terça-feira, 27 de maio de 2008

SEGREDOS E MEMÓRIAS DE UMA MULHER ATRAENTE E DESPUDORADA- terceira parte


Então como ia dizendo, filha, eu e Júlio passamos a nos conhecer. A conhecer nosso corpo e cada um conhecer seu próprio eu. Fica claro que depois do primeiro amor, diga-se do primeiro momento sexual, as coisa tornam-se mais simples e nós mesmos é que complicamos. Júlio ficava cada vez mais homem, mais forte, mais másculo. Já em mim, o corpo torneava-se, ganhava formato de mulher madura. Além do apetite por sexo que se acentuava todos os dias que nos encontrávamos no quintal da nossa casa, sem ninguém saber. Aprendemos um com o outro a lidar com nossos corpos, a nos bolinar. Ficávamos embriagados e sempre surgia uma fúria animalesca que ao nos beijar por vezes nos feríamos. Sentia destemor e segurança quando Júlio me abraçava forte e roçava seu membro grande e duro em todo o meu ventre. Em seguida colocava-o dentro de mim e massageava meu botãozinho clitórico (risos), digamos assim, filha. Massageava com muito carinho e zelo. Como um homem deve tratar uma mulher prestes a explodir de volúpia. Eu estudava para munir Júlio do conhecimento e informação que tinha acesso. Não queria que ficasse fora do mundo. Uma vez contei-lhe sobre ROMEU e JULIETA. Júlio indignou-se e numa sabedoria inerente a ele mesmo perguntou porque se matar se amavam um ao outro. Disse-lhe que era opção do autor. E expliquei a ele toda a performance de um criador artístico. Júlio não tinha cabeça para essas coisas, ele achava que não. Tentei fazer-lhe ver que o mundo e as metáforas fazem parte de nós mesmos, que o homem é uma metáfora dele mesmo. Mas a pressão da repressão sobre a raça. O racismo, o preconceito minava a crença que um negro poderia ter a respeito do seu próprio valor. Mas nos amamos e isso é o que importa. Contudo hoje acredito que as coisas e os sentimentos do mundo tem prazo de validade. Um dia minha soube do nosso romance. Berenice outra mucama bem novinha que trabalhava em outra casa, gostava do Júlio e ela nos flagrou. Teve raciocínio perverso de dar asas à fofoca. E minha mãe que até então não havia denunciado laivo de racismo, ficou histérica e bradou aos quatro cantos tudo que havia dentro dela e estava sufocando.
_AAAAAAAAAAAHHHHHH! AAAAAAAAAAHHHHHHH! Quanta traição de negros e negras malditos... Ele me trai, ele me trai, ele me trai com uma negra safada bem embaixo do meu nariz... Forram alcova de sacanagem bem embaixo do meu nariz! Negra, negra, negraaaaaaaaaa...(num rompante de desespero infame) e agora ela, ela... A minha filha sendo comida por um negro estúpido... Por um negro estúpido...ANA VIRGÍNIAAAA, ANA VIRGÍNIAAAAA....Negra parida dos infernos, filha do satanás preto... Quero todos longe daqui, longe daqui... FORA...FORA...FORA.
Foi assim que perdi Júlio por muito tempo da minha vida. Foi como se arrancasse um pedaço de meu eu. Foi pior do que me matar. Nós tínhamos dezesseis anos, acho que o Júlio tinha dezessete. È É isso, ele é mais velho um ano. Nunca mais o vi. Chorava todos os dias. Cheguei a arrumar minhas coisas e tentar ir embora, mas sem Júlio para me dar suporte emocional e coragem não conseguia. Tive que sucumbir esse amor dentro de mim, afogá-lo. Até que depois de quatro meses me senti melhor mas a ausência dele ao meu corpo foi uma dor lancinante. E assim conheci meu dedo. Substituía Júlio todas as tardes, não a contento, mas as imagens cresciam dentro de minhas lembranças e gozava sozinha. Massageava meu clitóris até ficar bem durinho e gozava jorrando, como se fossem lágrimas perdidas.

QUARTA PARTE - SÁBADO 31/05

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bacana isso de colocar os textos no blog. Divulga sua contística, seu livro, seu talento, enfim.