quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O AUTOR COM A PALAVRA- conversa literária com os autores Aleílton Fonseca & Gláucia Lemos



Confesso que o temor me possuía antes de tudo terminar bem, como bem terminou. Havia em mim o universo da dúvida. Sabia que o sonho em organizar e realizar um evento verdadeiramente literário, com a presença de escritores renomados, reconhecidos e premiados poderia encontrar o abismo da decepção de um auditório vazio, ou com três ou quatro cabeças. Confessei isso ao final à escritora e amiga Gláucia Lemos já feliz e aliviado por tudo que deu certo.

Sempre me aporrinhava quando estudava numa Universidade e ouvia, colegas estudantes de Letras falarem abertamente que Literatura não importava que o bom mesmo era estudar Língua portuguesa. Era mais importante. A gramática era mais importante. Como se as áreas de estudo das Letras fossem dissociadas, nunca consegui enxergar assim e ficava intrigado quando ouvia essa inferência. A interdependência que a Língua tem com a Literatura e vice-versa evidentemente é tão latente que a única conclusão que chegava é que o estudante não fazia leituras efetivas. Lia por ler. Lia para fazer prova, enfadado e até com ódio do autor que na maioria da ocasião, para não dizer sempre, já estava morto. Comentava isso também no caminho com a escritora Gláucia Lemos.

Finalmente ao chegarmos à Universidade, onde a autora relembrou com saudade seus tempos de estudante no Convento da Lapa, constatei um pequeno alvoroço e a preocupação da companheira Priscila que me ajudara em minha ausência checando os equipamentos. Felizmente tudo estava bem e começamos.

Não estiquei em delongas a apresentação, muito informal até, fiz uma citação de Gabriel García Marquez, “narrar é levitar” e dei o lugar a quem de fato nos falaria. Gláucia e Aleílton, os autores convidados, sentaram-se à mesa e a autora começou sua fala. Comentou primeiramente o universo da criança, a literatura infantil. Disse-nos que a criança não quer ser tratada como boba só porque é criança e que o autor que escreve para os pequeninos deve ser tão perspicaz e atento quanto eles próprios. Particularmente acho muito difícil escrever para os menores. É um desafio num labirinto tênue, qualquer coisinha fora do lugar, uma palavra, uma interjeição que seja, perde-se o leitor mirim. Contou-nos sua trajetória como moradora da Pituba, o bairro que a deixa literalmente em casa, e seu processo literário. É o que todos que não escrevem, digamos, com atenção e imaginação, querem saber. Difícil também explicar, talvez não haja explicação. Faço uma comparação litero-virtual e um pouco esdrúxula, seria um download, nos dias de hoje. Ou descargas elétricas espalhadas no ar e o escritor com sua antena captando-as. Assim talvez. A autora falou do seu último livro escrito, “Bichos de conchas”, que li e já comentei por aqui.

Durante os últimos dias que antecederam esse encontro literário, senti a ansiedade de alguns estudantes quanto ao autor Aleílton Fonseca. Autor lido e discutido com intensidade em outros cantos do mundo e também na Universidade. Em sala de aula, durante a disciplina Literatura Brasileira IV, formada em sua maioria por formandos, tivemos a oportunidade de ler o texto escrito por ele denominado “O Poeta na Metrópole: “Expulsão e Deslocamento”. Disciplina com temática urbana. Dessa forma, muitos me perguntavam insistentemente se ele iria realmente ao encontro. O que aumentava e exprimia em demasia significativa a minha responsabilidade para o evento. Quanto a presença dele estava tranqüilo, pois já havia me confirmado quatro vezes, eu acho. O meu temor real era o esvaziamento que não ocorreu.

Aleílton começou falando talvez do ponto mais crucial na relação docência-literatura. O que havia comentado com a autora Gláucia e que disse lá em cima no início, foi o ponto de partida para suas palavras. Ressalto aqui que o escritor ainda não estava presente quando conversava com a autora sobre a nuance do professor de Língua portuguesa e sua preferência pela gramática. Claro, o autor falou principalmente da importância maior e mais prazerosa que é o ensino da literatura nas salas de aula. A literatura atual, o mundo de hoje, a vida de agora. Os autores contemporâneos. Para ele, e para mim também, é assim que se leva o indivíduo a melhorar-se. Pensar sobre o que está ao seu redor, a sua identidade e a sua realidade com ele mesmo e com o outro. Falou da importância do curso de Letras Vernáculas. Comparou com outras profissões, sempre com muito respeito, mas exaltando o mérito e até o prestígio que tem um professor de Língua portuguesa e Literatura.

Em seguida abriu-se o debate. Aqui confesso orgulhosamente que não me lembro de um encontro literário, com escritores gabaritados, em que houvesse uma participação efetiva e intensa do público como esse “O Autor com a Palavra” do dia 04/11/08 na Universidade Católica do Salvador. Sou um homem de Letras, autor e professor, já vi e participei de encontros, debates, conferências, simpósios etc... Mas não como a de ontem. As questões eram levantadas uma após outra. Os autores respondiam a todas com o máximo de empenho e entusiasmo que ganhou o encontro. Tanto Gláucia, como Aleílton foram de felicidade singular nas respostas e na condução do pensamento que ali efervescia. Coisa de escritor.

Ao final, o reconhecimento de um grande evento e que ninguém esperava que fosse tão grandioso e significativo. Tenho certeza que as pessoas que ali estavam, saíram com uma visão mais clara, real e atual do fazer literário.

LITERATURA É IMPRESCINDÍVEL para o ser humano.

Carlos Vilarinho 05/11/08

3 comentários:

Senhorita B. disse...

Carlos,
Parabéns pela sua iniciativa. E fica aqui o meu abraço para a Gláucia e o Aleilton.
Abraços,
Renata

Anônimo disse...

Caro colega,
Em nada me surpreendeu o sucesso do evento, pois, como tudo que já pude presenciar referente aos seus feitos, este trabalho também foi excelente.
Tive muito prazer em ter podido contribuir, ao menos um pouco, para a realização do mesmo.
Gostei muito!
Parabéns!
Priscila

Anônimo disse...

Imagino, pelo que você descreve, que deve ter sido ótimo. Pena que não pude ir. Fico feliz que tenha ocorrido como esperado: sucesso total!