quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CRÔNICA DA MINHA CIDADE- Edinara Leão

Há uma cidade no véu do meu sonho. Nem pequena nem grande. Nem alegre nem triste. Humana. Suficientemente humana. Acolhedora. Com gente de bom coração. Artistas do canto, da dança e da poesia, a terra verte aos borbulhões. Há um universo mágico tocando o lastro da história. Nesta cidade, há brisa e ventania.

As pessoas jovens vão embora. Os que já se aposentaram voltam. Aqueles porque tem a vida por fazer e, nesta cidade não há lugar para pobre que ouse sonhar dias melhores. Estes, porque viver aqui tem gosto de mate doce em dia de chuva, deixa uma tessitura de calores nos corações. Nascer aqui é uma dádiva, são trezentos anos de história. Povo com memória e tradição. Sair daqui é preciso, para ver outras cabeças, sorver outras fontes, adquirir entendimento, até do que aqui acontece. Muito tempo em um aquário, o aquário vira o mundo possível e perde-se a dimensão do mar.

Há mentes fechadas. A arte é jogada nas calçadas, e... continua a jorrar, nos cantos, nos bares, nos galpões, no entanto, para certas cabeças, o que importa é estar na ‘Série Ouro’, mesmo que precise importar craques (e pagar bem!). É apenas uma bola que vem e vai, mas lota o ginasião, tira o povo da realidade e vem a RBS! Tem mulheres muito bonitas, plasticamente perfeitas, a coluna social é tão vasta que sufoca o cantinho do poeta, ele some por uns dias... Mas a arte, esta que sempre dá novas nuanças ao cotidiano, que encanta sem artifício, que estremece e faz verter a lágrima do mais duro coração – essa sobrevive com moedas, com sobras de banquetes. Artista é mesmo bicho teimoso e sobrevive, cata, junta e faz um cofrinho, quando vê dá um livro, acontece um encontro, uma mateada, uma oficina, um recital, um festival. E, que tal se todas as pessoas que têm moedas para circular, descobrissem que o pote de ouro deste chão é a arte.

Nasceria uma nova dinastia!

E, ao invés de matearmos entre vinte, oito, ou até duas pessoas, reuniríamos mil. E essas mil, ao sorver o mate em rodadas de poesia, voltariam para suas casas mais verdes, e ficariam um tantico de tempo olhando o ar, sem nada olhar, e, quem sabe, enxergariam estrelas cadentes, cometas no céu, satélites... – quando eu era pequena, gostava que chegasse a noite para contar satélites com o vô, ele sempre olhava o céu!

As pessoas buscam tanto a maturidade, mas eu, que gosto de ser eu mesma, acho que a maturidade, às vezes, faz esquecer coisas tão elementares, como rir à toa. Esses dias cheguei em casa e presenciei um show, as filhas cantando “Amigos para sempre” muito alto, o microfone era um velho tchaco, dava para as duas, não resisti, e cantei com gosto, com vontade, desafinada, cantaríamos e ríamos, ríamos tanto que quase não saía o canto, ríamos tanto que ficamos mais leves que o ar, encantadas...

Ah! essa tal maturidade. Confere-nos peso, tira o encanto da vida. Mas voltando a esta cidade, um dia – sei, terei de partir, será preciso para completar minha jornada, ela nasce aqui, mas não termina aqui. Há uma chama em mim que me devora e consome, preciso ir, até para voltar melhorada – não sei.

Mas esta cidade com cabeças grandes e pequenas, altas e rasantes, é hoje a minha cidade. Aqui eu sou a professora, a poeta, a artista, a louca – tudo são lentes, e sou um pouco de tudo. Aqui se vou ao centro, distribuo tantos sorrisos que a boca cansa, paro e converso tantas vezes que é até difícil lembrar o que mesmo que eu ia fazer. Como é bom matear, prosear e poetar na praça. Só é difícil crescer, é uma cidade para vidas feitas. Não vidas por construir. É isso que nos faz partir, se houver trabalho, a paz se faz e a felicidade se tece com as mãos na teia do olhar. Esta é a minha cidade!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CRÔNICA de Elieser Cesar

RÁDIO JABÁ FM - PROGRAMA 5


Alô clientes, melhor dizendo ouvintes da Jabá FM a rádio que não se vende. Esta emissora se une à consternação pelo falecimento de duas personalidades que dignificaram e enobreceram a mulher na Bahia: a quituteira Dinha do Acarajé e a escritora Zélia Gattai. Dinha foi armar seu tabuleiro na entrada do céu e Zélia para as terras do sem fim da eternidade ficar junto do seu menino grapiúna. E por falar no tabuleiro da baiana vocês sabem, amigos da Jabá, o que um coveiro disse para o outro, à beira da cova de Dinha do Acarajé? Não sabem? Pois, ele disse: Vatapá.
Já o Presidente Lula anda abusando do linguajar chulo. Outro dia, aqui em Salvador, onde veio fazer comício, ele usou, pela segunda vez a palavra “sacanagem”. Não fica bem para o ocupante do mais importante cargo da República Federativa do Brasil ficar repetindo o mesmo vocábulo. Presidente, da próxima vez, use o termo “escrotidão”, dá no mesmo.
Na Islândia, um tarado chamado Sigudur Hjar, Haja o que mesmo? Sigudur Hjartason, (eh, nomezinho inovocado!), fundou o Museu Falológico Islandês, ou seja um museu de pênis; isso mesmo, pênis. O homem é vidrado em pênis. O acervo conta (lá ele, lá Sigudur) com 261 pênis de 90 espécies diferentes. O maior, pesando 70 quilos e medindo um metro e setenta centímetros (misericódia!) pertenceu à uma baleia cachalote. O menor (tadinho!), pertencente a um hamster, mede apenas dois milímetros e só pode ser visto com o auxílio de uma lente de aumento. É verdade, cada qual coleciona o que gosta.

Vocês já repararam, caros ouvintes, que o senador Heráclito Fortes se parece com Jabba, THE HUT, aquele ET papudo do filme o Retorno de Jedi, que fica comendo bichinhos retirados de um tanque?

Agora o quadro mais esperado da sua Jabá FM, “essa música vai bombar”. A Jabá traz para vocês o forró mais tocado no São João de Tapiramutá, “A boiada no currá”, do fabuloso Chiquinho do Triângulo Amoroso. Som na caixa...

De manhã cedo, o vaqueiro leva o gado do currá.
Tange a boiada para o pasto
até o boi ficar bem farto.
No fim da tarde, o vaqueiro traz de volta
boiada pro currá.

Temendo uma rês desgarrada,
pra não dar bobeira,
o fazendeiro fecha a porteira
e brada:

Vê se entrou toda,
a boiada no currá,

vê se entrou toda,
a boiada no currá,

vê se entrou toda.


Vê se entrou toda,
a boiada no currá,

vê se entrou toda,
a boiada no currá,

vê se entrou toda.

Beleeeeezzza de Creuza do Sinjorba, o forró de Chiquinho do Triângulo Amoroso. Sensibilidade junina e genuína.

Agora, é com grande satisfação que a Jabá FM, a rádio que não se vende, convida para os seus estúdios, uma das maiores reservas morais da enxovalhada política brasileira, o grande, fino e educado Walmir Xícara, um político que não anda com o pires na mão.
Bom dia, Doutor Walmir...
Bom dia companheiros da Jabá FM. É uma enorme prazer está de volta à Bahia, a Bahia das grandes lutas libertárias, a Bahia da Revolução dos Malês, a Bahia do Dois de Julho, a Bahia de Castro Alves...
Doutor Walmir Xícara....
A Bahia de Rui Barbosa, a Bahia de Octávio Mangabeira, a Bahia de Anísio Teixeira...
Doutor Walmir...
A Bahia de Jorge Amado, a Bahia de Zélia Gattai
Epa! Mas ela era paulista.
Não importa foi baiana na sua obra e no seu coração. A Bahia de Ana Nery, a Bahia de Maria Quitéria, a Bahia de Irmã Dulce e de tantas valorosas mulheres...
Chega, Doutor Walmir Xícara, se não o senhor vai mencionar toda a lista telefônica.
A Bahia de Rômulo Almeida...
Tá bom, Doutor Walmir Xícara, diga logo a Bahia de todos os baianos e pronto.
A Bahia de todos os baianos que lutaram pela honra e pela dignidade de seu povo, um povo que não se curva, nem transige diante do arbítrio, da brutalidade e da malvadeza
Da malvadeza? De Toninho Malvadeza?
Este deixa que a história saberá se encarregar de seu triste legado.
Doutor Walmir Xícara, o senhor apóia a ditadura?
Como?Não entendi?
O senhor apóia a ditadura?
Claro que não. A ditadura representa a supressão de todas as liberdades públicas, de todas as salvaguardas do regime democrático. De maneira que jamais poderia apoiar qualquer tipo de ditadura, eu que sofri diretamente as conseqüências do golpe militar, que fui um dos últimos a deixar o país, quando os generais derrubaram o Presidente João Goulart, um homem de extraordinária visão política e de dedicação integral ao seu povo...
Então Doutor Walmir, porque o senhor aceitou ser o Controlador Geral da União, queria controlar o Brasil sozinho, foi isso?
Ah, é isso? A Controladoria-Geral da União, que tive muito orgulho de dirigir e, agora, sob o comando de outro baiano ilustre, o nosso Jorge Hage, é um instrumento fundamental no combate à corrupção, essa chaga moral que, infelizmente, ainda infesta muitos setores da sociedade e da classe política brasileira. Ela é uma eficaz ferramenta de fiscalização da correta aplicação dos recursos públicos. Através da Corregedoria investigamos os gastos de muitas Prefeituras, sem nenhum tipo de opção partidária, tanto que a escolha se dá pela forma de sorteio, sem nenhum tipo de manipulação. Tudo para fortalecer as instituições do país, evitando o desperdício, o desvio e a apropriação do dinheiro público. Temos que dar um combate permanente e sem tréguas à corrupção para que o Brasil possa dar o tão esperado salto de desenvolvimento e de qualidade de vida.
Doutor Walmir, o senhor sofre de ardência nas vistas? Só fica falando e fechando os zoinho. Quer um colírio, Moura Brasil, melhor nunca se viu.
Não quer não? Pois fique aí, fechando os zoinhos. Mas Doutor Walmir, porque o senhor renunciou e deixou Milho Boi em seu lugar?
Foi uma decisão muito difícil aquela, a mais difícil de minha vida política. Refleti muito com os companheiros de partido e aqueles dos partidos que me apoiaram, Mas, naquele momento, percebi que poderia servir melhor a Bahia e o Brasil no plano federal. Afinal, acabávamos de sair de uma ditadura e precisávamos reconstruir o Brasil democrático, com a participação de todos e no interesse de todos.
Quais sãos os seus planos na política, Doutor Walmir?
Continuar servindo ao povo da Bahia e ao povo brasileiro, levando sempre a mensagem que não devemos esmorecer na construção desse grande país e desta grande nação.
Obrigado Doutor Walmir vamos encerrar por aqui, porque se não acabo votando no senhor outra vez. Muito obrigado.
Entrevistar esse homem, digno, culto e educado não é moleza.
Atenção, galera. Só duas pessoas acertaram a pergunta feita no programa passado: qual o autor do mega-sucesso “Lasca Madeira”. Zenildo Brito, da Massaranbuda e Roque Portela, do Engenho Velho de Brotas acertaram: Sandrinho Dengoso. Cada um vai ganhar cinco pata-pata. No próximo programa vamos sortear uma TV a cabo (a cabo de vassoura, para consertar a antena) para quem acertar a pergunta: a quem Sepúlveda Pertence?
Uma última notícia:

TRE

Na campanha eleitoral de 2006, deputado Albertinho Lisura distribuiu dentaduras – a inferior antes e a superior depois da comprovação dos votos – para eleitores do Bairro da Paz e do Calabetão.
Deputado, quem avisa, amigo é: pague o que vossa excrescência deve à Jabá FM ou voltaremos com mais detalhes na próxima edição.
E para terminar o programa fiquem mais uma vez com o poema junino de Chiquinho do Triângulo Amoroso, o forró “Vê se entrou toda”, quero dizer: “A boiada no currá”.

De manhã cedo, o vaqueiro leva o gado do currá....

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

RESENHA BICHO DE CONCHAS livro de Gláucia Lemos - de Carlos Vilarinho

Sou leitor lento. Não tenho pressa em passar a página de um livro, leio e releio. Procuro estilística e sempre comparo como eu poderia escrever esse ou aquele parágrafo. Não é pretensão, mesmo porque talvez, para alguns, ainda seja um escritor sofrível, corro para aprender com os grandes. E discordo de todo desses alguns. No entanto alguns autores impõem-se sobre mim e aí quando engato a leitura, mesmo que haja a curva do Senna, não consigo parar de ler, uma fome pelo narrado inexplicável. Dentre esses autores estão Gabriel García Marquez, Eça de Queiroz, Rubem Fonseca, as crônicas de Cony e Ferreira Gullar. Recentemente em leituras fortuitas de poemas, contos e crônicas de Gláucia Lemos,descobri a beleza e a velocidade das imagens e imaginação, respectivamente da autora. Disse-lhe uma vez, por aqui, no canal da net, depois de ler uma crônica dela mesma intitulada “DEVER DE CASA” que precisaria de mais de uma antena parabólica para registrar as imagens que Gláucia percebia e em seguida compunha os textos. Imagino que “dever de casa” seria o exercício pertinaz de observação que todo autor faz. Eu mesmo, quase que diariamente fico perdido entre a Avenida Sete e Joana Angélica a examinar até em minúcia, às vezes, os tipos humanos em análise “Lombrosiana” ou não.

O livro “BICHO DE CONCHAS” como já foi dito, trata-se de uma história genuinamente humana. As vidas são de uma forma ou de outra traçada ou costurada intrinsecamente como se todos estivessem próximos ou ligados por um fio energético que nunca se parte. Um fio tênue, invisível, mas consistente e rijo. Paradoxo natural esse. A vida é feita de paradoxos. E assim em idéias contraditórias seguiram-se os anseios e desejos do personagem Celeste. Envolta num mundo que não era o seu, cheia de dúvidas, a personagem trilha caminhos dicotômicos. Conhece o amor e o desejo puro e verdadeiro, enquanto que na outra ponta o frenesi escamoteado e até criminoso. A autora conduz a um eterno retorno, ao resguardo e proteção maternos que Celeste nem pensava existir. O bicho de conchas, para mim o personagem Lídio, sempre hermético mas com uma sabedoria singular, natural e monossilábico, esculpia em galhos silenciosos sua metalinguagem. O amor que nutria por Celeste naquele farol.

Tudo se repete, sobretudo ao final. A vida, talvez seja o que a autora queira dizer, é feita de ciclos. Temos que atravessar os ciclos de nossas vidas, sejam quantos forem.

PREFEITO- de Carlos Vilarinho

Política é tão sério que rege todos nós. Dessa forma eu vejo. Não me agrada discutir, debater e analisar, no entanto todos nós fazemos isso inconscientemente mesmo diante de nossa consciência, diria Jung. A eleição em Salvador foi acirrada e somente ao final do segundo turno depois do último debate entre prefeituráveis que a real situação clareou. Notou-se a pluralidade que antes não havia. Há forças tão fortes quanto uma e outra. Não há mais temor na política baiana e as pessoas podem enfim posicionar-se democraticamente.

Eu, em modesta visão, sou um homem político em essência, mas não vivo dentro da política. Acredito que o resultado, a reeleição do prefeito João Henrique, fora o melhor para Salvador, mesmo sabendo que sempre corremos o risco, quando digo corremos, digo o povo em geral, de sermos governados por grupo puramente partidário. O prefeito cometeu esse erro no início do seu governo em 2005, e corrigiu ainda em tempo. Tenho a impressão que se a vitória fosse do lado oposto isso se concretizaria por quatro anos. Assisti a um debate somente e ao longo da campanha analisei e tirei minhas conclusões debaixo da experiência que tenho adquirida quando fiz movimento estudantil na Universidade. Provavelmente ainda hoje os partidos infiltrados no movimento estudantil fazem política partidária, sem fins sociais. Ou no caso do estudante, sem fins discentes. E são os mesmos que perderam eleição para prefeito em Salvador. Rostos conhecidos e carimbados. Cheios de práticas para dar a volta. Faça-se entender. O debate que assisti, cresceu sob meus olhos e em meu entendimento a mudança tática do prefeito surpreendeu os adversários. Vi no rosto do candidato derrotado o olhar sobressaltado pelo imprevisto que João Henrique impôs aos petistas.

O prefeito por sua vez, onde muitos achavam que a mansidão e a religiosidade contariam em adversidade sobre ele mesmo, subiu nas tamancas e desceu o verbo. Há quem diga que aquele desempenho é o esperado pelos eleitores, tenho minhas dúvidas, embora se perceba claramente que surtiu efeito. Ao contrário dos adversários que buscam fórmulas de dar a volta, o prefeito apresentou os trabalhos feitos e os que irá fazer. Explicou: PDDU, Hospital da Suburbana, praça da Centenário e mais; questionou a saída dos petistas e dos comunistas do governo com o pensamento único em eleger-se e fazer a política que já exemplifiquei. Acho que o maior erro do prefeito em seu mandato foi negociar cargos com o PCdoB. Dizem: partido atrasado e revanchista. Não tenho certeza, mesmo porque tenho amigos que fazem parte dessa raia política e não são atrasados nem possuem viço vingativo. Alguns poetas e educadores.

Espera-se mudança onde é necessário mudar e continuidade onde é necessário continuar. Quanto o panorama político ainda é muito cedo. Já afirmam que há uma nova força, novo líder. Talvez. Esperemos então.

Carlos Vilarinho
27/10/08

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

POEMA MODERNISTA TARDIO DO SÉCULO XXI (boa merda) de Carlos Vilarinho

As imagens estão aí,
Ou lá, em algum lugar.
Vidas secas soltas.
A moça morrendo,
A bola na trave.
Non sense poético.
Estrutura desorganizada e escatológica
Em fezes.
O cara não foi eleito
E destruiu o pêndulo de Foucault.
Merda cênica.
O escritor não se impressionou,
O mundo é assim...


Carlos Vilarinho

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A POLÍTICA NO RIO DE JANEIRO- DÁ-LHE GABEIRA-de Jackson Vasconcelos

Quem venceu o segundo debate?

Depende.

*Jackson Vasconcelos


Ouvi o debate de domingo entre Eduardo Paes e Gabeira pelo rádio, sem acesso às imagens dos candidatos. Entendi que o Eduardo Paes venceu. No entanto, na opinião dos que assistiram o evento pela TV, Gabeira saiu vitorioso. Um exemplo é a opinião do César Maia, publicada no ex-blog, na madrugada da segunda-feira. Ele afirmou que a tranqüilidade e a dimensão de Gabeira venceram a agressividade e a tensão de Eduardo Paes, que nervoso, falava rápido, em tom mais alto, de modo debochado, atitudes que denotam insegurança e chocam pelas imagens. César diz que o Gabeira prefere direcionar o olhar ao oponente. Foca bem o debate. O Eduardo Paes não sabe para onde olha e olha em diagonal para a TV e de soslaio para o oponente. Passa, outra vez, insegurança. Ele não consegue sorrir e cerra a sobrancelha.

Como explicar a minha opinião sobre a vitória do Eduardo Paes no debate e a opinião completamente diferente daqueles que assistiram o debate pela TV?

Para explicar, volto ao ex-blog: “a comunicação na TV é imagem. A imagem na TV exige uma voz escandida, pautada, serena. É verdade!

O historiador Robert Dallek e o jornalista Terry Golway, autores da obra “Os melhores Discursos de John F. Kennedy – Uma Visão de Paz”, editado no Brasil pela Editora Zahar, no capítulo 4 do livro, fizeram considerações sobre o primeiro debate entre John Kennedy e Richard Nixon transmitido ao vivo pela TV americana: “Segundo consta, John Kennedy venceu o debate porque estava bronzeado e relaxado, e Richard Nixon pálido e nervoso. Muitos dos que assistiram ao evento na televisão – em torno de 80 milhões de norte-americanos – acharam que Kennedy havia superado seu adversário. Aqueles que ouviram o debate no rádio, atendo-se apenas às palavras e aos argumentos, acreditaram que Nixon fora o vencedor. E, no entanto, a forma venceu o conteúdo, e a política norte-americana nunca mais foi a mesma”. O evento aconteceu no dia 26 de setembro de 1960.

No Rio, a TV Globo não organizou debates para o primeiro turno, porque não conseguiu encontrar um desenho que acomodasse os seis ou sete candidatos a prefeito, porque o candidato Paulo Ramos, lanterninha na avaliação dos institutos de pesquisas, dado confirmado pelas urnas, não abriu mão de participar. O fato torna relevante outro trecho do livro de Dallek e Golway sobre os debates promovidos pela TV americana no tempo de Kennedy e Nixon: “Foi preciso, literalmente, um ato do Congresso para permitir a cobertura televisiva dos debates. Uma cláusula da Lei de Comunicações de 1934 exigia que as emissoras oferecessem tempo igual a todos os candidatos, até mesmo aos de partidos independentes desconhecidos. O Congresso teve que suspender a cláusula de tempo igual antes que as redes pudessem dar continuidade a um debate somente entre Kennedy e Nixon”.





*Jackson Vasconcelos é editor do site www.estrategiaeconsultoria.com.br

domingo, 19 de outubro de 2008

CARLOS SOARES & CLEVANE PESSOA

OS SAPOS de Manuel Bandeira, que hoje vivem no mundo cor de rosa estão por aí. Eles já sabem que sou sapo cururu... EHEHEHEHEHE...LITERATURA como todas as outras artes têm que escoar... O pobre tem direito a ler, ver-se e criticar a ele mesmo ou a quem quer que seja.ABRA ESPAÇO.

PÉROLAS DE MINHA INFÂNCIA - Carlos Soares

Uma de minhas qualidades é a memória, principalmente afetiva. Lembro-me de coisas de minha tenra idade que meus familiares e amigos mais velhos até se assustam com a riqueza de detalhes. E assim...como esquecer de Dona Maura? Lá em Ipatinga, cidade até então, pode-se dizer, começando a nascer, minha família foi a segunda a mudar-se para o bairro. A família de Dona Maura foi a primeira. Eu ainda era bebê de colo. Mas quem é Dona Maura? Uma negra, gorda demais, simpática, sorridente, com uma família tão numerosa como a nossa. E pobre também, mas nem por isso, menos feliz. Ah... e com uma voz afinadíssima. Como esquecer... ela batendo o pedal da velha máquina de costura, cantando...”como é que papai Noel, não se esquece de ninguém? Seja rico, seja pobre, o velhinho sempre vem...”. Logo ela tão pobre. Eu, com minha cabeça de poetinha ficava tentando entender e ficava até torcendo para que ela cantasse, não só essa, mas também...”se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar...” ou “o cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada...”. Incrível o tom lírico-triste-romântico que ela impunha àquelas cantigas.
A casa dela era uma festa da garotada. Não bastassem os seus tantos filhos, entre eles, Jaiminho, meu amigo até hoje que anda sumido, mas não esquecido, a garotada espalhada, sentada no chão, assistindo desenho animado. Como esquecer o dia em que ela tentando passar no meio da gente disse: Quantos meninos! Que meninada, bonita! Quem dera se fossem todos meus! Como esquecer, quando alguém lhe perguntava: Puxa vida, Dona Maura, como a senhora agüenta todos esses pirralhos o dia todo aqui? E ela, com suas bochechas negras, rechonchudas e sorridentes respondia: Deixe os meninos. Que mal eles podem me fazer? Melhor uma casa bagunçada que uma casa vazia.
Como esquecer dos doces que ela fazia? Quebra-queixo. Doce de mamão. Doce de cidreira. Adorava comprar jabuticaba que acabava num piscar de olhos. E o chouriço que ela fazia? Hummm... eu lambia os beiços. Certa vez alguém lhe disse que era pecado comer chouriço porque era feito de sangue. Ela respondeu: O mal é o que sai da boca do homem.

Eu costumo dizer que o tempo é covarde, mas nas coisas do coração o tempo não me venceu, pois ainda guardo na memória essas passagens. Guardo tanto que voltei à velha casa de Dona Maura, agora mais velha, mais gorda, igualmente negra, igualmente pobre e igualmente feliz. Lá não mudou muita coisa. A velha máquina de costura, encostada num canto, parece cantar sozinha...” se essa rua, se essa rua fosse minha...”. Claro que as crianças não são as mesmas, mas a sala dela ainda está cheia. Agora são netos, bisnetos e outros meninos. Os antigos, de meu tempo, cresceram. Eu, talvez nem tanto, pois me vi ali sentado de novo no meio daquela meninada.
Abraçado a ela, perguntei-lhe se se lembrava de tudo aquilo e ela me soltou mais uma pérola: Claro que me lembro. Vocês são meus eternos meninos.

Se recordar é viver... hoje estou mais jovem e mais vivo.
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Carlos Soares de Oliveira 29/03/2008. Escritor mineiro de Governador Valadares



CÍRCULO SEMPRE VICIOSO - Clevane Pessoa


Grana, greve,
grave,grito,
grupo,groove,
greta,grilo,
caos,status,
status quo,
casta,costas,
cestos,cistos,
custos,grana.

Hip Hop,
Upa-upa,
oba-oba,maravilha,
a turma da festiva, chegou...

Mas onde estão os que sabem
das coisas certas a se fazer?
Onde estão os formadores de opinião?
E os políticos que em época de eleição
tinham todas as soluções?
Confluir, agir, interagir,
formar a teia mais-que-forte
onde o Outro somos nós,
onde outrem é igual a Alguém
que somos nós.
tão des/iguais...

Das calhas do tempo,
chove um contratempo
a cada minuto...

Resolver, quem há de?

Já descobriram a fórmula científica
da felicidade?
Adrenalina, endorfina, dopamina,
menino vira menina,
casam-se com gêneros similares,
formam lares, criam filhos.
Hormónios, feromônios enganadores?
Novos pares:
talvez melhores,"paidastros", "mãedastras",
mais de uma até:
"maior número de presentes",
"vamos fingir que é bom",
-fazer a manha, exigir tudo
em dupli,triplicata...

Um feixe de peixe,
papel nos ares.
No ano passado, li que
os japones inventaram
peixes eletrônicos
com pedacinhos de músculo artificial encaixado entre os rabos
e os corpos.
Pescadores poderão pescar
sem ter de fritar as postas,
nem levar para a mulher escamar:
pescarão por condicionamento
mania igual a outra qualquer...

Na tradição koinobori (*),
crianças fazem os peixinhos,
as levíssimas carpas de tecido ou papel ,
que depois tremularão num mastro,
coloridas,na frente do azul do céu
parecem nadar no ar,
mas qual na água,
contra a correnteza...

Enquanto meu marido pescava
peixes reais com varas compridas
leves, de carbono,
em vez do antigo bambu da infância,
a esposa-poetisa e desenhista,
tentava captar o atraente movimento
dos peixes orientais,
importados , iguais aos bordados
em seu quimono.

Ao final do dia, ligamos o rádio do carro
e voltamos pelo caminho.
A "greve acabou":por cansaço,
por desesperança
ou a esperança renovou-se
à promessa de migalhas,
sem lembrar que amanhã, os preços dispararão,
os operários sonham com o domingo,
quando também pe(s)carão,
acreditando-se vencedores...

Quanto durará a ilusão?

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

MISTÉRIO DO TEMPO-de Andréia Donadon Leal

mistério do tempo
mísero tempo
mingua tempo
no peso metálico
do corpo que se esvai
na efemer/idade da brisa
que vai
vai

v
a
i

a
i

i
a



Andréia Donadon Leal escritora mineira, carpinteira de texto.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

MEMÓRIA DE MINHA PUTAS TRISTES

Gabriel García Marquez.

"Me pergunto como pude sucumbir nesta vertigem perpétua que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade: Estou louco de amor."

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

LEMBREI DE VOCÊ & A CACHAÇA DO TEMPO- de Carlos Vilarinho

LEMBREI DE VOCÊ

Hoje lembrei de você, nesse domingo postado de mesmice.
Seu olhar impregnado de incertezas reprova minha ânsia de amar-te.
Hoje lembrei de você, só nós dois naquele banco de fumante.
Desejo de corpo e produzir arte.
Hoje quis seu beijo, te olhar em silêncio oculto só em respiração de amante.
Hoje lembrei de você, seu umbigo e seus pêlos que nunca vi,
Seu rosto inchado de sono, seu olhar de Padilha infante...
Seu pulsar úmido, seu gemido que pensei ouvir.
Hoje pensei em você e seu gozo enfurecido,
Seu som arquejante e desfalecer o sentido...
Por fim, solucei,
E gotas vitaminadas deixaram o meu sonho...






A CACHAÇA DO TEMPO

A cachaça que domina,
O tempo que escraviza.
O vício que difama.
Entorpece.
A linha tênue da mão.
O gole que demorou no tempo.
A tarde que adormece.
A cabeça que roda.
Por que não corres da raia e andas na linha,
Em equilíbrio torto?
Especula e gasta o tempo
Ao vê-lo passar,
Sem dor perfeita de destruição.
O copo perplexo de boca larga
Espera a outra boca ávida
Cheia de angústia a beijá-lo.
O beijo da vida e da iminente
Morte...

domingo, 12 de outubro de 2008

A SAÍDA É PELA DIFERENÇA de Jackson Vasconcelos

Ontem, a parte que faltava na campanha do candidato Eduardo Paes se uniu a ele. Os jornais de hoje publicaram as fotos onde ele está acompanhado da Benedita da Silva e do cômico Wladimir Palmeira.

As fotos não mostraram o governador Sérgio Cabral Filho, nem o deputado Jorge Picciani, porque eles lá não estavam em corpo, mas lá estavam, com certeza, em alma. Sérgio Cabral Filho, o povo já conhece pelos impropérios que pronuncia e pela vida rica que leva. O deputado Jorge Picciani é presidente da cadeira onde já sentou o Sérgio Cabral Filho. Uma cadeira que fala pelo histórico que construiu.

Em 2006, houve a oportunidade singular de derrotá-los todos de uma vez com a vitória da Denise Frossard na disputa pelo governo do estado. No entanto, ela perdeu a eleição para o gingado político, sagacidade e astúcias de um moço de velhos costumes.

O desenho desta campanha está bem próximo do desenho da campanha de 2006. Naquela estava o Sérgio Cabral Filho, que, com o apoio do casal Garotinho, liderou as pesquisas de intenção de votos do início ao fim do processo. Nesta de agora, no lugar dele, está, com os mesmos vícios e histórico de traições, o ex-deputado Eduardo Paes. Sérgio traiu Marcelo; Eduardo traiu Maia; Sérgio traiu Garotinho; Eduardo traiu todo o PSDB.

Em 2006, também esteve Cavaleiro da Triste Figura, Marcelo Crivella, agora ex-bispo, mas sempre o derrotado de última hora.

O que muda um pouco o desenho desta campanha eleitoral com relação à de 2006, é a presença do deputado Fernando Gabeira. Ele é um quadro de excelência ética, qualidade que o iguala a Denise Frossard, mas diferente dela no saber lidar com as manhas da política e da imprensa. Ele tem ginga, história e paciência para escapar e aturar personalidades como as de Sérgio Cabral Filho e de Eduardo Paes.

Pela diferença, eu tenho esperança de que o eleitor, desta vez, não deixe passar a oportunidade, que pode ser a última, de derrotar, de uma só vez, um bando de gente, que tem estilo próprio no tratar da máquina pública com atitudes que infelicitam a população do Rio de Janeiro.

O debate de hoje entre os dois candidatos, Fernando Gabeira e Eduardo Paes, deixou mais forte a minha esperança, porque é nítida a diferença de propósitos entre os dois candidatos, como é clara a percepção de que, entre os dois, o Fernando Gabeira representa a oportunidade de se construir um futuro melhor para o Rio de Janeiro.

Jackson é estrategista político e cronista carioca.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

UM SONETO DE JOÃO JUSTINIANO E MINHA CRÔNICA DOMINGUEIRA-de Clevane Pessoa

Acordo,domingueira , lá fora a umidade da madrugada chuvosa.
Cuido de mim , de tudo que é vivo aos meus cuidados:o cãozinho Lucky, as plantas, nos beirais, alimento para os pardais, as rolinhas.
E, no meu "hospital de plantas"-uma bancada onde deixo vasos com verdinhas que precisam recuperar a cor, galhos a serem entalados entre paus de fósforos, de adubação, etc-coloco um pedacinho de bolo.As formiguinhas em breve, descobrem farelos de alguma coisa largada pelo quatro-patinhas...Assisto aos preparativos:procissão ou combate?Desfile militar ou caminhada de pigmeus?A revoada de um beija-flor faz-me erguer os olhos.Ele bebe néctar das corolas das flores rosa-pêssego dos dedinhos-de- diabo, muito crescidas, que catei nuns degraus, mirrados e sujos de poeira...Outro aparece e os escorraça.As lindas e pequenas aves são belicosas, defendem terrítório.
Corto um galhinho de hortelã.Velho cheiro conhecido...Encano um galho quebrado pelo gatinho noturno que não conheço:dois paus-de-fósforo, durex.O sol aparece tímido.Venho escrever...


Abro o PC. Recebo um soneto do João Justiniano.Aliás, eu só soube que era soneto, quando o colei aqui, pois no corpo do e-mail, desconfigurado, conforme muitas vezes ocorre,ele veio longíineo,qual um adolescente quase palavra abaixo de palavra.
Li e achei muito interessante.Claro, tudo que fala de asas (os leitores sabem que asas, água e lua são recorrentes em meus poemas- desde que eu era menina- merece minha atenção.Mas há algo mais:há tempos, por ser psicóloga e também intuir, quais todas as mulheres, as histórias que se somam e subtraem na Internet.

Muitos amores e até paixões surgem.A amizade e a solidariedade florescem.Entre pessoas a quem já jamais se viu, sentiu o cheiro, beijou a mão, a boca, ou segurou nos braços.Muitos fazem amor apenas com a força cabalística da palavra.Com o imaginário alado e criativo.Muitos até se dizem Poetas, embora não o sejam , muitas vezes lançando borrifos sobre uma boa prosa, porque passam a escrever versos.Montadores de vocábulos, rimas,formas.De vez em quando, produzem algo de maior valia.E, no meio da cascata dos Poetas verdadeiros, quem não aprenderia?Mas por que querem falar em versos?Ora, porque a Poesia é a língua dos apaixonados, que sempre buscam inovar-se, recriar-se e recriar o outro.É a língua dos anjos.A dos espiritualistas, dos crentes,dos místicos, dos mágicos e das feiticeiras.O próprio conceito de Deus exige um esforço poético.

E o interessante na Internet, é sua mágica, ou mesmo sua magia:quem explica de onde vem esse poder que se passa a ter? Idade torna-se dado secundário, às vezes, até omitido.( O poeta João Justiniano, abaixo, quando fala de forma universal, generalizada e indireta sobre a relações do sêr- dele próprio também -com o espaço de ser, escreve:"o tempo não me importa, nem a idade".E esse é o grande atrativo do espaço cibernético.Nele, as pessoas são.Gênero,raça, idade, tornam-se fatores secundários num relacionamento).
Profissionais estressados podem se dizer surfistas.Trilheiros podem se informar doutores.Talvez formados pela Vida-Universidade completa.Impotentes podem viver sua maior potência, que é a mental e fazer amor conforme fazem os que sabem.

O imaginário é tão amplo, que é mesmo imensurável:sem limites, sem limitações.
É evidente, se tantos precisam de máscaras e muitas personas, muitas vezes dividido porque deseja multiplicar-se,há os que são, embora impalpáveis no sentido físico, verdadeiros, elas mesmas :pessoas que, muitas vezes, experenciam , pela primeira vez, o direito de expressão.Donas de casa ousam .Velhos provedores de casamentos falidos, abrem outras comportas e passam a suprir-se .E a suprir quem está do lado de lá.E a pessoa que excita,esquece que ...o fruto da excitação será ,provavelmente, usado para a pessoa que dorme ao lado de quem se excitou.Mas sonhar é preciso!

Há uma onda de adultério não caracterizado legalmente, que pode beijar as areias de praias na amorosidade incondicional, mas também podem provocar Tsunamis -e trazê-las qual uma catástrofe.Uma paciente minha queixou-se:"Encontrei o fulano escrevendo um e-mail picante e com uma bruta ereção.Depois, decerto, ia se masturbar.E comigo, sua esposa, do lado".Chorava a ponto de sufocar-se.

Pela telinha, há, na maioria das vezes, a certeza de que pecado não existe.E soltam asas.Alados, voam um até ao outro.E dentro desse enfoque de solidão, já há a traição internética;"Ela ,ele,se correspondia, com o mesmo nick (ou com nicks vários!), com muita gente e eu já estava apaixonado (a) ".Parece gravíssimo, ao traído.Qual uma lésbica cuja companheira engravida de um homem, evidentemente sente-se .Ou seja, a lógica da filosofia de vida dos internautas, é: "lá fora, na vida real, somos assim e assado.Aqui,na virtual, somos um para o outro".Há os que se entregam , qual a uma proficssão de fé.

Todas as pessoas se sentem um pouco donas de seus companheiros.Donde a liberdade a dois é uma necessidade, mas quase um mito.Postegar-se ao outro o ser feliz.Somente a pessoa a quem amo, pode conceder-me a felicidade.e isso, é um engano, um erro cultural antiquíssimo, para quase todos os povos.

Existe uma nova moral, inegável, após o advento da Internet.Se antes as fantasias eram extrapoladas ao traveseiro, no banheiro,inconfessáveis, agora, em frente à telinha," tudo pode".A fantasia atingiu o terreno do possível.

E, notem bem , não falo aqui de atos pornográficos, pedofilia, nada hediondo.Apenas de almas normais e sequiosas de atenção.Apenas o erotismo se desenroscando do ser, onde fôra subjugado por convenções:a serpente Kundalini, dormitava na base da espinha e, em frente ao computador, desenrola-se, sobe pela coluna vertebral do Internauta e até dança ao som da amorosidade que cria músicas hipnóticas vivas e/ou própias.Não a serpente bíblica, que induz ao pecado.Não há pecado abaixo do Equador? Não há pecados na Internet! Pelo menos, não oficialmente.Então, a maioria, transige.O que? Depende do que quer ou pensa ou faz.Ou escreve, claro.

Uma de minhas pacientes me dizia que tomava banho, se vestia e penteava - quiçá, perfumava-se - para falar com o namorado.Pela Internet, entre bytes...O encontro marcado certo.E enquanto o marido bruto dormia.E isso, sem contar que , do outro lado, o "amante" -aquele -que -ama talvez estivesse de cuecas, embriagado, ou precisando de banho.

Muitas vezes, a energia flui de tal forma que muitos atravessam oceanos para conhecerem as musas inspiradoras, as mulheres românticas e sensuais com quem se correspondem.Os homens viris e sedutores.Às vezes, há decepções.Uma de minhas alunas da Oficina de Contos, no CCSB (*),contava-me que um rapaz de família simples, recebeu da correspondente, as passagens, e atravessou o país para conhecê-la.Ela usara recursos de fotoshop e
pareceu-lhe muito mais velha que ele.Se nos e-mails, MSN, ou antes, o ICQ, o rosto é um , ao vivo, poderá ser outro.Restou-lhe apenas a voz dela, a amargura de ter sido ludibriado, despistada com muitos passeios e carinhos.Voltou deprimido,amargurado.

Mas há os que se apresentam quais realmente são.E se apaixonam , se entregam , se buscam.E se casam.Conheço pelo menos três casais muito bem casados, a partir da realidade que buscavam e encontraram.Fugir da mononia.Não obedecer a regras .Libertar-se.Ser.

Daqui a uns tempos, a Lei fará Leis referentes a "trair sem sair de casa', "trair por e-mail", falsidade ideológica essencialmente virtual, etc.Pois assuntos de tais golpes dados em mulheres frágeis, já acontecem fora da telinha.

A a "dura Lex, sed Lex" (**),basear-se-á nas mesmas normas, mas com setas específicas para internautas.E quando se tratar desse tipo de violência contra a mulher, ela será específica :enganada virtualmente.Chantegeada pelo internauta de nick tal...E por aí vai...

Mas, depois desse parênteses, retorno ao soneto de João Justiniano.
Que trata da sensação de paz e liberdade que se experencia em frente ao computador.Da liberdade plena ("aqui,eu sonho e gozo", atesta-se o sonetista).De reviver os tempos da juventude ("o ardor da novidade', "em pleno reverdor").

E nesse redescobrir-se, ele, que no primeiro verso do primeiro quarteto, afirma que o paraíso está dentro de sua própria casa, depois reconhece mais,esse poeta alado :"Sou eu o paraíso".
Adorei, pois ritmo e precisão, João Justiniano nos mostra que a forma mais bela e simples de encontrar a felicidade, é encontrar-se.O paraíso existe e está dentro de nós mesmo!

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Poeta Honoris Causa,pelo Clube Brasileiro de Língua Portuguesa
Diretora Regional do Instituto de Culturas Americanas.
Embaixadora Universal da Paz. O soneto do jovem poeta sem idade ;PARAÍSO
18-01.08
João Justiniano

http://www.joaojustiniano.net/

O paraíso está em minha casa,
aqui à frente - no computador.
Aqui eu sonho e gozo, vivo o amor
e a iluminação que o sonho abrasa.

Aqui, senhora, vem e não se atrasa,
a íntima paz de quem revive o ardor
da mocidade e em pleno reverdor,
e ainda quer voar, que o vôo o apaza.

Sou eu o paraíso. Em febre estala,
arde-me o coração e o sonho embala
como ao filho, no colo, em feriado...

O tempo não me importa, nem a idade.
A vida é simples na felicidade
de ser eu mesmo e ser poeta alado...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

MELHORIAS SOCIAIS - de Carlos Vilarinho




Enquanto discute-se "melhorias" sociais,
Teorias opcionais,
Nas zonais eleitorais,
Eles morrem à beira do cais.


Foto tirada por mim em 05/10/08, dia da eleição para prefeito e vereador em primeiro turno, no Rio Vermelho às 11:30 da manhã, Salvador-Bahia.

ÚTERO DO COSMO- de Edinara Leão

A mulher compõe a alma do universo, é o útero do cosmo, elemento abrigador de novas esperanças. Desde os tempos arquetípicos, o papel da mulher: esposa, sacerdotiza e mãe, sempre esteve bem definido. Criatura-criadora, garante com seu corpo a continuidade da vida. É sua fecundidade que funda as civilizações. Mulher não concebe quando afugentada, recolhe-se a Mãe-Natura e a concepção não se faz.

É a mulher que ampara o homem quando os barcos sucumbem, da mulher partem as palavras de alento no desespero. A Antigüidade nos brinda um exemplo, em uma guerra, a rei inimigo concedeu um desejo às mulheres: o de trazerem nos braços toda riqueza que seus braços pudessem tirar. E assistiu estupefato, saírem do castelo carregando nos braços seus maridos... A mulher exerce seu domínio, algumas pela força do verbo, outras ocultas em seus próprios véus – estas, as mais perigosas, tecem tessituras de malha fina, é um poder que o homem não vê, alguns sequer suspeitam que estão sendo enredados. Pela sabedoria de uma mulher, por sai astúcia velada, mistérios e segredos ou pela honra defraudada, muitos impérios afundaram!

É ela a Anita “com um filho no braço no outro o fuzil”, é ela a Maria, guerreira de todo dia, que cuida a panela, limpa a roupa e o chão, que vai à rua “carregar bandeira”, que administra e gerencia a casa, a empresa, a vida. Danem-se as musas, que emprestaram a beleza de suas faces à poesia, é a vez da guerreira-mulher, que luta por dias melhores, se não para seus filhos, para os filhos de seus filhos, como las Madres de la Plaza de Mayo, como as mulheres cujo luta teve a conseqüência insana de serem queimados seus corpos crus.

Ainda hoje, século XXI, não totalmente livre. Há muitos grilhões sufocando o ser mulher. Escrava da sobrecarga da dupla jornada, dentro e fora do lar, o companheiro chega do trabalho e descansa; a mulher chega e vai preparar o alimento, pendurar a roupa no varal... A mulher nunca pára, e cansada pensa em dormir, mas esquece que o homem a quer fêmea. E a sociedade cobra, se os filhos tornam-se grandes, são os filhos do Sr. Dr. Fulano de Tal, se frustram as expectativas, foi a mãe que não soube criar – amor demais, amor de menos...

E a mulher ainda ousa fazer poesia – que petulância! Em suas pétalas, flor-mulher, está contido o segredo dos tempos, o sacrário da vida, a divinal androginia, a ousadia de amar além do tempo. Felizes as mulheres que navegam rotas de palavras por entre bravios mares, que burlam a escritura masculina, e vão, salpicando versos pelo caminho, transpondo em letras a lama inquieta. Nas palavras, a alquimia se faz, resvalam gotas de encantamento e sedução, como diria Drummond E a mulher que cuida de tudo. Ou nas inusitadas palavras de Adélia:


Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.




EDINARA LEÃO é escritora gaúcha

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

NAMORADOS PERDIDOS- de Carlos Vilarinho

Pressa em baixo ventre,
Fumegam e arfam,
Os lábios entre as pernas.
Um coito infante.

Nada que julgues
O desmantelado amor e capricho seguinte.
Nada sem razão pertinaz.
Cinzenta paixão pedinte.

Aaah, esse amor de imagem!
Singelo e doce como pudim.
Profunda alcova e vertigem.

Letras implacáveis de amor.
Em encruzilhadas de silêncio,
Remanso na sombra da dor.

Carlos Vilarinho 16/06/08

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

SORRELFA - de Carlos Vilarinho

É um bom nome para essa crônica. Define e homenageia, ao mesmo tempo, o cerne do texto. Educação. Arauto do candidato Cristovam Buarque, aliás, com um pouco de tempero carismático e aguerrimento político, valeria a pena dar-lhe uma chance. O candidato de uma nota só, como dizem.

Nos últimos anos tem virado palavra chave na boca dos políticos. Sobretudo na hora de apresentar plataformas na televisão. Seria trágico se não fosse cômico. Cabe também mudar a ordem dos predicativos na frase anterior. Tanto faz. Cômico é assistir a cara deslavada do candidato se contorcendo no pseudologismo, clamando, implorando, convocando, numa expressão dolorida, a participação da sociedade para salvar a educação no Brasil. Não sei até onde a sociedade participou na condução ao caos educativo. Antes era um sistema rígido e autoritário. Agora é uma atmosfera individual e libertadora, democrática. Há uma confusão proposital no meio disso tudo. Nunca saberemos, cidadãos como eu, comum, quando quem estiver no poder, quer ou não instruir a sua população. Se queres, por que não incita, estimula o profissional que cabe essa função? Paga-lhe bem, facilita-lhe livros, promove-lhe pesquisas. A confusão proposital começa a ganhar forças nesse sentido. Pois se vê escolas paramentadas, cheias de livros, computadores, material didático novo e moderno. Contudo esses paramentos ficam guardados e trancados nos armários velhos e obsoletos das instituições. Instituições públicas. Em contrapartida não se sabe até que ponto pode-se dizer do ensino (ou comércio) da rede particular de ensino. De forma diferente, mas com o mesmo teor, o docente é tratado nessas instituições. Além de não receber bem o suficiente, ele é tratado sob pressão. Há casos de chantagem e coação, conseqüentemente de constrangimento do profissional. Lembrando a alusão de tragédia e comédia feita no início do parágrafo. Essa é a parte trágica.

Ao professor, protagonista shakespeariano. Cômico, trágico e dramático. Talvez sonhando numa noite de verão. Deveria formar-se por si mesmo e contagiar os colegas de uma formação madura, perene para uma atitude interrogativa e investigativa (eu hein!). Não somente em sala com seus alunos, o que é importantíssimo e um dos objetivos fundamentais para difundir e partilhar o saber. Mas nos corredores e, sobretudo nos escritórios. Longe da sorrelfa assolada no país a fora, é também importante a mentalidade e sabedoria dos professores em aprender com seu aluno. Os fatos são os fatos. Uma hora ele aprenderá, mas o processo de aprendizagem, de interagem é fundamental. Como Merlin no poema de Tennyson “IDÍLIO DE UM REI” o mestre mostra e modifica os signos e o lema do aluno. Um jardineiro regando uma planta. Em vez da glorificação da fama, está em voga o uso que se faz do aprendizado.

Mas com tudo isso, o mestre merece sentir-se abraçado, homenageado. Portanto, parabéns aos professores. Heróis, construtores do pensamento e da sabedoria...

Carlos Vilarinho 08/10/2006