quarta-feira, 3 de setembro de 2008

TENTAM NOS ENGANAR!- de Jackson Vasconcelos

É sexta-feira. Você resolveu dar solução definitiva às roupas que não cabem nos armários e pensou em contratar um marceneiro. Na tentativa de encontrar um bom profissional, você pede sugestão a uma pessoa amiga. “Olha, tem o seu Manuel. Ele é ótimo, com a vantagem de estar começando agora. O seu Manuel, que eu saiba, nunca fez armários. Por isso, você pode confiar plenamente nele. Ele entregará o trabalho no tempo certo e por um bom preço”.

A feijoada do sábado, somada com bebidas fortes, com chuva na volta para casa e com o frio danado fora de época, produziu fortes dores de cabeça e febre alta. O analgésico de nada adiantou. Pelo contrário. Fez com que brotassem por todo o seu corpo umas pintas vermelhas esquisitas. Você, então, por telefone, pede o auxílio de pessoas amigas. Uma enfermeira sugere que você procure imediatamente um médico: “Tem o Dr. Eduardo. Ele me parece muito bom. É recém-formado, começou ontem a trabalhar lá no Hospital. Você deveria procurá-lo”.

Na quinta-feira, você entra na cabine da farmácia para que lhe apliquem uma injeção. A moça, simpática e prestativa, conversa enquanto prepara a seringa: “Perdoe-me se doer ou se demorar um pouco, porque é a primeira vez que aplico uma injeção na veia. Tenho mais experiência com as nádegas”.

Novamente sexta-feira, e, na saída de casa para o trabalho, o carro enguiça. Alguém que passa indica para você a oficina mecânica: “O Zé Prego é muito bom. É um ex-guarda municipal que, depois de, por descuido, matar um sujeito, foi demitido. Como ele leva jeito com carros importados, tem uma semana que montou uma oficina aqui perto”.

Tudo isso parece loucura? Parece e é. Mas, não para todas as pessoas, nem mesmo para algumas que aparentam ter bom-senso. Por isso, a gente vê nas ruas, nas telas da TV e ouve nas rádios mensagens do tipo: “vote em mim, porque eu não sou político; eu sou candidato pela primeira vez...” e coisas do tipo.

Na verdade, o que essa gente diz é: “votem em mim, porque eu ainda não roubei; eu ainda não enganei; eu ainda não trai o povo”, porque é desse modo que eles entendem os políticos tradicionais que querem ter por colegas depois das eleições. Não é por outro motivo que criaram as suas mensagens. A rigor, o que eles pretendem é, com o nosso voto, ingressar no mundo da política, ambiente onde eles pensam poder enriquecer pelo roubo, enganar e trair sem o risco de punição. Sinceramente, não dá para entender de outro modo.

No entanto, o fato curioso no meio de todo esse movimento, que produz imbecis travestidos de candidatos, não é saber que eles acreditam nos enganar com o argumento da “virgindade profissional”.

É ver a cara limpa com que os políticos tradicionais, mais experientes, autorizam a candidatura e a aparição nos programas eleitorais de gente que os afronta com esse tipo de campanha. Porque, o formato na cabeça de quem assiste os programas eleitorais é esse: na tela, o discurso de um político tradicional vem, antes ou depois, de um sujeito qualquer dizer: “vote em mim, porque que eu ainda não sou igual a esse aí do lado, que rouba, mente, engana e trai”.

Fala-se, com justo motivo, em evitar a candidatura de políticos que não tenham compostura ou que não conseguem ficar perto do dinheiro público sem levar algum para casa. Neste campo de discussão, se deveria incluir também aqueles que vilipendiam a política em nome de tirar disso e da ignorância popular, vantagens para si ou para os seus. Porque é pena que usem a política do modo como a usam por aqui, sempre em proveito de poucos e em detrimento de todos.

*Jackson Vasconcelos é editor do site www.estrategiaeconsultoria.com.br

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