domingo, 1 de fevereiro de 2009

CORES- de Nelson Maca

- Poema dedicado totalmente à Negra Íris*,
Parceirinha 100% e talento nato.
Vocês irão ouvir falar muito dela!!



Entre escárnios
Já fui chamado negro sujo
Entre afagos
Já disseram que não sou tão preto

Que sou mestiço, escuro, cor de azeitona, acobreado
As dezenas de palavras que me apagam

Eu sou breu da cor da noite
Eu sou piche da cor do asfalto

Entre escárnios
Já fui chamado branca de neve
Entre afagos
Já disseram que sou um deus negro

Que sou marrom, cor de café, achocolatado
Todas as cores que contornam os limites

Eu sou noite ébano azeviche
Eu sou lápis risco preto sou grafite

Entre escárnios
Já fui chamado de negão
Entre afagos
Já disseram que a minha alma é branca

Cores do racismo do escravismo e do degredo
Da inegável negação que me revestem

Eu sou carvão, pano de guarda-chuva
Ausência das cores que não me fazem sentido

Entre escárnios
Já fui chamado africano
Entre afagos
Já disseram que sou um belo cabo verde



:: Poema do livro Gramática da Ira,
orgulhosamente na gaveta!
-

Nelson Maca / Blackitude B.a

3 comentários:

Mayrant Gallo disse...

Um ótimo poema. Me agradou o fato de que o Nelson (que foi meu colega do curso de Letras na UFBA) "examinou" o assunto (tão doloroso) sem ser panfletário. Ou seja, fez poesia, como o grande poeta negro americano Countee Cullen (1903-1946). Congratulações ao Nelson pelo poema e ao Carlos pela publicação do mesmo aqui.

Anônimo disse...

Carlos,
vim visitar o blog e me depatrei com meu poema aqui. Obrigado pelo espaço dedicado à minha poesia. Também gratificante o fato de ler este comentário do Mayrant, colega de curso, parceiro de literatura, amigo e um escritor de fato.

Obrigado aos dois!

Nelson Maca - Blackitude.Ba

Anônimo disse...

Poema que revela despojamento e estilística moderna. Um trabalho belíssimo de metáforas e sinestesias. O apelo aos sentidos e a definição do ser pela cor é o paradoxo gerado pelo "Eu-lírico" para questionar o preconceito e a submissão cultural da raça.

Ao presente os meus mais sinceros parabéns. Conciso e claro, ouço o grito e me movo com sua alegria de se poetizar a raça.