terça-feira, 8 de julho de 2008

O ÚLTIMO VESTIDO DA SENHORITA B. -de Renata Belmonte

Eu não a vi partir. Mas se tivesse que arriscar quandos e porquês, diria que ela me deixou em um abril qualquer. Deve ter aguardado março se despedir e aproveitou para me abandonar junto com ele. Eu, de olhos fechados, ainda soprava com inocência as velinhas do meu bolo de aniversário. Mal sabia que, enquanto estava distraída com novos pedidos, ela aproveitava tal oportunidade para ir embora para sempre. Seus motivos ainda ignoro, por isso, como as outras pessoas sofridas, atribuo culpa ao mundo. Blasfemo a condição humana, me recuso a falar com pessoas desconhecidas. Ajo desta forma na tentativa de chamar sua atenção, preciso de alguma resposta. Certamente, se estivesse presente, ela reprovaria minha postura. Sempre foi dessas que enxergam beleza em tudo, costumava dizer que era entre estranhos que se sentia verdadeiramente familiar.
Recentemente, após uma de minhas longas buscas, acabei achando um de seus vestígios. Um velho vestido preto, o único que o tempo não levou. Mas, ao contrário do que se pode pensar, não me senti feliz com tal descoberta. Porque, ontem, ao tentar experimentá-lo pela última vez, acabei constatando: ele e suas promessas de felicidade não cabem mais em mim.

Renata Belmonte nasceu em 13/03/1982, em Salvador. Estreou em 2002, com a publicação do seu primeiro conto, Em cima da estante de vidro, na revista eletrônica Blocos on Line. Desde então, acumula colaborações em suplementos e jornais literários como Iararana, Província da Bahia, Cronópios e Bestiário. Seu primeiro livro de contos, Femininamente, ganhou o Prêmio Braskem Cultura e Arte de 2003. Em 2006, publicou O que não pode ser, livro vencedor do Prêmio Arte e Cultura Banco Capital.
Blog da autora: http://www.vestigiosdasenhoritab.blogspot.com/

4 comentários:

Anônimo disse...

Renata é uma excelente ficcionista, um nome já reconhecido, editada e premiada e que vai nos dando orgulho ao acompanharmos sua caminhada literária.

Carlos Vilarinho disse...

Verdade, já li outras coisas da Renata muito boas também.

Anônimo disse...

Nem conhecia Renata, mas, assim que a li pela primeira vez, no site de Carlos Ribeiro, prendeu-me seu estilo, sua forma sensível e firme de criar. De lá para cá, já li tudo o que ela publicou. O único problema é que ela anda muito ocupada com as causas jurídicas e não acha tempo para escrever. Que pena! (brincadeira, Renata) Não esqueci de te mandar a novela, não. Vou mandar. Abraços.

Senhorita B. disse...

Queridos amigos,

Vocês são fundamentais para a minha literatura.
Obrigada pelo carinho.
Beijos,
Renata