quarta-feira, 19 de novembro de 2008

SABEDORIA DE MÃE - de Jackson Vasconcelos

O historiador Will Durant conta que a mãe de Mêncio, filósofo chinês reconhecido como herdeiro do Manto de Confúcio, se viu obrigada a mudar de residência algumas vezes, preocupada com a educação do filho. A primeira, por residir ao lado de um cemitério e o menino, com o tempo, imitar o comportamento do coveiro; a segunda, por estar nas proximidades de um matadouro e verificar que o menino emitia os gritos dos animais sacrificados e a terceira, em razão de Mêncio agir como comerciante, estimulado pela presença de um mercado nas proximidades. Ela sossegou quando, finalmente, montou residência em frente a uma escola e avaliou o resultado da decisão na vida do filho.


Sem dúvida, no tempo de Mêncio existiram pobreza e crimes, mas, com certeza, não na escala em que estão presentes no mundo moderno e principalmente na Cidade do Rio de Janeiro, onde há pelo menos 30 anos os governos tentam reduzir a criminalidade pelo confronto direto, armado e em campo aberto entre a polícia e os bandidos.

As vítimas mais presentes e os principais protagonistas desse processo de intensa criminalidade e violência são as crianças e pessoas, até mesmo policiais, que não atingiram a idade de 25 anos. Gente que não havia nascido ou que estava na primeira infância quando, em 1986, começou no Estado do Rio de Janeiro a prática de vencer a violência exclusivamente pelo uso da força.


Será que a aplicação de políticas públicas mais consistentes no campo da educação com conseqüente abertura de oportunidades melhores de ocupação e renda não teriam oferecido aos bandidos de hoje e suas vítimas um destino diferente?

Mark Goldblatt criou o filme O Exterminador do Futuro, com o enredo de uma guerra entre os humanos e os robôs e fato principal, na decisão dos robôs de mandarem ao passado um dos seus com a ordem expressa de exterminar o garoto John Connor que, no futuro, seria o líder da resistência humana. A obra trabalha com uma definição incontestável: o presente é o passado do futuro.

Ora, se, de fato, temos o desejo de construir um ambiente que seja mais humano e não possuímos o dom de retornar no tempo para modificar o presente, só nos resta organizar melhor o futuro. E, se o interesse é reduzir o grau de violência, de criminalidade, de ausência de virtudes, o caminho não pode ser outro senão investir pesado na educação e gerenciar melhor os recursos destinados a aplicação das políticas públicas. Neste contexto, é preciso considerar a importância da lei que estabeleceu um piso salarial nacional para os professores da educação básica com carga horária de 40 horas semanais. Ela nasceu de um dos projetos de lei do Senador Cristovam Buarque, que fez da educação a bandeira principal e quase única de sua atuação política. O Senador atua na vida pública com a compreensão de que o futuro se faz no presente.

Há quem diga que a lei é corporativista, porque beneficia os professores sem qualquer garantia de resultado na qualidade do ensino. A valer o argumento, é o caso de perguntar: porventura, os salários que os governos pagam hoje aos professores do ensino básico têm garantido qualidade?


Do mesmo modo, tem quem grite contra a interferência de uma lei federal no ambiente de autonomia municipal. Mas, até aqui os municípios têm utilizado a autonomia que possuem na direção de melhorar a qualidade do ensino público?

A lei Cristovam Buarque não nasceria se a vida presente dos jovens brasileiros indicasse que os governos no passado cumpriram bem com o seu papel de produzir educação com qualidade.


*Jackson Vasconcelos é editor do site www.estrategiaeconsultoria.com.br

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