quarta-feira, 1 de outubro de 2008

SORRELFA - de Carlos Vilarinho

É um bom nome para essa crônica. Define e homenageia, ao mesmo tempo, o cerne do texto. Educação. Arauto do candidato Cristovam Buarque, aliás, com um pouco de tempero carismático e aguerrimento político, valeria a pena dar-lhe uma chance. O candidato de uma nota só, como dizem.

Nos últimos anos tem virado palavra chave na boca dos políticos. Sobretudo na hora de apresentar plataformas na televisão. Seria trágico se não fosse cômico. Cabe também mudar a ordem dos predicativos na frase anterior. Tanto faz. Cômico é assistir a cara deslavada do candidato se contorcendo no pseudologismo, clamando, implorando, convocando, numa expressão dolorida, a participação da sociedade para salvar a educação no Brasil. Não sei até onde a sociedade participou na condução ao caos educativo. Antes era um sistema rígido e autoritário. Agora é uma atmosfera individual e libertadora, democrática. Há uma confusão proposital no meio disso tudo. Nunca saberemos, cidadãos como eu, comum, quando quem estiver no poder, quer ou não instruir a sua população. Se queres, por que não incita, estimula o profissional que cabe essa função? Paga-lhe bem, facilita-lhe livros, promove-lhe pesquisas. A confusão proposital começa a ganhar forças nesse sentido. Pois se vê escolas paramentadas, cheias de livros, computadores, material didático novo e moderno. Contudo esses paramentos ficam guardados e trancados nos armários velhos e obsoletos das instituições. Instituições públicas. Em contrapartida não se sabe até que ponto pode-se dizer do ensino (ou comércio) da rede particular de ensino. De forma diferente, mas com o mesmo teor, o docente é tratado nessas instituições. Além de não receber bem o suficiente, ele é tratado sob pressão. Há casos de chantagem e coação, conseqüentemente de constrangimento do profissional. Lembrando a alusão de tragédia e comédia feita no início do parágrafo. Essa é a parte trágica.

Ao professor, protagonista shakespeariano. Cômico, trágico e dramático. Talvez sonhando numa noite de verão. Deveria formar-se por si mesmo e contagiar os colegas de uma formação madura, perene para uma atitude interrogativa e investigativa (eu hein!). Não somente em sala com seus alunos, o que é importantíssimo e um dos objetivos fundamentais para difundir e partilhar o saber. Mas nos corredores e, sobretudo nos escritórios. Longe da sorrelfa assolada no país a fora, é também importante a mentalidade e sabedoria dos professores em aprender com seu aluno. Os fatos são os fatos. Uma hora ele aprenderá, mas o processo de aprendizagem, de interagem é fundamental. Como Merlin no poema de Tennyson “IDÍLIO DE UM REI” o mestre mostra e modifica os signos e o lema do aluno. Um jardineiro regando uma planta. Em vez da glorificação da fama, está em voga o uso que se faz do aprendizado.

Mas com tudo isso, o mestre merece sentir-se abraçado, homenageado. Portanto, parabéns aos professores. Heróis, construtores do pensamento e da sabedoria...

Carlos Vilarinho 08/10/2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei demais, está um texto e tanto. E aproveito para deixar meu aplauso aos professores que realmente ensinam.