sexta-feira, 18 de abril de 2008

EXPRESSÕES



Duas expressões chamaram a minha atenção nos últimos dias. Elas estão no corpo do texto “O VERMELHO E O NEGRO” de Sthendal. São elas: cegueira mental e asfixia moral. Essas quatro palavras divididas, como já disse, em duas expressões, entraram em mim e deixaram-me em sobreaviso incômodo. Tenho renintentemente parado para pensar nessas unidades mínimas que contém livres enunciados. Assim mesmo no plural. Conheci ao longo da vida em até agora minha curta existência pessoas, diga-se, e infelizmente, muitas pessoas, que cada uma a seu modo e estilo que sofrem paulatinamente numa evidência latente e manifestante do poder espiritual dessas duas expressões. Pondo-as em prática e fazendo sempre jogo de sedução e interesses para quem unicamente lhes interessa. Interesse não cego e amoral de matérias e valores afins. Cegando-se e asfixiando-se muitas vezes para aquele que está e sempre esteve mais perto com afeto e amor verdadeiro para doar. Não somente eu, mas alguns poucos ainda não cegos e/ou não asfixiados que conseguem ler, interpretar ou prever o que é comum e o que é criativo. O que está explícito e o que está oculto. E por aí vai. Só para exemplificar como o meu pensamento ficou em ebulição após o conhecimento efervescente dos tais enunciados. Talvez, para sair da seara que está ao redor e numa visão mais ampla e geral, sejam dessas pestes lexicais que sofram os governantes e homens do poder do mundo inteiro. Isso contaminou a humanidade.
Durante uma conversa informal com um amigo, dizia-me ele que não sabia situar a humanidade nos dias de hoje, contemporaneamente. Disse-me ainda que talvez estivéssemos como na idade média em que a obscuridade e o abuso de poder eram latentes e iminentes a cada momento. Não sei. Há no mínimo um paradoxo, ou multisignificados, na questão da obscuridade. Inversões no sentido obscuro, pois todo o globo terrestre é muito bem iluminado. Por outro lado as tramas urdidas na política, nos esportes, nas comunidades em geral e até domésticas, todas elas no esconso da luz, por debaixo do pano ou por trás dos bastidores, como queiram, e para sobrepor o outro em baixo do chinelo ou do mocassim, levam-nos de volta à era medieval, sem dúvida. A humanidade está contaminada, sim. Sem poder de refletir, aliás com poder de decidir, mas com uma indolência pachorrenta na reflexão que para livrar-se e justificar-se em seguida é acometida de um prurido que só alivia quando, sem mais nem menos, renuncia a sua voz, o seu desejo e tornar-se cego mentalmente. Subvertendo-se à vontade e conseqüentemente ao poder do mocassim, ou do chinelo, que sufoca e esfola sua garganta.
Como dizem por aí, e eu sou um dos que compartilho de tais dizeres. Quiçá crença, ou tese, astrológica e científica. Que o mundo dá voltas e tudo se repetirá. Se realmente for dessa forma, espero que numa nova volta do universo, Platão tenha êxito em Siracusa e consiga imprimir a ética entre os governantes. Fazendo-os raciocinar e ao mesmo tempo sem perder a emoção e a ternura distribuir conhecimento e cultura, sem a usura dos sofistas. Educação gratuita para acender a mente. Isso nem de longe se vislumbra nos dias de hoje, século XXI. Por aqui e em qualquer outra parte do globo terrestre. Contudo a história da humanidade já nos mostra o vício ditatorial, desde aquelas eras ninguém queria saber de ser justo, ou pensar diferente para criar um mundo melhor. Mas mesmo assim as coisas foram mudando. Mesmo que fossem mudanças a partir das camadas abastadas, da burguesia, do clero e enfim da alta sociedade. Mudanças que chegavam ao proletariado e ainda chegam. Mesmo que como aparências e não como verdades. Desconfio de maneira visceral que essa última sentença escrita aí atrás seja o real lema de todos que detêm o poder, sobretudo e principalmente daqueles muito religiosos. O problema é a acomodação mental dos , digamos, pouco favorecidos e a convicção plena e exagerada destes mesmos, nas palavras deturpadas que um dia o mestre falou, nas expressões criadas para amedrontar e cegar mentalmente, na misericórdia e caridade de araque daqueles que os detestam. Como dizia Cazuza em uma das suas geniais metáforas e expressões. Uma asfixia moral e autoritária da sociedade que está por cima da carne seca...
Se Sthendal já observava uma cegueira mental e asfixia moral em Paris do século XIX, o que dizer então das nossas margens plácidas...





Carlos Vilarinho 26/02/07

Um comentário:

Letícia Losekann Coelho disse...

Tudo é tão virado Vilarinho, que moral principalmente nesse País não tem mais o sentido que deveria! Com a "modernidade das ações" muitas palavras ganharam sentidos deturpados e uma delas é a moral!
beijos