sexta-feira, 12 de setembro de 2008

UMA DOR INSUPORTÁVEL- de Jackson Vasconcelos

Duvido que haja no mundo uma dor maior do que a dor de perder um filho, principalmente se essa dor acontecer no coração de uma mulher.
Ontem, a Cleyde Prado Maia faleceu aos 51 anos de idade, vítima de um acidente vascular cerebral, uma típica dor da alma que mata quando atinge o corpo.O mundo conheceu a Cleyde Prado Maia pelo trabalho incansável que ela desenvolveu tentando dar um jeito na lei brasileira, com a intenção de evitar que outras mães fossem vítimas do mesmo destino que levou a vida de sua filha Gabriela, assassinada numa das estações do metrô carioca, aos 14 anos de idade. O canalha que assassinou Gabriela estava nas ruas apesar de condenado. Poucas e ligeiras vezes estive pessoalmente com a Cleyde Prado Maia. Uma vez, em Brasília, no final do ano de 2005, no gabinete utilizado pela Denise Frossard, que exercia o mandato de deputada federal. Ela lá estava, às próprias expensas, à busca de apoio para uma série de projetos de lei que o seu fôlego, mais tarde transformou num projeto de iniciativa popular com 1,3 milhões de assinaturas, feito com a intenção reduzir a percepção de impunidade, motivo da ousadia criminal.No dia 17 de maio de 2006, o deputado federal Antônio Carlos Biscaia incorporou o trabalho da Cleyde ao projeto de lei de número 7053/2006, que ele mesmo elaborou. Hoje, quem for ao site da Câmara dos Deputados saberá que a última anotação sobre o projeto aconteceu no dia 23 de março de 2007, no dia exato em que o assassinato da menina Gabriela completou 04 anos. Não para avisar que a intenção da Cleyde Prado Maia se tornou realidade, mas para comunicar que um deputado de Goiás, senhor João Campos, requereu a transferência da matéria para a Comissão de Segurança Pública “por terem as mencionadas proposições relação direta com o campo temático da Comissão de Segurança Pública”.Encontrei a Cleyde Prado Maia há coisa de um mês ou de um mês e meio, na esquina da Rua do Carmo com a Rua da Assembléia, no centro da Cidade do Rio de Janeiro. Eu caminhava na direção do edifício-garagem e ela em sentido oposto. Ela me cumprimentou com um cumprimento rápido. Aproveitei para saber dela como andava o tal projeto. Ela, com a cabeça, passou um sentimento de desgosto.Nada me tira da cabeça que a dor que acompanhou a Cleyde Prado Maia desde a manhã do dia 23 de março de 2003, terminou por tirar dela as energias que a mantiveram vida até ontem.

*Jackson Vasconcelos é editor do site www.estrategiaeconsultoria.com.

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