quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008


O SEGREDO DO UNIVERSO

Sem ondas de rádio, televisão e muito menos Internet, Platão há mais de dois mil anos já desconfiava do universo paralelo. Em sua astrologia judiciária, Platão muito provavelmente acreditava que depois que todos os planetas completassem seus ciclos e voltassem ao ponto de partida para então recomeçarem a rodar, influenciariam diretamente na história e na vida das pessoas na terra. Há no mínimo essa suposição e conjetura em “TIMEU”. Livro de natureza cosmogônica. Dessa forma tudo que ocorrera desde Atenas antiga, talvez antes até, ao ano em que os planetas encerassem seus ciclos, tudo voltaria a acontecer. Idênticos ou não, mas voltariam.
Isso seria intrigante para todo mundo, sobretudo para quem lê muito e vive banhado de dúvidas ao longo da existência própria. Mas não é só isso. O Eterno Retorno de Nietzsche fala de forças que retomarão seus lugares em face da finitude de variações que se apresentam em, digamos, sua rota biossintética, ou em seus ciclos moleculares. Nietzsche também achava que sempre houvera algo secreto no tempo do universo e que é fatal o retorno para a vida que se vive ou que já se viveu. Isso sem falar que Zaratrusta já pregava em seus sermões o além-homem que surgiria depois da morte do próprio homem. Morrer para renovar. Um e outro, Platão e Nitzsche, sem querer tomar partido ou comprar cegamente qualquer uma das teses, foram homens com visão de mundo muito além do eu de cada um deles. Outro viés sobre o tempo circular, é negar em sua plenitude o passado e o futuro. Como Schopenhauer, comemorar “a forma de aparecimento da vontade é só o presente”. O fato de ter sido bebê, ter vivido uma adolescência conturbada ou ter passado por uma desilusão amorosa quando jovem adulto, não significa efetivamente que tudo isso foi o passado de quem quer que seja. Como também planejar o futuro, sua casa própria, seu carro e os filhos na faculdade. Tudo isso poderá ocorrer sem planejamento prévio, se já for ocorrido em outro ciclo ou dimensão e desde que siga seu caminho sempre fazendo ou tentando fazer o melhor. São os “tempos passados”. Tomemos por “tempos passados” outras vidas já vividas. Ou melhor, a mesma vida já vivida quando ao término do ciclo planetário de Platão, por exemplo. Ou pelas forças e repetições dos átomos, assim falou Zaratrusta. Ou, porque não, ciclos de vidas anelares em torno do planeta formando tempos distintos de cada um de nós, teoria do cronista que vos escreve.
Por enquanto nada de teorias espíritas e/ou religiosas. Mas como ficaria então a teologia católico-cristã de Adão e Eva que comeram o fruto proibido? Mito que designa a tentação e o saber. Mitos são para transformar consciências, história fictícias com fundo moralista. Esse daí mesmo foi criado pela religião para amedrontar o homem. Ou, e a negação do Eclesiastes de toda e qualquer novidade do mundo? Aí provavelmente não seja mito. Ou até mesmo os reconfortantes salmos? Genialidade humana na criação da palavra.
Penso que tudo se encaixa devidamente. Desde os ciclos planetários, passando pelo Eterno Retorno e seu arauto Zaratrusta, presente, passado e futuro, Schopenhauer, entre tantas as teses do tempo e do universo. Talvez seja assustador, entretanto será consolador e revigorante. A existência de uma vida (ou de todas as vidas) no mundo parece(m) realmente repetir-se. Muito se assemelha com filmes de ficção científica em que o cientista fica preso na roda do tempo repetindo tudo que já havia feito ou passado. No filme ele tenta consertar sempre aquilo que deu errado em sua vida e conseqüentemente na dos outros. Pode-se inclusive sustentar Darwin e suas evoluções através do tempo. Pode-se inclusive prestar atenção na evolução tecnológica. Pode-se inclusive lembrar o psicanalista Carl Jung e seu inconsciente coletivo. Pode-se, como fez Borges em seu “O TEMPO CIRCULAR”, lembrar as reflexões de Marco Aurélio quando diz “Quem viu o presente viu todas as coisas: as que aconteceram no passado insondável, as que acontecerão no futuro”. Ao que tudo indica, o segredo do universo é tão simples e ao mesmo tempo atemorizante que fica ou acrescenta-se mais uma dúvida no espaço cósmico. Einstein, por exemplo, vivia no mundo da lua em conjecturas univérsicas. Sabe-se que o cientista passava horas lendo as histórias de Platão sobre imortalidade a um parente enfermo. Ele era um gênio intuitivo com um talento analítico. Provavelmente foi quem mais tenha chegado perto do verdadeiro e real enigma do universo.
Retornando à teologia católico-cristã. Cristo voltará (talvez até já tenha voltado ao longo dos ciclos em outra pele) e provavelmente usará as mesmas palavras ou no mínimo algumas parecidas. Os santos, orixás, guerreiros e outras culturas, podem ser encaradas como simples crendices ou como pessoas que sofreram. E aí se coloca o sofrimento como um, digamos, atalho para a sabedoria divina. Ao chegarem a tal estágio de sofrimento e de conseqüente sabedoria, transcendem e, de novo a tese cristã, tornam-se luz no universo. Esses que viraram luz são os anjos da guarda que protegem os seus na terra. E os demônios, de acordo também com a tese religiosa, esses são os malvados e perversos que ao encerrarem seus ciclos, diga-se morrerem, não se arrependem no último minuto e negam as indulgências misericordiosas. Dessa forma são formados guetos do mal trabalhando invisivelmente para atazanar a vida dos seus desafetos. Ou não, a vida de qualquer um. O que eles querem mesmo é ver a desgraça alheia. Esses talvez voltem ou não, provavelmente há um julgamento no universo. Pessoalmente gostaria que esses diabos sucumbissem num gigantesco buraco negro. Como o homem foi o mais inteligente dos animais e por isso evoluiu através do tempo, ele criou um mecanismo de defesa infalível. A palavra, como já dito lá em cima. Desde então, entoando cânticos xamânicos, mantras e salmos eles acreditam que afastam esses demônios ou maus espíritos, como queiram. O léxico como arma da inteligência unido à fé que remove montanhas. Certo, ninguém desdenha que a palavra tem lá sua força, e ao que parece tem mesmo, mas para terminar, há no mínimo uma dúvida altamente intrigante e maior do que todas as outras. Se assim for realmente, então as indulgências misericordiosas, que falei acima no parágrafo, são fornecidas pelo universo em harmonia para todo ser humano, onde então estaria Deus? Será que ele está atrás de nossas próprias representações, como supôs Jung?
O fato é que a vida parece ser constituída de ciclos intermináveis. Termina e recomeça. Agora, não há como precisar quando um ou outro nascerá novamente. Isso é outro segredo do universo.


Carlos Vilarinho 3/12/2006

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