segunda-feira, 27 de outubro de 2008

RESENHA BICHO DE CONCHAS livro de Gláucia Lemos - de Carlos Vilarinho

Sou leitor lento. Não tenho pressa em passar a página de um livro, leio e releio. Procuro estilística e sempre comparo como eu poderia escrever esse ou aquele parágrafo. Não é pretensão, mesmo porque talvez, para alguns, ainda seja um escritor sofrível, corro para aprender com os grandes. E discordo de todo desses alguns. No entanto alguns autores impõem-se sobre mim e aí quando engato a leitura, mesmo que haja a curva do Senna, não consigo parar de ler, uma fome pelo narrado inexplicável. Dentre esses autores estão Gabriel García Marquez, Eça de Queiroz, Rubem Fonseca, as crônicas de Cony e Ferreira Gullar. Recentemente em leituras fortuitas de poemas, contos e crônicas de Gláucia Lemos,descobri a beleza e a velocidade das imagens e imaginação, respectivamente da autora. Disse-lhe uma vez, por aqui, no canal da net, depois de ler uma crônica dela mesma intitulada “DEVER DE CASA” que precisaria de mais de uma antena parabólica para registrar as imagens que Gláucia percebia e em seguida compunha os textos. Imagino que “dever de casa” seria o exercício pertinaz de observação que todo autor faz. Eu mesmo, quase que diariamente fico perdido entre a Avenida Sete e Joana Angélica a examinar até em minúcia, às vezes, os tipos humanos em análise “Lombrosiana” ou não.

O livro “BICHO DE CONCHAS” como já foi dito, trata-se de uma história genuinamente humana. As vidas são de uma forma ou de outra traçada ou costurada intrinsecamente como se todos estivessem próximos ou ligados por um fio energético que nunca se parte. Um fio tênue, invisível, mas consistente e rijo. Paradoxo natural esse. A vida é feita de paradoxos. E assim em idéias contraditórias seguiram-se os anseios e desejos do personagem Celeste. Envolta num mundo que não era o seu, cheia de dúvidas, a personagem trilha caminhos dicotômicos. Conhece o amor e o desejo puro e verdadeiro, enquanto que na outra ponta o frenesi escamoteado e até criminoso. A autora conduz a um eterno retorno, ao resguardo e proteção maternos que Celeste nem pensava existir. O bicho de conchas, para mim o personagem Lídio, sempre hermético mas com uma sabedoria singular, natural e monossilábico, esculpia em galhos silenciosos sua metalinguagem. O amor que nutria por Celeste naquele farol.

Tudo se repete, sobretudo ao final. A vida, talvez seja o que a autora queira dizer, é feita de ciclos. Temos que atravessar os ciclos de nossas vidas, sejam quantos forem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada, Vilarinho, pelo seu comentário, bastante lúcido. Eu não sei o que a autora quereria dizer, ela contou a história conforme a ficção a concebeu, e como a vida não tem lógica, para que forçar as coisas somente para atribuir uma lógica à vida? Gostoso é assistir aos leitores descobrindo coisas que o autor nem sabia.Obrigada. Abraço.

Anônimo disse...

Muito boa a resenha. Gostei do olhar sobre o romance. Gostei do desenvolvimento da apreciação. Muito bom. Parabéns!