sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

PRECISAMOS CONSTRUIR UM NOVO ATLAS- de Jackson Vasconcelos

O Fábio Gomes é Diretor-Proprietário do Instituto Informa de Pesquisas. Um craque! É alguém que vale a pena conhecer. Eu o trago para nossa conversa de hoje, em razão de uma indicação de leitura que me fez ele: “O Atlas da Exclusão Social no Brasil”, coletânea organizada em cinco volumes pelos economistas Márcio Pochmann, hoje presidente do IPEA e Ricardo Amorim, autor de outro livro “Classe Média, Desenvolvimento e Crise”, de também aconselhável leitura.


O primeiro volume da obra alinha os mais de cinco mil municípios brasileiros, do menos excludente para o mais excludente. Lá está demonstrado que 41,6% das cidades do Brasil apresentam os piores resultados e quase todas elas estão localizadas nas regiões Norte e Nordeste.


Na introdução ao ranking os organizadores da obra afirmam que é inevitável a sensação de urgência no enfrentamento de questões tão antigas, quanto contemporâneas. Estão certos! Dizem também que “para alterar a configuração geo-econômica do Brasil é preciso enfrentar e eliminar velhas práticas políticas e implementar ações sociais que resgatem a cidadania da população excluída, dando-lhe as condições para sua emancipação econômica”. Mais do que certos, se a inserção social não for tão simplesmente um resultado da emancipação econômica. Os educacionistas acreditam que não é. E, estão certos.


A educação não é um processo de mero acúmulo de informações e de leituras e, por isso, não se pode dizer que os economicamente emancipados estão definitivamente educados, porque a educação é mais do que isso e insere virtudes morais.


Educação é o processo de desenvolvimento físico, moral e intelectual de uma pessoa, de um grupo, de um povo. Um conceito que autorizou a edificação da palavra “educacionismo”, com todo o peso que tem o verbo edificar. O formulador é o Senador Cristovam Buarque, que tem a preocupação permanente de ampliar o conceito de desenvolvimento a partir da ampliação do conceito de educação. “O educacionismo”, diz ele, “é mais do que um programa educacional, é uma ideologia que centra o progresso e a utopia em uma revolução pela educação. Na visão tradicional, a educação é um serviço; no educacionismo, é um instrumento de construção e transformação social: é o vetor civilizatório”.


Cristovam, portanto, insere virtude moral no conceito exclusivamente operacional que tem, para os governos e para muita gente, a educação.


Neste contexto, surgem os exemplos de virtude moral oferecidos pela mãe Brandila e pelo avô Daniel Manoel da Silva, a um povo, que deles tem muita carência. Brandila e Daniel, o são sem o saber, educacionistas, apesar de possuírem pouca formação tradicional.


Dona Brandila é mãe de Rogério Longen, indivíduo que foi flagrado no roubo de donativos destinados às vítimas das calamidades catarinenses. O gesto do filho lhe causou vergonha e a sua vergonha produziu a frase. “Foi esse o filho que criei?”


O avô Daniel Manoel da Silva perdeu, no mesmo instante, quatro netos e um filho em razão das enchentes. Recebeu alguns donativos e entre eles lhe veio um casaco de pele, que trouxe, num dos bolsos, por esquecimento do primeiro proprietário, R$ 20.000,00. Daniel, imediatamente, os devolveu ao dono que ele não conhece. Com a devolução, seguiu a frase “Não é certo usar o que não é seu”, que sintetiza, talvez sem a intenção do autor, os motivos que empobrecem em dinheiro e virtude, todo o povo Brasileiro.


Os exemplos produzidos por Dona Brandila e seu Daniel me fizeram perceber que nos falta um “Atlas” de inserção moral, que, por enquanto seria um trabalho de poucas páginas, situação que os resultados do educacionismo poderia transformar para encher muitas estantes.

Jackson Vasconcelos é cronista político desse blog.

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