando de rock, mas ainda me encanto ouvindo uma sanfona bem tocada e quando estou numa roda de viola peço pra tocar as suas caipiras.