quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

DIÁRIO DE VIAGEM- PELOS CAMINHOS DA ÍNDIA- de Gustavo Amarante

1_ DIA 17. SAI DE SALVADOR ÀS 06h00min AM, PARA SÃO PAULO, O VOO DUROU 2 HORAS E TRINTA MINUTOS. VIAGEM TRANQUILA. EM SÃO PAULO DESCANSEI E PEGUEI O AVIÃO PARA LONDRES. O AVIÃO ESTAVA LOTADO. SURPRESA, FUI DE CLASSE EXECUTIVA MAS EM COMPENSAÇÃO TINHA UM NEGÃO AO MEU LADO PEIDANDO A VIAGEM TODA... E FORAM 12 HORAS DE VIAGEM.

2_ DIA 18 EM LONDRES 5: OOAM. O AEROPORTO É ALGO ESPETACULAR. NÃO TIVE NENHUM PROBLEMA DE INDENTIFICAÇÃO. NO AEROPORTO TÊM MILHARES DE LOJAS DE INFORMÁTICA E ARTIGOS FEMININOS.
MAIS 5 HORAS DE ESPERA. ÀS 12 HORAS PM, VIAGEI PARA NOVA DELHI. NUM AVIÃO SUPER LOTADO. COMEÇEI A ENTRAR NO CLIMA DA ÍNDIA. OS INDIANOS VESTIDO COM SUAS ROUPAS ESTRANHAS E TAMBEM AS MULHERES. SÃO ALTAMENTE MAL EDUCADOS. ERAM MAIS 12 HORAS DE VIAGEM. DESTA VEZ FUI DE CLASSE ECONÔMICA, FIQUEI PREOCUPADO COM QUEM ÍA ASSENTAR AO MEU LADO, MAS SENTOU UMA SENHORA E UMA CRIANÇA NORUEGUESA.
NO AVIÃO A COMIDA ERA HORRÍVEL UM FEIJÃO COM ARROZ APIMENTADO E VÁRIOS MOLHOS ESTRANHOS E FEDORENTOS. A ÚNICA COISA QUE DAVA PARA COMER ERA O PÃO. TOMEI TRÊS GARRAFAS DE VINHO DAS PEQUENAS E DORMI.
A CHEGADA EM NOVA DELHI FOI ESTRANHA PORQUE O AVIÃO NÃO DESCIA. FIQUEI OBSERVANDO PELO VÍDEO QUE O AVIÃO ESTAVA DANDO VOLTAS. A AEROMOÇA FALAVA EM INDIANO E INGLÊS MUITO CONFUSO E ÓBVIO QUE O MEU INGLÉS É DEVAGAR, QUASE PARANDO..., E EU NÃO ENTENDIA. AO MEU LADO AS PESSOAS APREENSIVAS. DEPOIS ENTENDI QUE ERA DEVIDO A NEBLINA. FICAMOS MAIS 3 HORAS RODANDO EMCIMA DE NOVA DELHI.
3_ DIA 19. _CHEGUEI EM DELHI, NO AEROPORTO INTERNACIONAl, MAIS OU MENOS, DEPOIS DE 16 HORAS DE VIAGEM. A IMPRESSÃO FOI A PIOR POSSÍVEL.
SURPRESA. TIVE QUE TROCAR DO AEROPORTO INTERNACIONAL. POIS PARA JAIPUR O VOO ERA DOMÉSTICO, EM OUTRO LOCAL. PEGUEI UM TAXI ERA HORRÍVEL E VELHO. NÃO TINHA OUTRO.
NO CAMINHO PARA O AEROPROTO DOMÉSTICO, PROXIMO A DELHI, A IMPRESSÃO É DE MUITA SUJEIRA, PARECENDO QUE ESTÁVA NUMA CIDADE EM PLENA GUERRA.
05h00min AM. NESSE AEROPORTO QUEM RECEBE E FAZ A LIBERAÇÃO NA ENTRADA É A POLÍCIA ARMADA DE FUSÍL E ARMAS DE GRANDE CALÍBRE. COMPREI A PASSAGEM PARA JAIPUR. O AVIÃO DECOLARIA ÁS 10h00min.
JUNTEI TRÊS CADEIRAS, NO SAGUÃO DO AEREOPORTO, PARA NENHUM NEGÃO ASSENTAR PERTO. SEGUREI AS MALAS E TIREI UM COCHILO. ESTAVA COM FOME, MAS NÃO TINHA CORAGEM DE COMER NADA. TUDO MUITO ESTRANHO.
APÓS O COCHILO, LEVANTEI-ME DA CADEIRA E PROCUREI O LOCAL DE EMBARQUE, OUTRA SURPRESA: O EMBARQUE ERA EM OUTRO TERMINAL. OBSERVE, PARA VOCÊS NÃO PENSAREM QUE EU ESTAVA BURRANDO, NAS TELAS, DE IDENTIFICAÇÃO DOS VOOS, SÓ APARECE O VÔO MEIA HORA, ANTES DO EMBARQUE. NÃO HAVIA TAXI. TIVE QUE SAIR E PEGAR UM ÔNIBUS HORRÍVEL, SUPER LOTADO. OS PASSAGEIROS PARECIAM QUE ERAM BIN LADEM COM AQUELAS BARBAS E TURBANTES.
VAMOS LÁ! NÃO SE ESQUEÇAM, ESTAVA COM MUITA FOME. NA HORA DE EMBARQUE, PARA JAIPUR, O AVIÃO ERA PEQUENO, VELHO E DE HÉLICE. MAIS UMA VEZ, A COMIDA, ABORDO, ERA IMPOSSÍVEL ENGOLIR.
DEPOIS DE UMA HORA DE VOO: VIVA JAIPUR! ESTAVA ESPERANDO HÁ MUITO TEMPO A CIDADE ROSADA.
NO TOTAL DOIS DIAS E MEIO DENTRO DE AEROPORTOS E EM AVIÕES.
DE TAXI FUI PARA O HOTEL MUITO CANSADO E COM FOME.
VAMOS FALAR DO TRANSLADO DO AEROPORTO PARA O HOTEL: O AEROPORTO É MUITO PEQUENO PARECE COM O DA CIDADE DE GUANAMBI, AÍ NA BAHIA. A CIDADE ROSADA, JAIPUR, É MUITO SUJA. NUNCA TINHA VISTO TANTA SUJEIRA. MENDIGOS INDIANOS ACOCORADOS, DEFECANDO NO MEIO DA RUA, VENDENDO VERDURAS E OFERTANDO COMIDA DE ODOR FÉTIDO.
JAIPUR É UMA CIDADE ROSA, REALMENTE, MAS ACABABADA E VELHA. TODAVIA, COMECEI A FICAR PREOCUPADO, DEPOIS DE PASSAR POR LONDRES E CHEGAR NESTE FIM DE MUNDO, FIQUEI COM VONTADE DE VOLTAR. IR EMBORA.
ESPERO QUE A IMPRESSÃO DA CIDADE MELHORE.
NO HOTEL FUI MUITO BEM RECEBIDO.
SABIA QUE O HOTEL ERA BOM - SHERATON RAJPUTANA -, MAS REALMENTE FOI UMA SURPRESA. É ALGO MARAVILHOSO. NUNCA FIQUEI NUM HOTEL TÃO LUXUOSO. IGUAL AO COPACABANA PALACE NO RIO DE JANEIRO.
FUI PARA MINHA SUÍTE, IMENSA, COM TUDO QUE TINHA DIREITO, DOIDO PARA COMER E DORMIR.
PEDI UM SANDUDA DE FRANGO E DESCANSEI.
ATÉ MAIS TARDE E BEIJOS.






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O

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

CURRICULO AO LEU- de Rozelia Scheifler Rasia

Rozelia Scheifler Rasia* – Cruz Alta - RS



Meus dados de identificação não constam nas academias

Eduquei-me no lar, na roça, na rua, na cama

Desaprendi a aprender na escola

Desacreditei da fé na igreja

Inventei a alma do instinto

Extirpei a cultura das inteligências

Reavivei o hoje na antiguidade



No espectro das características

Estão vivas Helenas e Antígonas

Ressuscitadas Madalenas

Oprimidas Marias

Braços em riste, pés descalços

Piso nas pedras do caminho de todos os Pedros

Esquivo-me do meu nome.



Minhas experiências são não-profissionais

Pela manhã, decifro a esfinge

Á tarde, teatralizo Cleópatra

À noite, distribuo os tesouros dos piratas

Na madrugada, desnudo-me das verdades

Ao amanhecer visto fantasias



Expectativas salariais? Nada.

Consumo flores esquecidas nos canteiros

Leio livros nos sebos

Cubro-me com os lençóis dos fantasmas

Sorvo o orvalho da relva

Janto a luz que descortina o horizonte

Saboreio a brisa soprada pelos deuses

Espanto os demônios das angústias

Procuro o anjo que levou minhas asas.





14 de janeiro de 2009.







* Especialista em Fundamentos Teórico-metodológicos de Ensino e Pesquisa; Mestre em Estudos Literários- UPF

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Um Domingos em apologia de si, dos seus e dos nossos - Por Gustavo Dumas

Um Domingos em apologia de si, dos seus e dos nossos Por Gustavo Dumas

Diretor trabalha com realidade e ficção para compor um retrato sensível de uma geração que transcende épocas.

O milionário Davi (Paulo José), o diretor de teatro e cinema Antônio (Domingos de Oliveira) e o médico Ulisses (Aderbal Freire Filho, ótimo em seu primeiro papel no cinema) reúnem-se para beber, conversar, brincar e, sim, tomar algumas decisões – todas no campo afetivo – depois de mais de cinquenta anos de amizade. O único critério de seleção do encontro, o não comparecimento das respectivas mulheres de cada um dos amigos, acaba servindo para trazê-las, como elemento gerador/motivador dos temas discutidos na récita fraterna. Trata-se "Juventude" (Brasil, 2008), pois, de um filme intimista pero no mucho. O mundo está lá, o tempo todo; o íntimo é mundano e exacerbado como o tanto de diálogos que dão liga ao roteiro. O verbo escancarado demonstra que o tempo da ação apenas fez um breque para a reflexão, tecida com muito humor e picardia por velhos parceiros de cena.


O filme já abre com a fala de Antônio definindo a "sua" geração como a do sonho e suas constantes frustrações. Muito deste sonho era sonho coletivo, ou melhor, sonho pensado por alguns, para um coletivo; produto, portanto, de validade considerada vencida pela história contada pelos vencedores – que a venderam ou vendem. O roteirista e diretor do filme, Domingos de Oliveira, tragou bem cada golpe e continua na lida: seu "Juventude" oferece uma amostra de que essa geração continua viva e produzindo.

Mas, afinal, o que representa uma geração? E as idades, para cada vida e para a vida em sociedade? Juventude é uma criança fazendo arte – e isso fazem Domingos, Aderbal e Paulo José, desde que desde, até não respirarem mais. O caráter espontâneo das falas, a sinceridade do afago e mesmo da bronca entre os amigos da "idade do você está ótimo!" – só uma dentre tantas belas e simples tiradas do longa – torna "Juventude" um filme extremamente cativante e comovente. Antônio, infartado, faz graça com a caseira "flor do campo" que cuida da casa de Davi; ele quer falar e ver o amanhecer. Trata-se de postura respondona diante do breu-silêncio que o espreita: a morte. A geração que transcende épocas e que está representada, enaltecida e revigorada no filme de Domingos é aquela que se dispõe a enfrentar todas as formas de morte que nos assolam, das injustiças sociais aos infortúnios das relações amorosas, do capitalismo cujo fogo tudo consome à morte prática dos projetos de dar cabo de sistema tão espúrio.


A geração incontinenti de Domingos e seus pares parece antenada para o fato de que os simulacros nunca estiveram tão afiados, em seu propósito de desfiliar a vida de sua variedade de sentidos. "O show do eu" – para citar o título do novo livro da argentina Paula Sibilia (Nova Fronteira, 2008) – trata-se na verdade do show de um eunuco, alguéns incontáveis, em profusão pelas cidades, mas que já perderam a potência e se virtualizam para sobreviver. A este "eu" vazio é que se opõe a subjetividade de um "velho" da geração de Aderbal, Paulo e Domingos. Que não precisa ter nascido naquela época, não precisa sequer ter nascido ainda. Não há capa nem máscara a esconder a cara desta turma – seu choro e seu riso, suas dignidades e vicissitudes, generosidades e incoerências estão dispostas. Pudor seria não viver. E este viver disposto encontra-se em oposição ao viver exposto, inócuo diante das janelas-tevê, em forma de produto-em-si. Domingos imbrica a realidade na ficção de maneira a mostrar que ambas podem (e devem) interpretar e interpelar o show diário. Esta provocação de entrelinha habita todo o plano narrativo de "Juventude", que utiliza elementos desprezados pela linguagem dos realitys, como o lúdico, a piada de botequim, o sarcasmo, o livre contar dos causos.


Ao extrair da exposição de teses que poderiam passar por pessoais um mundo de questionamentos universais, Domingos de Oliveira constrói uma obra que, despretensiosamente, faz divertir, emocionar e pensar, contrariando os que acreditam que esses três verbos não podem conviver em uma película.


Gustavo Dumas é escritor e revisor. Publicou, assinando com o heterônimo de Zeh Gustavo, os livros de poesias "A Perspectiva do Quase" (Arte Paubrasil, 2008) e "Idade do Zero" (Escrituras, 2005).
Contato: zehgustavo@yahoo.com.br

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PÉROLAS DE MINHA INFÂNCIA IV-MEU PAI- de Carlos Soares Oliveira

Nunca falei muito de meu pai em meus escritos. Deve ser porque convivemos pouco. Quando faleceu, eu era muito novo, tenros nove anos. Ele com sessenta e três. Mas o pouco que vivi vale ser lembrado. Sim, desde criança vivi tudo intensamente.Tenho uma memória afetiva incrível, sempre guardei tudo que vivi e ouvi. São tijolos na construção do meu ser.

Acho que herdei algumas influências dele. A poesia, por exemplo. Gostava de fazer umas trovinhas e comprava muita literatura de cordel. Aquelas estórias e lendas nordestinas tipo “a peleja de Lampião contra o Diabo”, ou “Deus e o Diabo na terra do sol”, “o dia em que Maria Bunita quis deixar Lampião”. Literaturas sempre bem humoradas apesar de algumas com nomes feios. Depois disso me interessei muito pela cultura nordestina que acho muito rica. Gostava muito também de nos dar conselhos citando ditados populares, gostava de frases de efeito, outra influência. Não tinha muita leitura, mas estava sempre com um dicionário na mão e contrariava quem dizia que o dicionário é o pai dos burros. “Pai dos inteligentes. Quem pesquisa, é inteligente. Burro é quem e não sabe e fica parado”. Outra boa herança. Às vezes exagero um pouco e digo que metade do que sei, foi buscando, pesquisando, que a escola me ensinou apenas a ler e escrever, exageros à parte, tenho uma certa dose de razão. Quando não sei algo ou alguma palavra vou procurar. Uma controvérsia é que ele quando via um avião passar dizia. "Não entro num troço desse nunca". Mal sabia ele que seria meu ramo de trabalho. Nem eu, mas já ficava maravilhado.

Meu pai era alto, moreno bem avermelhado, quase índio. Seus bisavós eram escravos ou índios, não me lembro bem.

Era bravo com os filhos, pai à moda antiga, mas não posso me queixar, comigo não era. Pelo contrário, orgulhava-se de mim perante os amigos que reunia para beber e comer pé de porco e tocar sanfona e violão. “O Carlos, mal chega da aula e já vai fazer os deveres”.Ou. “Ele sabe rezar Pai Nosso e Ave Maria sozinho”. “Ihhh esse menino já lê qualquer coisa.”

Mas isso não era o mais engraçado. Ele simplesmente detestava Roberto Carlos. Claro porque gostava da música caipira de raiz. Outra influência sobre mim, pois com o tempo fui lendo e vendo que a maioria dessas canções são verdadeiras poesias, obras primas mesmo.

Em meio aos amigos na sala, o fiel cachorro Famoso, debaixo do sofá, ele me colocava em sua perna esquerda, a sanfona na direita, e dizia. “Canta aquela do Roberto Carlos”. E eu cantava. “Eu te amo... eu te amo... eu te amo. uou uou uou uou”. E eu ainda punha os dedos apertando o nariz pra ficar fanhoso tentando fazer a voz do Roberto que tem o som bem nasal. Os amigos, e ele ainda mais, riam. Só sei que no final de tudo acabei ficando bem eclético em termos de cultura musical, pois simultaneamente ouvia, Led Zepellin, Bob Dylan, Raul Seixas, Luiz Gonzaga. Tonico e Tinoco, Elton John, Queen, John Lennon, Fagner, enfim, menu bem variado. Acho que os anos 60 e 70 foram os melhores na música.


Quando morreu, eu não tive de imediato a idéia exata do que era aquela perda. Uma semana após o sepultamento, andei a casa toda procurando por ele instintivamente. Não ouvi mais o estalar de chinelos pelo corredor. Vi a sanfona vermelha esquecida no canto do quarto. Só um travesseiro na cama de minha mãe. Assim entendi porque Famoso, na noite do sepultamento uivou a noite toda. Ele estava chorando. A radiola, minha mãe só andou ligando para ouvir a missa aos domingos. Ninguém mais ligou a VOZ DO BRASIL, que meus irmãos e irmãs diziam que era chato demais. Eu não me importava, ora se era o gosto dele. Além do mais, era a certeza que ele estava ali, em casa. Era muito seguro sentir a presença de um pai. Com o correr dos dias, das semanas, é que fui sentindo sua falta, fui percebendo o vazio, pois aquele momento de sentar na perna e poder agradá-lo me fazia bem também. Eu ia à sala, olhava o sofá e procurava aqueles tantos chapéus que os amigos penduravam numa espécie de cabide no canto. Não ouvia mais as gargalhadas de quando eu cantava. Eu gostava do Roberto Carlos, mas não daquela música, achava chata, repetitiva, era mais pela festa mesmo. Famoso nunca mais foi o mesmo. Ficava deitado na porta como se estivesse esperando a volta de alguém. Também já era velho e morreu não muito depois. Os anos passam e é da natureza humana, aceitar, se acostumar, inclusive com a morte, o mistério mais claro dessa vida. Entre tropeços e vitórias cheguei até aqui, mas gostaria muito de ter crescido ao lado dele. É muito difícil crescer sem um pai. Quem já cresceu e ainda tem o seu, cuide dele. Seja tolerante. Respeite seus cabelos brancos. Não ria de seus erros de português, foi graças a ele que você aprendeu a ler. Tenha paciência com suas pernas lentas. Elas já correram muito por você.
Obrigado meu pai. As coisas boas que sei, herdei de você. Uma delas é respeitar os mais velhos. As ruins foram do mundo mesmo.
Continuo gostando de rock, mas ainda me encanto ouvindo uma sanfona bem tocada e quando estou numa roda de viola peço pra tocar as suas caipiras.

domingo, 18 de janeiro de 2009

EM TEMPOS, PARA ESCLARECER.

CÂMARA BAHIANA DO LIVRO.

BAHIANA COM H MESMO, NÃO É INVENÇÃO MINHA.

sábado, 17 de janeiro de 2009

CITAÇÕES- TERESA de Aurélio Shommer

Mamãe dizia: "filha, a vida da mulher depende do marido que lhe calha; viver bem é dar conta de ter bom marido". Engraçado. É do senso comum que a mulher amadurece com o casamento. Casando aos 16 anos, emancipa: "deixou de ser menina para ser mulher". Assim, cabe viver de e para o marido, em função deste. Já o homem, como nunca amadurece, tanto faz quem lhe sirva de esposa. É irrelevante em meio a suas preocupações mais elevadas com o futebol (brincadeira com bola), a filosofia (brincadeira com as palavras), o sexo (brincadeira com as amantes e prostitutas), a velocidade (brincadeira com carros) e a carreira (brincadeira para ver quem é mais esperto). A chata da mulher cônjuge existe-lhe como um apêndice, parte de seus utensílios, da modorrenta vida que transcorre no intervalo entre seus excitantes afazeres lúdicos.

Seguindo a sina de ter a mãe como espelho e conselheira-mor, casei cedo, 17 anos, com Alfredo. Contínuo, convencional a mais não poder, era fã de Nelson Rodrigues. Para tudo tinha uma citação deste. Se via algo no Jornal Nacional sobre o país, disparava: "o que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro", como se houvesse uma inaudita sabedoria em tal aforismo. A propósito, ele não apenas assistia ao noticiário da Globo. Engatava com a novela e, se fosse quarta-feira, com o futebol. E lá ia eu para a cama contar carneirinhos. Com o tempo passei a evitar até a novela. Olhava a da tarde, em reprise, quando ele estava no trabalho. Ao seu lado, tinha que agüentar seus comentários constantes: "crápula este aí", "cachorra" aquela outra, "oportunista" um terceiro. Fazia-os assim, com esta constância, para imitar seu líder, que afinal opinara sobre todos os assuntos humanos e alguns do mundo zoológico.

Não que eu desgostasse do grande "anjo pornográfico". O problema é que este fora um sujeito espirituoso, inteligente, elaborara suas próprias idéias. Alfredo, ao contrário, carecia de inteligência própria. Limitava-se a imitar, quando não ao Nelson, a qualquer outro, nem que fosse o vizinho: "comprou um pastor alemão, acho que vou fazer o mesmo". Tal falta de criatividade tinha conseqüências graves na cama: era o mesmo tema, sem variações: "vupt, vupt, vupt, ahhhhhhhhhhh". Seria melhor fazer sexo com o pastor alemão. Nosso casamento só melhorou quando soltou uma "lapidar" do mestre (que, ao contrário de Alfredo, nunca se levou a sério) ainda desconhecida para mim: "Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!". Desta eu gostei. Passei a amar meu médico, meu dentista, o professor da faculdade, e, melhor de todos, o porteiro de um prédio da vizinhança. Ah, este não tinha igual. Mesclava força bruta a servilismo, pegando-me em pé, todo suado, num canto da garagem. Melhor que o pastor alemão.

Quando Alfredo começou a desconfiar do porquê da alegria constante e inédita em meu semblante (levou um bom tempo para perceber, afinal), questionando-me a respeito, respondi na bucha, certeira, com outra citação de Nelson: "o marido não deve ser o último a saber; o marido não deve saber nunca". Ficou tão contente com meu achado que aplaudiu. A partir dali até melhorou na cama. "Amar é ser fiel a quem nos trai", explicar-lhe-ia o guru, se consultado sobre tão súbito arrebatamento. O problema com nós mulheres é que num ponto crucial somos idiotas. Não nos damos conta das óbvias vantagens de ter um corno manso como cônjuge. Passamos a enxergar na galhada crescente em sua testa um motivo para desprezo. "Como pode ser tão crédulo?". É, pessoas que acreditam são de fato insuportáveis por longos períodos. Um dia, deixei-lhe um bilhete com outra máxima do mesmo autor, seguida de um adeus: "O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira".

Apesar da "bandalheira", continuava a acreditar na necessidade de ter um marido. Entre meus amantes, escolhi Plauto, o professor da faculdade, para preencher a vaga de titular da minha cadeira. Mais velho, aparentemente mais inteligente que Alfredo, calmo e gentil. Expliquei-lhe logo que odiava citações. "Elas pesam", observei. Por algum tempo, respeitou minha objeção, até o dia em que acusei uma professora rival em minha escola de má fé e consegui que fosse demitida. Estava louca para processá-la também na justiça pelas ofensas sem provas que me havia dirigido, danos morais evidentes, quando Plauto saiu-me com Voltaire: "o vencedor que se vinga não é digno de ter vencido". Pronto, abandonei a causa. Como argumentar contra tal sentença, tão definitiva, tão impregnada de uma moral incontestável?

Seu pior defeito, porém, era a arrogância. Levava a classificação da espécie ("homo sapiens" – homem que sabe) ao pé da letra. Se eu mandava ele matar uma barata ("uma das duas únicas utilidades de um homem, a outra é abrir conservas"), argumentava sobre a importância ecológica da existência de tal ser, que pisar em cima dela era uma covardia, além do que sua periculosidade era um mito, e o medo irracional que as mulheres têm de barata uma neurose específica que Freud explicava. Na falta de argumentos, catei um inseticida. Eu mesma ia dar conta do recado. Pra quê? Tive que agüentar a ladainha politicamente correta: "estamos envenenando o mundo, acabando com a ordem da natureza". Como se a existência humana moderna fosse compatível com a manutenção do meio natural intocado. Que ódio!

Não se contentava, porém, apenas em se afirmar. Precisava desprezar o que eu fazia. E nada melhor para tal que uma citação de autor famoso. Plauto deixara a cátedra para dedicar-se apenas à pesquisa em sua área, a Antropologia. Justificou-se com esta pérola de Diderot, própria para colocar-me em baixo da sola de seu sapato: "a pessoa que ensina a ciência não é a mesma que entende dela e a realiza com seriedade, pois a esta não sobra tempo para ensinar". Claro, quem era eu para entender de alguma coisa, uma reles professora do ensino fundamental? De todos, o que mais ele idolatrava era Schopenhauer, aquele alemão devasso que passou a vida a criticar todos menos a si mesmo. Inspirado nele, ficava horas ouvindo ópera em alto volume à busca da verdade última e definitiva que tal filósofo vira na arte musical. "A música é mais elevada que tudo, inclusive o sexo", dizia Plauto, citando a si mesmo. Devia achar isso com sinceridade, pois passava muito mais tempo deleitando-se com aquela do que praticando este último, "movimentos ridículos", como gostava de definir.

Antes que eu saísse à procura de novos amantes, tendo que dividir a cama oficial com outro corno manso, aproveitei uma ida dele ao Xingu (pesquisa de campo) a título de contemplar a pureza de propósitos dos índios (ah, de novo a credulidade, que saco!), e pintei toda a parede da sala com uma citação de Schopenhauer que lhe cabia como uma luva. Não foi nem preciso acrescentar "adeus" nesta: "diante da imponente erudição de tais sabichões, às vezes digo para mim mesmo: ah, essa pessoa deve ter pensado muito pouco para poder ter lido tanto!".

Oscar Wilde, que assumiu seu homossexualismo (todos os homens o são, alguns não admitem), definiu com precisão os motivos que levam a um novo casamento: "quando uma mulher se casa pela segunda vez, é sinal de que detestava o primeiro marido. O homem, ao contrário só torna a casar se adorou sua primeira mulher". De fato, detestara os dois anteriores. Como acreditava no "triunfo da esperança sobre a experiência" (Samuel Johnson), engatei um terceiro, Florêncio. Enfim, um cavalheiro à moda antiga. Dava flores, pagava a conta do restaurante, abria a porta do carro. Tá certo que era um Escort pra lá de usado preste a pedir asilo num ferro-velho, contudo o que valia era a intenção.

Embora seu enredo nos encontros com fins libidinosos (adoro "fins libidinosos" porque está no Código Penal, o melhor livro sobre sexo que já li, tem até "mulher honesta", um fetiche insuperável) fosse um tanto repetitivo, a dedicação contínua compensava. O problema foi quando Florêncio (os pais devem odiar muito o recém-nascido para dar um nome desses, não?) apaixonou-se. Sim, porque todo apaixonado é um bobalhão elevado ao cubo. Revelou-se seu lado mais abominável: a pieguice. Fazia questão de ser o mais kitsch entre os bregas. O pior é que ele não declamava, cantava, com sua voz em 78 rotações. Ah, que suplício. Passava por todas as línguas latinas. "Besame Mucho", em espanhol; "Ne Me Quite Pas", em francês; "Dio Come Ti Amo", em italiano. E dá-lhe "quiero tenerte muy cerca, mirarme en tus ojos, verte junto a mi; pienso que tal vez mañana yo ya estaré lejos, muy lejos de ti". Em português, graças ao bom Deus, não cantava muito, pois nesta língua só tem música de corno. É impressionante como o brasileiro tem vocação para a coisa. De "Motoqueiro", de Almir Rogério (Uma moto foi embora da cidade/Que infelicidade/Ela foi sentada atrás), a "Eu Te Amo", de Chico Buarque e Tom Jobim (Se juntos já jogamos tudo fora/Me conta agora como hei de partir), é um tal de lamentar a perdida que deu no pé, uma choradeira sem fim.

Ainda bem que ele não ousou "Côncavo e Convexo", de Roberto Carlos, ou ter-me-ia transformado em assassina em legítima defesa do bom gosto. Mesmo assim, quem tem hálito de açúcar acaba ficando com todos os dentes cariados e podres. Florêncio, que nunca se deu conta da filosofia de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa): "todas as cartas de amor são ridículas", deve ter ficado cantando "No Rancho Fundo" (Ary Barroso e Lamartine Babo) até encontrar outra "Marília" (de Dirceu), o que não seria difícil, pois, é inelutável reconhecer, algumas moças ainda admiram o lirismo, este que, como bem assinalou Eça de Queiroz, em 1871, deveria ser multado por ofensa à higiene. Sim, porque eu caí fora, finalmente convencida de que minha mãe não tinha razão.

O feminismo está morrendo. Melhor assim. Um movimento que pretendia nos igualar a quem nos é muito inferior, os homens, não merecia ter futuro. A mulher se basta. Não precisa de acessórios, ilusões e bravatas para seguir em frente. Um homem velho solitário é ruína sem misericórdia, um farrapo entregue à bebida ou, no mínimo, à irrelevância. Se lhe sobrar algum dinheiro, poderá dar-se com sofreguidão, patético, aos enganosos prazeres do sexo com as mais jovens. A mulher mantém sua classe, seu estilo, sua independência, sem jamais perder o charme, este que resiste ao esvair-se da efêmera beleza da juventude.

Depois de minhas três experiências com maridos comuns, todos tão limitados, apostei no sexo casual, este sim uma grande conquista feminina. Sair por uma noite, transar sem preocupações em agradar e, ao final, nunca deixar o número do telefone. Sexo é território feminino, Eros. Para comprová-lo, basta comparar nossa masturbação com a deles. "Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma", para citar novamente Nelson Rodrigues. Não precisa nem ser bonita. Nosso gozo é quente, intenso, ao mesmo tempo suave, reconfortante, reparador. Já um homem a se masturbar é uma imagem burlesca, digna de pena, quanto mais que acaba naquela explosão melada, branca, azeda e fria. Acabar é bem o termo, pois morre ali o que nunca foi grande coisa. Viver bem é dar conta de não ter marido, ou, se o tiver, de não lhe dar tanta importância


Aurélio Schommer é escritor baiano e diretor da Câmara Bahiana do Livro

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

CÂMARA BAHIANA DO LIVRO-de Carlos Vilarinho

Em tempos de crise, guerra e reforma nada mais natural do que enfrentar desafios. Assim fui convidado para compor, liderar presidindo uma entidade singular e essencial para o desenvolvimento da cultura e do conhecimento. A Câmara Baiana do Livro. Aceitei depois de saber quem trabalharia comigo. Como vice-presidente, o quadrinhista Antonio Cedraz, já consagrado e reconhecidamente um grande artista baiano, criador da Turma do Xaxado. Os autores Aurélio Schommer, Maria do Carmo Salomão, Valdeck de Jesus, além de a forte parceria com a SEGlivros-distribuidora, todos esses formando a nova diretoria atuante. Assumimos sabendo da dificuldade e da situação enferma financeiramente em que se encontra a Câmara. Aos poucos mudaremos o tempo verbal do presente para o pretérito, logo, logo usaremos “encontrava-se”. Desde fins de dezembro fazemos incansáveis reuniões. Decidimos de imediato credibilizar a Câmara, sobretudo diante dos autores baianos. Claro, o autor é o mais prejudicado se não houver atuação de uma entidade que deveria e deverá lhe servir. Em reuniões decidimos trabalhar para que a Câmara Bahiana do Livro não fique de fora dos principais eventos literários. Sem dinheiro estamos todos os dias em negociação para participarmos da Bienal do Livro da Bahia, intuito já praticamente conseguido, certamente o martelo será batido quarta-feira 22/01/09 numa reunião que terei na Fagga Eventos, produtora do evento. Em parceria privada e particular deveremos organizar quatro feiras de livros aqui em Salvador e no interior. Duas na capital e duas no interior até o final do ano. Pegando carona nas feiras de livros surgiu inusitadamente a idéia de levar às prefeituras do estado títulos de autores baianos para negociação e adoção pelos governos municipais. A SEG-livros se encarregará de fazer a ponte entre prefeituras e autores cabendo para cada um, no caso de venda, a seguinte porcentagem: 20% para o distribuidor (SEG-livros), 30% Câmara Bahiana do Livro e 50% para o autor. Projeto já em ação. Os outros dois projetos mais importantes para realizar-se em 2009, são: a renovação do convênio feito pela gestão anterior com a Assembleia Legislativa do Estado para edição e lançamento de quatro livros inéditos de autores associados da Câmara, em regime de concurso interno é que serão escolhidos esses autores, ficando de fora os que já foram contemplados no ano anterior. Nesse caso eu, Gilberto Amarante e Valdeck de Jesus não poderemos concorrer, pois fomos os vencedores de 2008. O segundo projeto e tão significativo quanto os outros: pela primeira vez a presença da Câmara Bahiana do Livro na Bienal do Rio de Janeiro 2009. Projeto este que já começarei a tratar com a Fagga-eventos na reunião do dia 22/01/09 como dito aí em cima. E ainda, sem falar muito pois a idéia é infante, um projeto de um selo de edição de autores baianos.

Enfim gostaria de convidar o autor a participar. A Câmara é onde você terá vez e voz. Somos democraticos vemos com bons olhos a presença do autor nas assembleias e nas reuniões de diretoria também. Convido-o novamente a você autor a associar-se e participar, compartilhar idéias para crescermos juntos. O endereço da Câmara Bahiana do Livro é na rua General Labatut, Barris, Biblioteca Pública segundo andar, ou email para cbal@terra.com.br, c.vilarinho@yahoo.com.br.

Carlos Vilarinho
Presidente da Câmara Bahiana do Livro

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

CONVERSA SEM SENTIDO PRA DEDÉU- de Carlos Vilarinho

Palavra, frase, morfema.
Ideia, pensamento, papel.
Período, parágrafo, fonema.
Fantasia, credo, labéu.
Sufoco, suor, emblema.
Grafia, desenho, céu.
Sapiência, ignorância, problema.
Natureza, off set ao léu.
Texto, significante/significado, teorema.
Conto, crônica, cordel.
Antônimo, sinônimo, clara ou gema?
Conversa sem sentido pra dedéu.
Índio, Alencar, Iracema.
Mais vale o tabaréu,
Que não liga para tema.
Ou melhor, ser pinel,
Levar a vida sem lema.
Impressão, imagem, papel.
Língua, reforma sem trema.
Leitura, cor, pincel.
Aaah, mas que dilema!
Ler as revistas Marvel,
Ou parar de escrever o poema...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

UM SOL PARA MIM- de Carlos Soares Oliveira

Todos nós temos fases. Alguns chamam de roda gigante, eu chamo de tobogã ou montanha russa. É mais emocionante. Comparo e reflito minhas fases nos meus escritos. Quem é íntimo de mim sabe o quanto sou explícito e deixo emoções brotarem pelos poros, pelos olhos e pelas linhas. Ruim ou bom? Não sei, mas sei que não sei ser diferente.

Lendo escritos antigos e atuais, nos paralelos que traço eu me vejo... Oscilando nesse tobogã, perigosamente, é verdade, mas deliciosamente também. Nessa reciclagem percebo três detalhes. Um... principalmente quando mais jovem, sempre precisei ter ao lado, alguém ,não necessariamente namorada, mas talvez um amigo ou amiga, para ajudar, elogiar, empurrar e até vigiar e brigar. Sim, vigiar e brigar, porque eu não confiava muito em mim. Não tinha muito juízo. Também não sei se já tenho, mas não gosto de ficar me testando. Dois... durante minhas fases negras, sejam de ordem financeira, psicológica, emocional, foi que eu escrevi alguns de meus melhores trabalhos, apesar de obscuros, controvertidos, tristes, soturnos, revoltados, narcisistas. Em FÊNIX, talvez a mais triunfal, tento dizer a alguém que eu venci. Em ÍCARO MODERNO, meu desejo de voar sem temer que o sol derreta minhas asas e que eu possa fazer versos ao universo. Em AQUI JAZ UMA FLOR, peço socorro na solidão. Em NARCISO, peço pra ficar sozinho mergulhado no lago do meu amor por mim, tipo “se eles não me querem, eu também não os quero”. Numa fase bem perigosa, escrevi SENSAÇÕES, onde me olho no espelho e depois de quebrá-lo, peço para morrer para começar tudo de novo. Como se fosse possível. Em PSEUDO, não acredito em liberdade real nem felicidade total. Loucura e genialidade num mesmo patamar, separadas por uma linha tênue do sim e do não. Quase fiel, quase na lei.Quase amado, quase amei. Vivi a esmo, afinal é tudo faz de conta mesmo.

O terceiro detalhe que percebo nessa reciclagem é que de um ano pra cá, meus poemas têm ganhado um tom mais leve, mais brando, com palavras fluindo como brisa, como água num regato. Nada de temas pesados, rebeldes. Só temas de amor, amizade, esperança. Borboletas no ar. Pôr-do-sol perfeito. Passarinhos na janela. Pessoas rindo fácil. Em algumas eu pareço até um adolescente escrevendo. Agora eu falo de SINTONIA, EXPLOSÃO, imagino quadros que nem DA Vinci pintaria. Vivendo MIL ENCANTOS. Enfim, uma nova fase em que a vida proporcionou um sol para mim: será o AMOR??? Com certeza!!!

Carlos Soares de Oliveira

sábado, 10 de janeiro de 2009

ENTREVISTA COM CARLOS MOORE

Professor de literatura, amigo da velha guarda da Ufba e, assim como eu, amante da literatura, Nelson Maca me deu a honra de postar no blog a entrevista com Carlos Moore, ativista negro, cubano das antigas. Coloquei alguns trechos para sentirmos o peso das palavras negras. Sem duplo sentido, negras da raça mesmo.

Valeu, Nelson!


Carlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Doutor em Ciências Humanas e Doutor em Etnologia da Universidade de Paris-7 na França, ele é atualmente Chefe de Pesquisa (Sênior Research Fellow) na Escola para Estudos de Pós Graduação e Pesquisa da University of the West Indies (UWI), Kingston, Jamaica.

Ele foi consultor pessoal para assuntos latino-americanos do Secretário Geral da Organização da Unidade Africana (atualmente União Africana), Dr. Edem Kodjo, de 1982 a 1983, e consultor pessoal do Secretario Geral da Organização da Comunidade do Caribe (CARICOM), Dr. Edwin Carrington, de 1966 a 2000. Foi assistente pessoal do professor Cheikh Anta Diop, diretor do Laboratório de Radiocarbono do Instituto Fundamental da África Negra, de 1975 a 1980, em Dakar, Senegal.

Autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, seus livros são: Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba (Chicago: Lawrence Hill Books, 2008); A África que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008); Racismo & Sociedade (Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA, 1989); This Bitch of a Life (London: Allison e Busby); Cette Putain de Vie (Paris: Karthala, 1982).

Agradecemos, novamente, ao Mestre Carlos Moore, pelas respostas desdobradas respeitosa e cuidadosamente ao Gramática da Ira.


Nelson Maca - Blackitude.Ba.


Gramática da Ira (GI) - Professor Carlos Moore, antes de tudo, é uma honra para nós entrevistar um homem de sua envergadura histórica e importância política. Um negro que, apesar de uma vida tão aguerrida, soube permanecer lúcido e incorruptível. Além do mais, simples e acessível aos que chegam. Professor, diz pra gente como o Senhor gosta de ser apresentado na intimidade e nos espaços das várias lutas que tem sido sua vida.

Carlos Moore (CM) - Obrigado pelas considerações singelas. A auto-definição é sempre problemática, porque os humanos têm uma marcada tendência a se projetar de maneira exclusivamente positiva. Ora, a realidade não é sempre essa. Eu tenho cometido tantos erros na minha vida política e na minha vida pessoal, que para me definir completamente, implicaria a admissão desses erros. Eu me vejo como uma pessoa que teve de lutar muito para adquirir a identidade racial, a serenidade humana, que possuo hoje. Por isso, eu me auto-defino, fundamentalmente, como um crítico social, como um militante das causas sociais. Me sinto muito privilegiado, como militante, porque tive a honra de ter militado ao lado de homens e mulheres hoje considerados como ilustres: Malcolm X, Cheikh Anta Diop, Aimé Césaire, Maya Angelou, Stokely Carmichael, Lelia Gonzalez, Walterio Carbonell, Abdias Nascimento, Harold Cruse, Alex Haley, e tantos outros e outras. Todas essas figuras ocuparam um lugar importante no combate que, ao meu ver, constitui a maior das causas sociais que a humanidade tem sido obrigada a sustentar: o combate contra o ódio racial, contra a opressão racial, e contra as discriminações e vexames de todo tipo que são inerentes a esse fenômeno criado pela história das relações dos humanos entre si. Sinto orgulho de tê-los acompanhado nessa trajetória de combate por um mundo melhor para todos nós.

GI- Por que o Senhor escolheu o Brasil para viver atualmente, e, mais especificamente, por que Salvador?


CM- Porque no Brasil me sinto perfeitamente em casa e em família. É uma questão de sentimento, o que é algo eminentemente subjetivo. Não estamos falando do terrível drama que constituem as abissais desigualdades sociorraciais existentes no Brasil. Há poucos países nos quais eu me sinto realmente em casa: o Senegal, o Haiti, a Trinidad e, naturalmente, a Cuba. O Brasil é um desses países onde eu não me sinto como um estrangeiro, mas como se tivesse nascido nele. Salvador é, para mim, como a terra que me viu nascer. Amo muito essa cidade, o povo, o jeito, as ruas, os prédios, o mar. Porém, tenho decidido morar no Brasil até o momento do meu retorno a Cuba. E quando esse dia chegar, sei que irei embora com muita tristeza no meu coração, pois o Brasil tem se convertido, também, no meu país.


GI- O Senhor é conhecido, internacionalmente, como um dissidente do regime cubano de Fidel Castro, principalmente por questões que envolvem os conflitos raciais. O Senhor pode nos falar um pouco sobre sua percepção histórica desses conflitos, e como tem sido sua relação com os ativistas marxistas do movimento social negro que admiram profundamente a revolução cubana?


CM- Teria que escrever todo um livro para responder a isso, o que já fiz em Pichón: Race and Revolution in Castros’s Cuba (Raça e Revolução na Cuba castrista), que acaba de ser publicado nos Estados Unidos. A minha disputa com o regime Cubano foi violenta porque esse regime decidiu que ele não tinha por que discutir com um “bando de neguinhos equivocados”, como a liderança castrista nos qualificou. Eles pensaram que, como eles eram brancos, inteligentes, marxistas e antiimperialistas, nós, negros, só tínhamos que nos alinhar sob comando deles, e seguir as instruções políticas que eles nos davam. Ou seja, que deveríamos arriscar as nossas vidas no combate contra o inimigo imperialista, e, claro, trabalhar para edificar a nova sociedade socialista. Mas, como bons soldados negros marxistas, devíamos nos calar no que diz respeito aos problemas da sociedade cubana, sobre as grandes decisões políticas, e seguir as instruções dos nossos dirigentes super-inteligentes. Mas, nós que tínhamos outra idéia da Revolução, achamos que havia algo de errado nessa relação que nos propunha a liderança castrista – composta em mais de 95% por brancos provindos da alta burguesia e da classe media cubana. Pensávamos que havia que encarar a situação racial em Cuba como primeiro passo na construção do socialismo e da igualdade, mas essa liderança respondeu que em Cuba não havia racismo; que vivíamos numa “sociedade mestiça” onde todos os cubanos eram “mulatos”; que o socialismo estava “além da raça”, e que a única cor na Cuba revolucionaria era a “Cor Cubana”. Claro, compreendemos que se tratava da demagogia de sempre, a mesma que tinha sido usada durante todo o período republicano anterior, e que a liderança revolucionária tinha recuperado, para elaborar uma nova ideologia mentirosa baseada numa suposta “pos-racialidade socialista”. É por isso que o movimento negro Cubano daquele momento, ou seja, o período de 1959 até 1965, chocou-se, quase de imediato, com a nossa liderança revolucionária. Esta última estava composta por homens e mulheres que usufruíam de grande prestígio, dentro e fora do país, e que estava liderada por um dos grandes gênios políticos do século XX: o Fidel Castro Ruz. Sabíamos disso, mas também sabíamos que Fidel Castro Ruz não era Deus, e que mesmo se ele o fosse, ele estava cometendo uma barbaridade em relação à questão racial. Assim, todos aqueles que levantaram as suas vozes para alertar o regime revolucionário que ele estava levando Cuba por um caminho errado no que diz respeito à questão racial, fomos catalogados como “negros ingratos” e, finalmente, como “racistas negros” e “negros contra-revolucionários”. A partir daí, a impossibilidade de diálogo com o regime se tornou patente, e terminou em confronto. Como as forças em presença eram desiguais, pois eles tinham o poder do Estado e nós somente o poder das nossas idéias, nós fomos impiedosamente esmagados. Em resumo, isso foi o que aconteceu. Fidel Castro, Che Guevara e Raúl Castro tinham sido elevados ao estatuto de Deuses gregos. Ninguém que tivesse idéias diferentes aos deles tiveram o direito de ser ouvidos. Nós, dissidentes revolucionários negros, devíamos nos prostrar diante deles de maneira obsequiosa, submissa e covarde, ou ser esmagados. Então, fomos detidos, enviados para as cárceres abomináveis que o regime já tinha aberto, ou para os diferentes campos de trabalho forçado que já existiam no país, ou enviados para a destruição mental nos hospitais psiquiátricos. O mais célebre desses casos foi o do grande pensador Walterio Carbonell, demolido num manicômio. Cinqüenta anos tiveram de transcorrer para que o mundo começasse a se perguntar o qué é que estava ocorrendo em Cuba com a população negra majoritária? Foram cinqüenta anos de defesa do “paraíso pós-racial” cubano pela esquerda toda, branca ou negra. Inclusive, essa novela continua sendo de atualidade em praticamente toda a chamada América Latina - principalmente em países como o Brasil - onde a esquerda é de um infantilismo racista digno de estudo pelos psicanalistas. Eles pensam que os Cubanos negros não tem o direito de se opor a um regime que os oprime de um jeito similar à maneira em que os militares oprimiram aos brasileiros durante duas décadas. Não tão somente em América “Latina” mas no mundo inteiro, essa esquerda marxista tem problemas sérios quanto à analisar a questão racial, ou quanto a se relacionar com os negros, individualmente, ou como coletividade racial que tem um percurso histórico singular.


.GI- Em todo o Brasil, o Senhor tem feito palestras, conferências e cursos que envolvem questões ligadas ao panafricanismo e à história do movimento social negro no mundo. Que conteúdos são mais solicitados ao Senhor pelos produtores e expectadores nesses eventos? Como o Senhor avalia essas necessidades intelectuais, principalmente dos ativistas do movimento social negro?


GM- A meu ver, o problema fundamental aqui, no Brasil, como em todas as Américas, especialmente em Cuba, é o problema da convivência entre as raças, a existência da opressão racial, das discriminações em base à raça. Enfim, toda a problemática essa que gira em torno da pretensão de um grupo de humanos a monopolizar os recursos em detrimento de todos os outros, sob o argumento que ele representa um segmento superior da espécie humana, e que todos nós não somos senão subespécies destinadas a servir de escravos, babás, serventes, seguranças, e todo o resto que sabemos. É disso que se trata nas minhas palestras, nas quais trato de explicar a questão racial a partir de uma perspectiva histórica, e não somente como uma questão de conjuntura. Acho que as mentes estão se abrindo, no Brasil, como conseqüência de dois fatores: a ação que vem desenvolvendo o Movimento Negro desde há varias décadas, e as medidas positivas que tomou o governo Lula desde que tomou o poder. Sabemos que são medidas tímidas, considerando a dimensão gigantesca do problema a ser resolvido, mas são passos na boa direção que um regime revolucionário como o de Cuba não se atreve ainda a dar.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

SOBRE A CEGUEIRA -de Flamarion silva

Diz Kafka:
— É verdade que não se pode dormir e sonhar sem se fechar os olhos. Mas não é estranho ver por aí tanta gente dormindo e sonhando de olhos abertos?
Dostoiévski responde:
— Se se tapasse a boca com a mão, a que sufoca, nem por isso, decerto os olhos saltariam, não de susto, mas de evidente denúncia, como se eles fossem uma boca e falassem.
Saramago encerra:
“Um homem entra em sua casa a esgueirar-se pelas paredes. A luz, acesa, imediatamente é apagada.”
— Ora, mas quem ousou acender a luz, reclama indignado. Será que todos não sabem que ela cega os olhos?
E, já mesmo sem seguir tateando, o homem adentra rápido à sala. Depois, senta-se no sofá, abre o jornal, e só aí, então, arregalando os olhos, procura em algum lugar onde deixou os óculos.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

LEITURAS DE 2009

O blog deu pausa no fim de ano. Agora de volta à ativa com mais gás, idéias, pensamentos e atitudes.

BOA LEITURA PARA O ANO TODO DE 2009.

Começando com a gaúcha Edinara Leão

Carlos Vilarinho

ULTIMITUDE- de Edinara Leão

se nos flagramos

causando-nos mal,

por certo,

é a hora do fim.



que seja tão lindo

como o começo!



deixo-te

uma rosa,

uma música

(para o silêncio de minha ausência

não te assustar)

e este último beijo...


edinara leao