sábado, 12 de julho de 2008

A FÚRIA DE NOZINHO BOMBADO- de Heitor Brasileiro Filho

Nozinho Bombado estava inconformado. O bravo Nozinho é ex-lutador de jiu-jitsu, ex-boxer, mas marombeiro atuante, ex-caucaicultor e de família quatrocentona, contudo, atualmente, desempregado e respondendo a dezoito processos por vários delitos somente na Comarca de Ilhéus, a maioria deles por lesões corporais. Não se conteve ante a provação. Estava inconformado.
Com o Estatuto do Menor e do Adolescente ao alcance da mão, o delegado Dudu Sempre Alerta questiona o estado de desconstrução em que ficou Fabinho Cara Dura, que, a bem da verdade, não pode ser chamado de desocupado, porque acumula os cargos de arruaceiro, avião do tráfico, ladrão e alcagüete da polícia. O delegado pede uma explicação a Nozinho pra razão de tanta violência, já que a cara dura de Fabinho acabou ficando pelo avesso.
Declaração de Nozinho, que também está sendo analisada por uma comissão de Justiça e Direitos Humanos:
“Doutor Dudu, esse descarado me chamou de maconheiro em plena Marquês de Paranaguá, às 11 horas da manhã. E isso eu não tolero.
Ora, eu estive em Woodstock e não trisquei num baseado nem pra fazer média com as cocotas. Estive em Arembebe, botei várias rodadas de uísque, ácido e pó, e não peguei uma ponta nem para agradar a Janis Joplin.
Quando voltei de Amsterdã trouxe na mala duzentas cartelas de ecstasy e distribui pra minha galera em Londres, sem cobrar um tostão. E ele me chama de maconheiro, doutor. Isso eu não admito. Maconha é coisa de relento. Logo eu, que já cheirei três apartamentos no Rio de Janeiro. Cheirei uma casa no Horto e dois apartamentos no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Cheirei uma casa no centro de Porto Seguro e dezoito fazendas na região cacaueira. E não cheirei essa casinha que agente mora porque o pessoal lá de casa me mandou pra Clínica Cachoeira, em Itabuna.
E esse desclassificado me faz uma desfeita dessas... Tenho sangue de coronel correndo nas veias e não aceito desaforo de biribano. Pois então, lhe digo e reafirmo, ninguém ofende um Nozinho desse jeito e fica na impunidade. Ninguém!”
Nozinho e Fabinho agora dividem o mesmo espaço luxuoso do Presídio de Ilhéus. Embora em celas diferentes, mas em igualdade de condições, atualmente gozam os mimos dos anfitriões daquela casa de correção.




Heitor Brasileiro Fº


(Heitor Brasileiro Filho é poeta,
crhonesto & friccionisto –
ex-tenso,
ex-es-tático
& ex-tinto)

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