quinta-feira, 13 de março de 2008

A RESTITUIÇÃO DOS ZACHEUS

UM DOS PREMIADOS. A POLÍTICA NÃO MUDA NUNCA.

A RESTITUIÇÃO DOS ZACHEUS

Acredito que Zacheu não teria vez nos dias de hoje. Como citado foi em sermão pelo genial Padre Vieira, Zacheu só achara a salvação se restituísse toda a sua riqueza ilícita, roubada. Ladrão rico não colocava seu pescoço na forca, contudo não sairia salvo na lei de Deus. Imagino que Zacheu fosse tão crédulo que restituiu a riqueza, esperando sua salvação ao juízo final.
Para fortalecer minhas palavras na primeira oração do texto, onde Zacheu não teria vez nos dias de hoje, digo-lhes que a palavra de Cristo na contemporaneidade é usada, na maioria das vezes, justamente para usurpar, iludir e muitas vezes disfarçar, não para restituir. Procuremos essa razão dentre os deputados eleitos pela crendice popular e achemos, não muito longe do agosto em que vivemos, banditismo, cassações e renúncias de mandatos no planalto que envolviam evangélicos, cristãos, católicos e todo e qualquer tipo de monastério. Ou não, insistindo em fazer justiça para quem não merece. Ora, se nem Cristo está conseguindo que o roubo seja restituído, se nem Cristo tem essa moral toda, imaginemos então a nossa abjeta indignação. Daqui a pouco seremos novamente protagonistas de mais uma mixórdia eleitoreira. Mixórdia nos três sentidos do substantivo: mistura desordenada de coisas afins ou não; confusão ou embrulhada e, por último, comida ou bebida repugnante.
Mistura desordenada de coisas afins ou não e confusão ou embrulhada por si só se completam. São sinonímias bem próximas. O que se sabe, entretanto é que no meio da balbúrdia e da barafunda há o desejo, voluptuoso em alguns casos, pelo poder. A sede e a fome daqueles que se refestelam, por sinal há até quem dance no congresso, no banquete dos ímpios em prol do crescimento do próprio bolso. Aí é que entra a repugnância, a fartura para poucos e a escassez para muitos,e isso nunca vai acabar. Uma pena, pelo menos ao que se trata São Tomás de Aquino com suas três leis da política. A natural, a humana e por último a divina. São Tomás não devia acreditar tanto no homem político, digo o homem que faz e vive de política, pois dessa forma não teria tantas dúvidas a respeito da essência e da existência. Logo ela, a essência biltre do homem sem consciência que se promove em cima do jugo do necessitado. O necessitado de uma ambulância, de um salário digno, não necessariamente um mensalão, mas um salário para comer e beber sem repugnância e fartura, mas com o satisfatório. O necessitado de um livro de matemática para acalentar o sonho de um pequenino engenheiro, quem sabe...
Daqui a pouco estaremos na fila esperando a restituição dos Zacheus. Restituir não pela moral, mas por carecer.
O estranho é que depois de tanto sofrimento o povo ainda vê a fresta de esperança...

Crônica premiada em outubro de 2006 pelo Conselho comunitário de São Paulo-PRÊMIO - CLÉBER ONIAS GUIMARÃES.

Carlos Vilarinho, agosto de 2006.
c.vilarinho@yahoo.com.br

Nenhum comentário: